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Comportamento

Aos 42, Elizabete tenta na Justiça cirurgia para mudar sexo e virar Eliaquim

Aline dos Santos | 04/01/2012 13:17

A confusão sobre sua sexualidade começou quando ela nasceu em uma fazenda: a criança tinha os dois sexos.

Ela está com pedido para realizar exames em São Paulo. (Foto: João Garrigó)
Ela está com pedido para realizar exames em São Paulo. (Foto: João Garrigó)

Numa casa de Campo Grande, na saída para São Paulo, o ano começa e renova um desejo acalentado por décadas: Elizabete quer ser Eliaquim. A mudança na carteira de identidade depende de uma transformação muito maior.

Elizabete deve dar adeus ao nome e ao corpo de mulher. Para tanto, recorreu à Justiça. O objetivo é fazer uma cirurgia para redesignação de sexo pelo SUS (Sistema Único de Saúde). O procedimento custa R$ 40 mil.

A confusão sobre sua sexualidade começou há 42 anos, quando nasceu em uma fazenda “pra lá” de Glória de Dourados. “Ela nasceu em casa, quando a parteira veio me mostrar, assustei. A criança tinha dois sexos”, conta a mulher de 73 anos, mãe de Elizabete e outros cinco filhos.

Na terceira gestação, ela sonhava em ter um menino, mas diante do bebê hermafrodita, achou por bem dar-lhe nome e roupas de menina. “Mas ela só queria brincadeiras de menino homem, carrinho, tratorzinho. Até rasgava as roupa de menina”, relata a mãe.

Em 1973, a senhora veio para Campo Grande em busca de atendimento para uma das filhas, que estava com pneumonia. No hospital, comentou com um médico sobre o problema da outra filha, então com quatro anos. “Ele disse que tinha quer trazer a menina com urgência porque senão ia criar um monstro”, afirma.

Preocupada, a mãe se desdobrou em esforços para garantir a cirurgia.

“Não tinha dinheiro, não tinha comida. Mas ela fez a cirurgia e ficou dois anos internada”, se lembra. A operação removeu o pênis e deixou um corte de poucos centímetros como vagina.

Fora do hospital, a orientação era de que a criança passasse por tratamento psicológico até completar 15 anos. “Levava ela duas vezes por semana no sanatório”, conta. Depois de cinco meses nessa rotina, ela perguntou a filha o que tanto fazia no tratamento.

A resposta de que passava a maior parte do tempo brincando aguçou a curiosidade da mãe, que deu um jeito de acompanhar uma das sessões. “Era um lugar grande, com meninas e meninos do outro. Fiquei desesperada, ela estava brincando com os meninos, puxei e coloquei minha filha junto com as meninas”, lembra, emocionada.

As lágrimas da mãe reacendem a mágoa da filha. “Na verdade, você sempre quis que fosse menina”, dispara Elizabete. Com roupas largas para ocultar os seios, ela conta que, por exigência da família, viveu a adolescência aprisionada em saias e vestidos. “Quase nem saía de casa. Tinha vergonha de mim mesma”, diz. A adolescência também trouxe um novo problema: fugir do assédio dos meninos.

Para assumir a identidade masculina, enfrentou a desaprovação familiar e passou a procurar ajuda. Na internet, descobriu que há procedimento cirúrgico para se livrar das características femininas.

Em junho do ano passado, ganhou da irmã a consulta com um urologista. O médico lhe deu indicação de atendimento no Hospital das Clínicas em São Paulo. O objetivo é retirar as mamas e reconstruir o órgão sexual masculino.

As mudanças podem lhe dar o direito a uma nova realidade. “No meu último emprego, como mototaxista, fizeram abaixo assinado para me tirar. Reclamavam que não sabia se eu era mulher ou homem”, relata. Sem emprego fixo, ela mora na casa da mãe.

Enquanto não ganha na loteria, onde aposta em busca de um prêmio que pague a cirurgia, segue sonhando com uma vida melhor. Que inclui casa própria, caminhão para trabalhar e uma companheira.

Na Justiça – A ação de obrigação de fazer, movida contra o Estado, corre na Vara de Fazenda Pública de Campo Grande. O processo foi suspenso porque o juiz requereu realizações de exame por uma equipe multidisciplinar. O médico de Campo Grande indicou exames em São Paulo.

Após o agendamento das consultas, o juiz será informado da necessidade da viagem e do pedido que o Estado arque com os gastos.

Além da cirurgia de transgenitalização, a mudança de vida inclui uma provável batalha jurídica para alteração do nome, pois não entendimento único sobre a questão no judiciário brasileiro.

Em dezembro do ano passado, a 5ª Vara da Fazenda Pública e Registros Públicos de Campo Grande negou dois pedidos para troca de nomes antes de cirurgia para mudança de sexo.

No primeiro caso, um rapaz solteiro pediu o auxílio da justiça para trocar seu nome de Hilário para Hillary.

No segundo, a autora queria alterar o nome de Danyelle para Daniel e trocar a anotação para sexo masculino.

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