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Comportamento

Voluntariado me contagiou e hoje os sorrisos abastecem minha alma

Ângela Kempfer | 29/09/2015 06:56
Fernanda e um beijo que vale milhões.
Fernanda e um beijo que vale milhões.

Quem não quer ser feliz? Todo mundo tenta, muitas vezes de um jeito torto, mas não há nada no universo que movimente mais as pessoas que a busca pela satisfação. Fernanda Baldo Romero acredita que encontrou essa fórmula no trabalho voluntário. Não que ela tenha descoberto a vida perfeita Tem de abrir mão de pequenas realizações, como passar os domingos com a família. Mas hoje, a bailarina e futura mãe, tem o coração mais tranquilo, graças ao que entrega sem esperar nada em troca. Para inspirar mais pessoas, ela compartilha o que aprendeu aqui no Voz da Experiência.

 

Eu sempre tive bons amigos, poucos, porém bons!

Nós fazíamos cursinho pré-vestibular e um dia meu amigo Rodrigo perguntou: “Fer, o que você faz domingo a tarde?”. Eu, na época, tinha me mudado para Campo Grande há dois anos, morava com meu irmão, mas geralmente passava os fins de semana sozinha – respondi: “Nada Rô, porque?”. Eis que ele disse: “Você não quer ir a um bairro carente, onde eu e meus irmãos damos aula e fazemos sopa?”

Na hora, respondi que sim, titubeante, confesso, mas fui. E assim, em 2000, fui contagiada pelo “vírus do voluntariado”! Esse vírus não tem cura e, a contrassenso, faz um bem danado.

Fui no domingo ao Posto de Assistência Espírita Leopoldo Cirne e lá me apaixonei pelo trabalho, pelas pessoas (que são uma lição de vida), e pelas crianças, que de imediato me chamaram de tia e me deram sorrisos tão lindos e sinceros os quais nunca esqueci.

Passei algum tempo ajudando aos domingos aquela instituição. Vi crianças crescendo, tornando-se adolescentes. Vi também mães que eram agressivas e sem esperança mudarem de comportamento e de perspectiva de vida. Via uma mudança boa no mundo deles.

Nessa época, meu mundo interior estava um pouco bagunçado, então, afastei-me do projeto fisicamente, continuei apenas auxiliando de longe, com arrecadações. Às vezes aparecia para ver aqueles sorrisos e abastecer minha alma...

Sorriso lindo da menina em dia de projeto.
Sorriso lindo da menina em dia de projeto.

Fiz outros trabalhos em diversos locais. Gostava muito do “sopão”: um grupo de jovens que se reunia para preparar sopa e distribuir para moradores de rua. Íamos ao antigo albergue, onde hoje é a Casa de Ensaio, e algumas vezes distribuíamos o alimento nas ruas mesmo. Eu amava esse trabalho e nele fiz bons amigos.

Recomposta, soube que o Rodrigo, aquele meu amigo do qual falei no começo, tinha fundado um lugar parecido com o Leopoldo Cirne, chamado “Amar e Servir”, onde as crianças frequentavam aulas e recebiam a sopa. Só o nome já me fascinou e, como não sou boba (e tinha o vírus do voluntariado) fui até lá ver o que me esperava.

Quando cheguei ao “Amar”, em 2006, me perguntei: Como fazer sopa sem cozinha? Como dar aula sem sala?

As crianças eram separadas por faixas etárias e distribuídas pela sombra de uma bela árvore que acalmava o calor de Campo Grande. Na verdade, ficavam todos juntos/misturados para ouvir histórias.

Continuei na sopa para os moradores de rua, mas com um “pezinho” no Amar e Servir.

Até que um dia, novamente, minha vida virou de ponta cabeça. Sabe quando acontece algo na vida da gente, e a gente sente que precisa fazer algo pela vida do outro? Fazer algo por um mundo melhor, mesmo que seja por um pedacinho do mundo apenas?

Enfim, resolvi tomar as rédeas da minha vida novamente e agir: “Rodrigo você está precisando de gente no Amar e Servir?”, e eis a resposta: “Claro garotona, você até demorou para chegar de vez!”.

E foi quando comecei.

O que faço não é apenas ajudar as pessoas, não é doar meu tempo aos domingos pela manhã, não é ensinar boas maneiras ou falar da vida de Jesus... O que mais faço no “Amar e Servir” é tentar ser uma pessoa melhor.

Mudei hábitos, mudeis amizades, mudei de vibração! Mudei para Amar e Servir a uma causa que acredito e vivo: o ser humano. Eu acredito no ser humano!

Aprendi com o Rodrigo que, cada criança que conseguimos tirar do desleal e competitivo mundo das drogas ou dos crimes, é uma vitória. Acredito que se conseguir fazer isso para uma delas, minha vinda a essa existência já fez sentido!

Ação do grupo "Amar e Servir"
Ação do grupo "Amar e Servir"

Já vi e vejo tanto coisa por lá... 

Uma vez recebemos uma carta que dizia: “Obrigado por vocês me ensinarem que não é certo bater nos meus filhos por qualquer coisa. Hoje eu converso com eles, ponho de castigo.” Em outra oportunidade, na festinha de Natal, pedimos para as mães escreverem uma carta para o “Papai Noel” e eis que nos deparamos com: “eu queria um jogo de pratos”, “eu queria um urso de pelúcia”, “eu queria uma cômoda, pode ser usada!”

Hoje o “Amar e Servir” não está mais embaixo da sombra do pé de Pequi. Depois de muito esforço e boas lutas, temos uma sede. Há pouco construímos as salas de aula, a cozinha, o salão de cabeleireiro (onde ministramos curso para as jovens e mães) e a oficina de costura (onde oferecemos aula de corte e costura para as mães e para as pessoas da comunidade que tenham interesse em aprender).

Quando conheci meu marido e começamos a namorar ele me fez a famosa pergunta: “O que você faz domingo de manhã?” – respondi, explicando sobre o projeto e emendei: “Me tire qualquer coisa, menos o Amar e Servir”. Foi aí que percebi que tinha aprendido, com as penas da vida, que minha dor não tem sentido algum se um irmão (no sentido bíblico da palavra) tem dores maiores que as minhas, dificuldades piores que as que tenho! O Pablo (meu príncipe) nunca “encrencou” com meus domingos, ao contrário, entende e aprova. Resultado: casei com ele!

Posso escrever milhares de linhas, posso passar o dia falando, posso sorrir por horas com as lembranças e os planos que tenho para o Amar e Servir, mas acho que por hoje está bom.

Quem quiser conhecer, será muito bem vindo!

Mas, se alguém quiser ajudar (lá vai eu pedir – risos)... No Dia das Crianças levamos nossos pequenos ao cinema. É o evento do ano, as crianças esperam ansiosas por isso: o que para nós é normal (ir ao cinema) para eles é a atração anual! E você é convidado a nos ajudar a realizar esta boa ação. Vamos lá, qualquer doação é bem vinda... Afinal: Ajudar faz bem!

*Fernanda Baldo Romero, funcionária pública, professora, voluntária, bailarina, futura mãe... ama ler, viajar e ouvir boas histórias!

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