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Comportamento

Tem jogo que lembre mais como é ser criança do que Bets na rua?

Paula Maciulevicius | 12/10/2016 07:05
As partidas podiam durar o dia todo, levar um tampão do dedo do pé, até porque quase sempre era descalço. (Foto: Fernando Antunes)
As partidas podiam durar o dia todo, levar um tampão do dedo do pé, até porque quase sempre era descalço. (Foto: Fernando Antunes)

Na história de separar brincadeiras para o dia 12 de Outubro, "Bet", Bets" ou "Taco", surgiu entre os queridinhos da infância. Se tem um jogo que fala mais sobre o que é ser criança do que os tacos, a bolinha, a marcação e a lata de óleo, Campo Grande desconhece. As partidas podiam durar o dia todo, levar um tampão do dedo do pé, até porque quase sempre era descalço na rua mesmo, mas não tinha nada que reunisse toda vizinhança como um jogo de bets.

No Facebook, convidamos uma turma que quisesse armar um jogo para explicar as regras na prática. De pronto, uma galera se manifestou, movida pela nostalgia e entre eles, o casal Juliana e Rangel, que foi quem se dispôs a madrugar no último domingo, para voltar à infância.

O horário marcado para a partida foi 7h da manhã, no Parque das Nações Indígenas, em Campo Grande. Na faixa etária dos participantes, uma lembrança veio à memória: a lata de óleo que não é mais comercializada. No lugar, entraram garrafas pets cheias de água.

Rangel, jovem que do bets foi para o beisebol. (Foto: Fernando Antunes)
Rangel, jovem que do bets foi para o beisebol. (Foto: Fernando Antunes)
Objetivo é arremessar bolinha e acertar a garrafa. (Foto: Fernando Antunes)
Objetivo é arremessar bolinha e acertar a garrafa. (Foto: Fernando Antunes)

Quem aceitou armar o jogo para a gente foi o auxiliar de produção, Rangel Castanho, de 26 anos. Quando menino, ele jogava bets nas ruas do bairro Aero Rancho, onde se criou, até que mais tarde ingressou no beisebol, chegando até a jogar profissionalmente. 

"Bet funciona assim: são duas duplas, uma pessoa vai no taco e outro no arremesso, para tentar acertar a garrafa. Ganha o jogo quem fizer 24 pontos primeiro", explica Rangel. Por sorte, a área que costuma receber eventos no Parque tem já a marcação feita de tinta. 

E para saber que dupla começava, não foi "par ou ímpar" a decidir não. E sim "seco e molhado", que é quando um dos jogadores cospe no taco (ripa de madeira) e joga para o alto, repetindo a ação três vezes, no caso de haver empate. Quem escolheu molhado e viu o cuspe, vence e pode começar. 

Em cada região, tanto as regras como até o nome do jogo, variam. No caso de Rangel, a brincadeira foi passada de geração em geração. "E nessa jornada aí tem pelo menos 12 anos", brinca. "O interessante do jogo é que é uma diversão, não tem competição e pode jogar criança e adulto", frisa.

A contagem de pontos, bem como as regras da queima - quando acontece alguma falta e quem está com o taco o entrega para o adversário - depende de um acordo entre as duplas. Como bets pode mudar de bairro para o outro, é preciso ter um combinado em cima das regras. Rangel sempre jogou contando de dois em dois, sem tirar o taco do buraco - a não ser para rebater - e gritando "vitórinha 1, 2, 3", quando a soma chega aos 24 pontos.

Taco só entra em cena para rebater e deve ficar sempre no buraco. (Foto: Fernando Antunes)
Taco só entra em cena para rebater e deve ficar sempre no buraco. (Foto: Fernando Antunes)

Vendedora, Indiante Flávio da Silva, tem 27 anos de idade e uma memória que volta lá para a cidade de Pedro Gomes, quando ela começa a jogar. "Lembra a infância, na rua, na escola, tinham campeonatos. Parece que eu tenho 15 anos de novo".

O que mudou desde então foi o preparo físico. "Não lembrava tanto das regras e também senti o cansaço", brinca. Mas o sentimento maior foi o de voltar à infância. "Eu estava com saudades de ser criança", completa. 

Coaching, Gisele Ferreira de Souza, de 36 anos, era estreante no jogo. "Fiquei com vontade de jogar, porque quando eu era pequena, nunca joguei e o convite foi tão acolhedor", agradece. Por ter tido uma infância, que ela prefere classificar como diferente, Gisele nunca brincou na rua e mesmo que visse, não podia participar do jogo de bets. 

"Posos dizer que é uma tentativa de resgatar essa criança interior. Quando a gente cresce, a vida vai ficando chata e jogar foi incrível, trouxe alegria", resume.

Esposa de Rangel, Juliana Ferreira, de 27 anos, quer voltar à ativa no esporte. Também moradora do Aero Rancho quando menina, era lá que jogava. Hoje, ao olhar para o filho mais velho, vê que a ideia de brincar já não é mais a mesma e só tem a lamentar por isso.

"É uma coisa de celular, videogame. Eu com essa idade só brincava de basquete, queimada, bandeirinha, minha vontade é de continuar e incentivar os filhos", explica.

Há grupos que jogam bets aos domingos no Parque das Nações Indígenas. Conhece gente que jogue? Mande uma relação de local e horário para a gente no Lado B

As saudosas latas de óleo foram substituídas pelas garrafas pet. (Foto: Fernando Antunes)
As saudosas latas de óleo foram substituídas pelas garrafas pet. (Foto: Fernando Antunes)
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