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Comportamento

Ramadã quebra a rotina em lojas de muçulmanos no Centro de Campo Grande

Ângela Kempfer | 06/08/2013 06:18
Para os empresários muçulmanos, fim de tarde é a hora de quebrar o jejum depois de um dia sem comida.
Para os empresários muçulmanos, fim de tarde é a hora de quebrar o jejum depois de um dia sem comida.

Ao procurar o dono da loja na rua 14 de Julho, quase esquina com a Cândido Mariano, a funcionária pede para voltar depois. “É tempo do Ramadã, então ele descansa durante o dia”, explica a mulher sobre época de jejum dos muçulmanos.
Desde o dia 9 de julho e até a amanhã, a adoração islâmica exige ficar sem comer do nascer do sol até o momento em que ele se põe.

Como o comércio tradicional no Centro de Campo Grande é feito por famílias de origem árabe, é um período de mudança na rotina. “Eles acordam cedo, 4 horas da manhã para comer, então durante o dia bate o sono, né”, continua a vendedora.

Mas não é só isso. Durante o mês do Ramadã, uma hora antes de fecharem as portas das lojas, os mulçumanos se encontram para comer juntos. O profeta Maomé recomendou quebrar os jejuns com encontros e assim eles fazem.

Na loja do libanês Armando Salem Ali, às 17h20 a mesa é posta com tâmaras secas e algumas frutas frescas da estação, como manga e morangos. Também há um iogurte salgado, misturado com um pouco de água, para reidratar, já que nem beber é permitido a quem leva os ensinamento ao pé da letra.

Armando veio há mais de 20 anos visitar a família em Campo Grande e nunca mais partiu. Foi o último dos 4 irmãos a fixar endereço aqui. De sotaque forte e sorriso persistente, ele conta que nos países de maioria mulçumana, em época de jejum o comércio funciona com carga horária menor, cerca de 5 horas diárias. Seguir as regras de tão longe, tem desvantagem. “Aqui trabalhamos o mesmo que em dias normais, usamos o mesmo esforço, mas sem nos alimentarmos. É difícil”, comenta.

Ramadã quebra a rotina em lojas de muçulmanos no Centro de Campo Grande

O irmão, Mohamed Salem Ali, de 45 anos, mora no Brasil há 25 anos. Ele era pedreiro no Líbano e para não continuar como empregado, resolveu tentar a sorte no Brasil.

De funcionário, passou a ser patrão, com a loja de enxovais infantis também na 14 de Julho. Para ele, a dificuldade na época santa fica evidente na hora de atender as pessoas. “Nós cansamos mais fácil, então o atendimento fica prejudicado”.

Mohamed Rakan, de 41 anos, veio da Síria para o Brasil há mais tempo, lá se vão 28 anos. Dono de loja de roupas no Centro, o comerciante é um dos amigos a quebrar o jejum ao lado de Armando e Mohamed Salem. “Com o jejum nos aproximamos de Deus, temos mais temor a ele. Aprendemos o autocontrole e sentimos na pele a fome dos necessitados”, comenta.

É uma hora para lá de esperada, principalmente, para matar a vontade de tomar água e o cafezinho. “Ando o dia todo, então sinto muita sede, a sorte foi o frio que fez no inverno”, comemora.

Como só as crianças pequenas são poupadas, quando a puberdade vem, o Ramadã entra no calendário dos adolescentes. A estudante Nur Akaro faz o jejum desde os 13 anos e tem de enfrentar algumas tentações mais fortes, principalmente, no recreio da escola. “Vejo os meus colegas lanchando e tenho vontade. Também tenho de usar o lenço na cabeça e, com o calor, sinto muita sede”.

Mas depois que o sol vai embora, a recompensa surge em doses graúdas. Depois do lanchinho da loja, Armando chega em casa para um jantar de rei. “Ontem comi torta de palmito, tabule, ensopado e carne assada. Tem vezes também que frito até um ovo quando acordo”, revela o homem que pula da cama ás 4h para poder comer antes do sol surgir.
A regra também é abstinência sexual e evitar intenções e desejos malignos durante o mês sagrado. Mas apesar do jejum parecer tão severo, nos últimos anos seguir as regras tem sido mais fácil.

“É que seguimos o calendário lunar, então o Ramadã muda de época e só acontece no mesmo dia a cada 33 anos. Quando cai em dezembro é muito pior. O dia é mais longo e o sol só vai embora lá pelas 8h”, explica Armando.

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