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Comportamento

Sem irmãos, Natacha teve 2° bebê para que filhos tivessem um ao outro

Ir para o segundo filho é uma dúvida angustiante de muitas famílias: passar por tudo de novo? Aqui Natacha faz seu relato como mãe

Paula Maciulevicius Brasil | 31/05/2020 09:30
Natacha é médica, e na imagem está com Heitor à espera de Davi. (Foto: Arquivo Pessoal)
Natacha é médica, e na imagem está com Heitor à espera de Davi. (Foto: Arquivo Pessoal)

A formação em Medicina e a especialização em pediatria ficam em segundo plano quando Natacha trata de falar sobre a própria experiência. Mais mãe do que médica em muitos momentos, é a maternidade que aflora no consultório ao receber os mini-pacientes. Por isso que hoje a gente quis escrever aqui o ponto de vista dela, que da solidão vivida, queria dar aos filhos uma cumplicidade única: a de se ter irmãos. Ir para o segundo filho é uma dúvida muito cruel para algumas famílias. Passar por tudo aquilo de novo, de ter um recém-nascido, lidar com o puerpério, dividir a atenção, e mais: achar que não é possível amar tanto um outro ser.

Aqui em casa, quando o primeiro bebê tinha seis meses, o teste deu positivo. Não foi uma gravidez esperada, nem muito amada de início, mas a cena de vê-los juntos pela primeira vez me explicou o que já tinha ouvido: o amor quando se divide, se multiplica. E a gente nunca mais se imagina sendo mãe de um só. Um é a minha vida, a outra, meu coração

Para quem está no meio do furacão, pode ser impossível pensar que alguém desejaria passar pelos três primeiros meses de novo. Outro puerpério? Acredito eu que nem saí do primeiro e emendei no segundo. Cada família tem seu motivo, seus desejos e medos, mas ouvir de quem a gente considera tanto como um pediatra, faz rever pensamentos e planos.

"Médica, trabalhando muito, com um filho de 1 ano. Planejei ter mais um? Confesso para você que fui para o sacrifício. Eu não tinha esquecido nada ainda, nadinha... As noites sem dormir, a vontade de fugir, a culpa materna, a perda da independência de fazer cocô em paz. Sou filha única, e de verdade? Odeio", disse dia desses a pediatra Natacha Dalcomo Castilhos.

Eu tenho irmãs, e apesar da diferença de idade entre nós, a gente se ama e se alfineta o tempo todo. Nunca pensei como seria se não tivesse alguém para dividir seja o que for.

"Vocês podem pensar que tem irmão que não se dão bem, ou que são distantes, mas pelo menos vocês têm. Eu passei uma vida desejando, olhando para as minhas amigas com irmão e as invejando", conta a mãe.

Se a solidão já era uma na infância, na vida adulta ela chegou com os dois pés na porta. "Meu pai faleceu há dois anos, e a solidão que eu previ, aconteceu. Eu não tinha irmão para dividir a dor e as responsabilidades, o luto. E o pior ainda está por vir, quando a minha mãe falecer, eu não terei mais ninguém, meu Deus, que demore mil anos", clama.

Do lado do esposo, viu tudo ser tão diferente. O sogro também partiu, a sogra se foi há pouco mais de 1 ano. "Vi que só tinham duas pessoas que podiam amparar e dividir o sentimento com meu marido: os irmãos dele. Agora eles são "sozinhos", digo: sem os pais, mas tem um ao outro", descreve.

O primeiro encontro dos dois irmãos. (Foto: Arquivo Pessoal)
O primeiro encontro dos dois irmãos. (Foto: Arquivo Pessoal)

E foi movida por este sentimento, de ter com quem contar, que Natacha encarou a maternidade pela segunda vez, e chorando. "Não queria começar tudo de novo, não estava preparada. Eu não gostei da vida que ganhei com a maternidade, mas fui para o sacrifício. Antes eu sofrer do que meu filho. E a gente tem tanto isso quando eles estão doentes, não é? 'Deus, passa pra mim esse sofrimento dele'. Então é a hora de eu provar mesmo que queria isso".

O tempo também é determinante. Quem não "emenda" um no outro, corre o risco de desanimar. Claro, se já desmamou e desfraldou, vai querer viver tudo de novo? "E eu sabia que se esperasse muito, desanimaria. É muito difícil recomeçar quando se ganha liberdade, então, eu fui antes que voltasse a tê-la novamente", admite.

Quando Heitor, o mais velho, tinha 1 ano, a médica engravidou de novo. O resultado foi: ter dois bebês em casa, um recém-nascido e outro de 1 ano e 9 meses que não falava, usava fralda, chupeta e mamadeira.

É difícil, mas (e por experiência própria aqui, a segunda maternidade é mais leve) confesso que no segundo, a gente já sabe o que nos espera. Não me senti tão triste, sabia que ia passar. Não romantizei a maternidade, e surpreendentemente foi bem melhor. Eu estava mais calma e segura", compartilha.

A ruptura de uma vida sem filhos é muito brusca com a chegada do primeiro bebê, mas o segundo, meio que a gente já está no embalo. A experiência fala mais alto, e com uma mãe com mais segurança no que fazer perante o choro, um bebê fica mais calmo.

"Eles têm 5 anos e 11 meses, e 4 anos e 2 meses. O tempo passou, meu coração acalmou. Já está ficando bem menos trabalhoso, o amor chegou na sua plenitude, e eu até já consegui voltar a ver séries", comemora a vitória.

"Mas eu não esqueço nadinha. Eu não os amei de cara. No início era só instinto, eu tinha que cuidar, mas não me arrependo. Fiz a minha parte: dei o que eu podia dar de melhor para o meu filho, um irmão", acredita.

Davi e Heitor: eles se vestem igual porque querem, viu? (Foto: Arquivo Pessoal)
Davi e Heitor: eles se vestem igual porque querem, viu? (Foto: Arquivo Pessoal)

Hoje o sentimento está mais forte do que nunca, na quarentena, Heitor e Davi têm um ao outro, quando não se tem mais escola, nem saídas, nem amigos em casa. "Eles se fazem companhia, brincam o dia inteirinho juntos, brigam, se apoiam, se amam".

O texto acima não é para convencer ninguém a partir para o segundo filho, mas mostrar o lado de quem preferiu uma família de quatro pessoas. A Natacha estreou ontem uma novidade, o site: www.sobrevivendoamaternidade.com.br que vai contar mais relatos como estes. Sabe quando eu falo para vocês mandarem e-mail, mas eu não consigo responder? Então, nesta plataforma a interação com outras mães será bem mais ampla, além de todo conteúdo de lives e conversas com especialistas que a pediatra faz.

Eu sigo por aqui, mas segue ela lá. No mais, meu e-mail está aqui sempre: paulamaciulevicius@gmail.com. O que você gostaria de ver semana que vem?


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