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Comportamento

Sob sol escaldante, quem já deveria estar descansando luta para ganhar dinheiro

Idosos continuam trabalhando à espera da aposentadoria ou para fazer renda extra

Por Geniffer Valeriano | 04/02/2024 11:32
Eva durante vendas na Rua Alagoas (Foto: Alex Machado)
Eva durante vendas na Rua Alagoas (Foto: Alex Machado)

Sob sol escaldante, quem já deveria estar descansando sofre para ganhar dinheiro para conseguir pagar aluguel e parcelas de empréstimos. Espalhados por diversos pontos de Campo Grande, os ambulantes que ainda não são aposentados dizem contar os anos para começar a receber o benefício. Há também que precisa fazer renda extra.

Exausta após quatro horas de trabalho, debaixo do sol, Eva Gabriel Oliveira, de 71 anos, se preparava para a viagem de volta para casa. A aposentada mora na região do Nova Lima, e diz que precisa encarar mais de 1 hora de ônibus para conseguir chegar até a Avenida Afonso Pena esquina com a Rua Alagoas.

“Eu vendo aqui porque fiz empréstimo, então desconta cinco empréstimo por mês, tenho que vender para aumentar a renda um pouquinho mais [...] Já faz três anos que estou aqui. Sempre fico aqui, mas tem dias que fico aqui dois, três dias sem vir porque cansa muito”, contou.

Para diminuir o calor, Eva utiliza uma toalha úmida na cabeça (Foto: Alex Machado)
Para diminuir o calor, Eva utiliza uma toalha úmida na cabeça (Foto: Alex Machado)

Para aguentar o calorão de Campo Grande, Eva usa uma toalha molhada na cabeça. O descanso entre uma venda e outra é em um caixote de madeira. Com ela, além das paçocas e balas de goma que vende, a aposentada carrega uma caixa de leite e alguns pães. “Trago leite e pão para comer, porque fico sem almoço”, diz.

A reportagem esteve com Eva no início da tarde, por volta das 13h30, e a aposentada relatou que teria que caminhar sete quadras, cerca de 700 metros, até o ponto de ônibus, depois descer no terminal e pegar outro ônibus. Ela estimava que chegaria em casa apenas depois das 15h.

Trabalho desde os 7 anos de idade, eu não consigo ficar parada. Eu só não trabalho em residência porque ninguém vai querer gente velha para trabalhar e não dou conta se for pegar uma faxina”, afirma.

Na entrada da praça Ary Coelho, na esquina da Avenida Afonso Pena com a Rua 13 de Maio, sentado em uma cadeira amarela ao lado de sua bicicleta, a reportagem encontrou Carlos Alberto, de 60 anos. O idoso conta que chega às 9h30 ao local e fica até às 18h.

Com cabelos grisalhos e marcas da idade, ele relata que rotineiramente vai pedalando do Bairro Los Angeles até o seu ponto de venda. Trajeto que possui cerca de 14 km. “É bom fazer um exercício, vem devagarinho e não precisa correr”, garante.

Carlos ao lado de sua bicicleta, na entrada da Praça Ary Coelho (Foto: Alex Machado)
Carlos ao lado de sua bicicleta, na entrada da Praça Ary Coelho (Foto: Alex Machado)

Carlos diz trabalhar como vendedor ambulante há tanto tempo que não sabe precisar desde quando. De família humilde, ele venda água e títulos de capitalização no Centro.

Toda vida eu trabalhei com isso, porque no começo vendia bem e aos poucos foi minando. Eu trabalhei muito com fruta também, a gente tinha um ponto aqui e outro na Avenida das Bandeiras. A gente trabalhou bastante, porque na nossa família a gente foi criado assim, na rua vendendo as coisas”, explicou.

O ambulante também conta que chegou a estudar e concluir o Ensino Médio, mas por não ter realizado nenhum curso do Ensino Superior encontrou dificuldades em encontrar um emprego melhor. “A minha história é por falta de oportunidade, falta de um lugar adequado e várias situações. A gente também vai envelhecendo e as pessoas não vão te dando mais oportunidade e as coisas vão ficando mais escassas”, contou

Ainda esperando completar a idade para dar entrada na aposentadoria, ele relata que não recebe nenhum auxílio do governo. Sem filhos e esposa, o homem conta que mora com a irmã, que possui apenas a aposentadoria como renda. O trabalho para ele, porém, é a maneira de que encontra de socializar.

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Mesmo com a aposentadoria, eu pretendo continuar, porque quando é algo que você gosta de fazer não adianta. A gente tem que focar naquilo que a gente se sente bem. Eu, por exemplo, gosto de ficar por aqui”, finaliza.

Idenir Rodrigues, de 65 anos, é outro que não pretende abandonar a profissão depois de conseguir a aposentadoria. Natural de Curitiba, no estado do Paraná, o idoso conta que chegou há cerca de seis anos em Campo Grande.

Antes de começar a trabalhar vendendo garrafas de água no semáforo da Avenida Afonso Pena, Idenir trabalhava como caminhoneiro, profissão herdada de seu pai. Porém, acabou tombando o caminhão em curva de uma rodovia da cidade de Nova Laranjeiras (PR). No acidente, teve diversas fraturas e o pulmão perfurado.

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Fiquei sem conseguir trabalhar, desempregado. De 60 anos pra cima, ninguém mais arruma emprego. Aí tive de me virar e encontrei isso aqui [mostra garrafa d’água]. As pessoas precisam de água e precisam de alguém para trazer. Daí eu estou aqui”, explica Idenir sobre o negócio.

O vendedor ainda relembra que no ano em que aconteceu o acidente, a idade para se aposentar aumentou a um mês dele completar 60 anos. Idenir também não recebe nenhum auxílio do governo. Por isso, diz que a aposentadoria é sua “esperança de descanso”. “Agora já está pertinho, o mês de agosto já está aí”.

Para conseguir pagar o aluguel e as demais contas, Idenir diz que inicia as vendas todos os dias às 9h e às encerra às 18h. “A gente não ganha muito, mas no final do mês dá um salário mínimo”.

Idenir realiza venda de água entre os carros (Foto: Alex Machado)
Idenir realiza venda de água entre os carros (Foto: Alex Machado)

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