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Comportamento

Sentença do tumor maligno veio "na lata" e chegou o dia de retirar minha mama

Paula Maciulevicius | 13/10/2015 06:34
Silvana Maria Corrêa, técnica em Segurança do Trabalho, cursa Direito e retira toda mama esquerda nesta terça. (Foto: Fernando Antunes)
Silvana Maria Corrêa, técnica em Segurança do Trabalho, cursa Direito e retira toda mama esquerda nesta terça. (Foto: Fernando Antunes)

Na manhã desta terça-feira, Silvana entra no centro cirúrgico com o coração na mão. Aos 42 anos, a técnica em Segurança do Trabalho retira toda mama esquerda na tentativa de se curar de um câncer. Dada a “sentença de morte” à ela sem rodeios pelo médico, é com fé e medo que ela encara a anestesia, sem saber o que virá depois. A paciente que “sentiu” que o diagnóstico seria sim maligno é a Voz da Experiência desta terça. 

 

Final de junho foi quando apareceu, como se saísse uma íngua, já achei estranho e parece coisa de sexto sentido. A primeira coisa que veio à minha cabeça foi câncer. Os médicos tinham acabado de voltar daquela greve, marquei ginecologista e fui atrás dos exames. Confirmou nódulo. Ele me indicou ultrassom, eu fiz e até esse período eu só tinha guardado isso pra mim.

A biópsia confirmou que era tumor maligno em dois nódulos e é um misto de sentimentos. Muita coisa que passa à sua cabeça. Desde que eu fiquei sabendo, no fundo, no fundo, eu sabia que não ia ser simples. Quando não aguentei mais, liguei para uma amiga que é médica.

Dia 1º de setembro saíram todos os resultados e aí passa um histórico da sua vida diante dos seus olhos, não é fácil. De início, minha amiga me explicou que tinha a possibilidade de eu ter de tirar a mama e que a pele fica caída. Desde então, você vai trabalhando isso na sua cabeça.

A notícia como ela veio, pelo especialista, me traumatizou. Ele foi seco, disse que eu ia ter que correr porque meu nódulo era maligno. Falou na lata, como se assinasse um atestado de acabou, é o fim. Eu fiquei uns três dias que parecia que via ele na minha frente, repetindo o que ele falou.

"Desde que eu fiquei sabendo, no fundo, no fundo, eu sabia que não ia ser simples". (Foto: Fernando Antunes)
"Desde que eu fiquei sabendo, no fundo, no fundo, eu sabia que não ia ser simples". (Foto: Fernando Antunes)

Comecei então a pesquisar pelo Facebook, fui vendo grupos, depoimentos e tanta gente que batalha, casos de criança. Aí você vê que sua história é mais uma, que existem outras mais graves e estão todos ali, lutando. Eu sou muito emocional, meus amigos estão me dando um apoio muito grande, mas não é fácil.

Quando o médico falou que seria radical, a mama toda e o mais rápido possível, é estranho. Mesmo que tenha a reconstrução futuramente, eu vou ter que encarar e me olhar, não vai ser fácil. Mas eu vou ter que fazer.

Me dá medo. De tudo. É a sua vida ali, querendo ou não e a gente sempre brinca, mas tem a questão da vida e da morte. E você vê, realmente que aquilo que está ali, na sua frente.

Eu parei de questionar por que eu? Eu fui vendo histórias e os lados positivos que isso traz. O valor de estar do lado das pessoas, você passa a ver a vida de outra forma. É uma notícia, inicialmente, devastadora, mas me fez refletir muita coisa. Você sempre conhece alguém que teve, mas quando atinge você é quando você fala: realmente, acontece.

Eu tinha que fazer mamografia, falava que ia fazer mês que vem, mês que vem, e vai passando, passando. A gente sempre vai deixando...

Hoje eu vejo que isso vai fazer parte de uma história minha, será um segmento que eu possa tentar ajudar, me ajudar e ajudar outras pessoas depois que passar.

Como vai ser depois? Não sei. Provavelmente devo começar a quimioterapia, aí o médico vai avaliar quantas sessões eu devo fazer. Por enquanto, já dei uma cortadinha no cabelo para ficar mais fácil.

Hoje é o último dia que eu trabalho (sexta-feira, 9) e eu vim para cá me sentindo super estranha ao mesmo tempo que eu sei que é só mais uma etapa. São só alguns degrauzinhos que eu tenho que subir. A doença te fortalece espiritualmente, acho que te renova. É assim que eu procuro ver ela, como fortalecimento pra mim.

Eu estou nervosa, mas numa confiança muito grande. É um misto de alívio de passar pela cirurgia, mas depois tem outra etapa. Será uma nova caminhada. A palavra “câncer”, ela nunca te traz nada de bom, a primeira coisa que me veio à cabeça foi a palavra morte. E não é assim, ela não te traz nada positivo inicialmente, mas é um recomeço para tudo.

Eu vou olhar e falar que não é o fim. Não vai ser o fim, vai ser um recomeço.

*Silvana Maria Corrêa, técnica em Segurança do Trabalho, cursa Direito e é uma personagem do Outubro Rosa.

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