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Comportamento

Endereço certo para quem procura, índias são guardiãs de iguarias regionais

Viviane Oliveira e Marta Ferreira | 17/12/2011 13:37

No final do ano a quantidade de mulheres vendendo aumenta nas ruas por causa da época de alimentos típicos da tradição culinária regional, como pequi, guavira, feijão verde e guariroba

Helena passa horas cortando e embalando o pequi. Para ela as vendas é uma profissão gratificante. (Fotos: João Garrigó)
Helena passa horas cortando e embalando o pequi. Para ela as vendas é uma profissão gratificante. (Fotos: João Garrigó)

O cardápio organizado pela chefe de cozinha Vera Chaves para um casamento no começo de dezembro incluiu salada de feijão verde com carne seca. Na hora de comprar o feijão, Vera repetiu o caminho de sempre quando quer produtos típicos da culinária regional: foi "às índias", na praça em frente ao Mercado Municipal de Campo Grande.

Vera, que tem um espaço onde ensina culinária, é um exemplo "profissional" da importância das índias na comercialização de iguarias como o feijão verde, pequi, guariroba, guavira. É uma prova de que elas funcionam como guardiãs da tradição culinária regional.

Na Primavera, elas ficam ainda mais visíveis e são mais procuradas, por ser época de pequi e guavira, dois produtos que não se acha no supermercado.

Para o casal Marlene Romeu, 53, e Eddi Romeu, 55 anos, o lugar certo para comprar esses produtos é na banca das índias. Segundo eles, hoje não é encontrado mais com tanta facilidade como antigamente. "São alimentos que fazem parte da nossa culinária que aos poucos estão acabando", afirma Marlene.

A chefe de cozinha Vera Chaves: quando quer produtos regionais típicos, endereço certo: as índias no Mercadão.
A chefe de cozinha Vera Chaves: quando quer produtos regionais típicos, endereço certo: as índias no Mercadão.

“Na década de 80 a gente ainda encontrava pé de pequi e guavira nos bairros, hoje está tudo loteado”, afirma Eddi, que quando quer comprar produtos do “mato” sabe o endereço certo.

A aposentada Sebastiana Carmo Teixeira, 85 anos, conta que foi criada na fazenda e sabe do valor que esses alimentos têm. Conforme ela, além de ser saboroso faz bem para a saúde.

“Comprei dois pacotes de pequi, vou mandar para minha filha que mora há 8 anos em Florianópolis (SC)”, afirma. Sebastiana comenta que lá não existe este tipo de iguaria e quando chega a época a filha pede para comprar e mandar para ela.

Marca regional-O relato de Sebastiana é uma prova da relevância das vendedoras de origem indígena. Para a chefe de cozinha, é um papel importante que deveria ser mais reconhecido e até transformado em um atrativo aos turistas. Vera Chaves afirma que poderia haver um treinamento para que o atendimento e a organização fossem melhores nesse tipo de comércio, ainda que informal.

"Muitas vezes, elas, talvez por timidez, não sabem atender o turista por exemplo. As autoridades deveriam ver isso e de alguma forma levar treinamento a essas pessoas".

A maioria dessas índias deixa a família na aldeia para comercializar os produtos na cidade. É o caso da terena Deonize Elias José, 60 anos, que passa a maioria do tempo aqui. “Só volto para abastecer o estoque de alimentos”, afirma. Segundo ela, chega a ficar três semanas em Campo Grande e apenas cinco dias na aldeia Cachoerinha, onde mora com oito pessoas.

Deonize  comenta que mesmo os alimentos sendo da terra tem quem sequer conheça o pequi, por exemplo.
Deonize comenta que mesmo os alimentos sendo da terra tem quem sequer conheça o pequi, por exemplo.

Deonize conta que é das iguarias que sustenta a família. Segundo ela, quando o dia está bom chega a fazer R$ 60 por dia. Ela reclama que as vendas poderia ser melhor se as pessoas conhecessem mais o que é da nossa terra.

“Mesmo que é da nossa cultura, tem gente que não compra porque não sabe o que é um piqui ou um feijão de corda”, lamenta.

Para a indígena Helena Elias, de 70 anos, que trabalha na Praça do Índio há 10 anos, mexer com vendas é uma profissão gratificante. “Eu passo horas descascando e embalando o pequi. Só vou parar de fazer isso o dia que morrer”, completa Helena. Antes, ela trabalhava com artesanato.

“Amanhã eu volto para aldeia, faço compras para a casa, pego mais alimentos para vender e volto pra cá”, explica. Os dias com a família são poucos, mas de vez em quando a filha e o neto fazem companhia para ela.

Leda Lemes, 50 anos, também mora na aldeia Cachoerinha e trabalha na cidade. Segundo ela, o marido trabalha na lavoura com a plantação e ela faz a parte dela vendendo os alimentos. “É a forma que encontrei de ajudá-lo, tenho cinco filho para sustentar e pretendo dar para eles estudo”.

A indígena disse que o que dá força para ela ficar semanas longe dos filhos e a vontade de vê-los crescer, afirma leda que uma das filhas terminou o 2º grau e pretende fazer faculdade de pedagogia.

Para o casal Marlene e Eddi o lugar certo para comprar esses produtos é na Praça do Índio. (Foto: Viviane Oliveira)
Para o casal Marlene e Eddi o lugar certo para comprar esses produtos é na Praça do Índio. (Foto: Viviane Oliveira)
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