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Diversão

Em área nobre, o parque do Itanhangá já foi mais bonito

Elverson Cardozo | 14/12/2012 08:00
Beleza de uma nascente fotografa por Ari Lopes.
Beleza de uma nascente fotografa por Ari Lopes.

Todo fotógrafo profissional sabe que um registro bem feito, que alia técnica e sensibilidade, pode fazer da cena mais desprezível e do cenário mais incompleto uma bela fotografia. Mas a arte de escrever com a luz também capta a realidade.

Ari Lopes da Rosa, de 59 anos, registra o real há 40 anos. Faz poesia com ele. Revela a beleza escondida, ao vivo e cores. Mostra a graça do comum, mas faz o trivial saltar aos olhos a cada novo enquadramento.

Localizado em uma das áreas nobres de Campo Grande, o Itanhangá Park, no bairro que leva o mesmo nome, é um dos pontos mais visitados por Ari, que se especializou em fotografias da natureza.

As imagens feitas por ele, divulgadas em sua página na internet, mostram a beleza plástica do local. Retratam a tranquilidade harmoniosa que garante momentos únicos aos espectadores da natureza e da flora Sul-Mato-Grossense. Oferece margem a reflexões.

Mais uma nascente do Itanhangá registrada há meses por Ari Lopes.
Mais uma nascente do Itanhangá registrada há meses por Ari Lopes.

As nascentes aparecem como verdadeiros espelhos d’águas, cobertos por flores e cercado de folhas secas. Os movimentos dos peixes, moradores antigos, garantem a beleza do cenário que, num clique, fica eternizado no tempo.

Verdes como esmeraldas, as folhas, de alto a baixo, escondem as maravilhas que muitas vezes passam despercebidas. Mas o olhar apurado, aliado às lentes, deixa à mostra a perfeição.

Dentre os pássaros que costumam frequentar as árvores do parque, o Ferreirinho-relógio recebeu destaque. A ave de peito amarelo foi flagrada em cima do ninho, terminando de construir a “casa”. Um gato branco, que parece à vontade em meio às flores nascidas no mato, também foi fotografado.

Os registros são recentes, deste ano, mas de um período em que a área parecia mais apresentável aos frequentadores. Inevitável uma comparação de antes e depois.

Especializado em fotografia de natureza, Ari Lopes afirma que a praça que rendeu tantos registros está descuidada. (Foto: Rodrigo Pazinato)
Especializado em fotografia de natureza, Ari Lopes afirma que a praça que rendeu tantos registros está descuidada. (Foto: Rodrigo Pazinato)

Abandono - A equipe do Lado B visitou o parque. Os sinais de que alguma coisa está errada começam pela entrada. O mato alto cerca as placas da própria prefeitura, que exibem um pedido no mínimo contraditório: “Preserve a natureza e cuidem de nossa praça”.

Adiante, a poucos metros dali, nota-se que a manutenção há dias não dá as caras. Não faltam evidências: Fora o mato, que por si só tira a beleza do espaço, há papéis, plásticos, garrafas pets e copos descartáveis jogados por maus frequentadores.

Grande parte das lixeiras estão lotadas. Os lixos parecem largados no tempo. Nos fundos, alguns dos bancos de madeiras, que deveriam estar à mostra, estão escondidos, atrás do mato.

Bancos estão encobertos pelo mato. (Foto: Rodrigo Pazinato)
Bancos estão encobertos pelo mato. (Foto: Rodrigo Pazinato)
Lixeiras estão lotadas. (Foto: Rodrigo Pazinato)
Lixeiras estão lotadas. (Foto: Rodrigo Pazinato)

A parte inferior de um deles foi colocada ao lado de uma nascente, que perdeu todo o seu brilho, tamanha sujeira em cima da água, mesmo antes da chuva, que caiu só depois da reportagem.

Na área infantil, a falta de limpeza mostra que o parquinho também está descuidado. Uma gangorra quebrada, deixada de lado, confirma a suspeita.

A quadra esportiva está largada. Os buracos nas telas que cercam o espaço e nas grades ao redor do parque pioram o aspecto. A sujeira é vista por toda parte, da entrada às pistas de caminhada.

Funcionário de uma lanchonete localizada ao lado do Itanhangá, Téo Martins, de 32 anos, lembra que a área já foi mais cuidada. Há alguns anos, moradores e comerciantes se juntaram à causa e se tornaram os “amigos da praça”, mas a iniciativa chegou ao fim.

Agora, são poucos os que se preocupam com o espaço. As nascentes, destaques do local, estão perdendo a beleza. Na entrada da galeria principal, que cruza o terreno, toda vez que chove forma uma espuma branca. Os peixes acabam morrendo. “Vem do esgoto. Acho que é veneno”, supôs.

Téo é um dos poucos frequentadores que tenta cuidar do espaço. O trabalho não rende muita coisa, mas ele é insiste. Há 3 meses, faz questão de passar 30 minutos do dia, após o expediente, pescando lambaris da área mais afetada pela “espuma branca”. Pega de 20 a 30 por vez. Depois, solta os peixes em outra nascente, que não apresenta o problema.

Lago perdeu a beleza do espelho d'água. (Foto: Rodrigo Pazinato)
Lago perdeu a beleza do espelho d'água. (Foto: Rodrigo Pazinato)

Para o fotógrafo que já viu o parque mais bonito, é preciso uma ação rápida para evitar que a área volte, novamente, à situação de abandono. Mas não é só limpar, disse. A preservação do meio ambiente deve ser a primeira preocupação.

“Precisa da presença de um biólogo, de acompanhamento para ver o impacto que uma limpeza radical iria causar. É importante fazer a limpeza, mas não agredir a natureza”, disse.

Na avaliação de Ari, o responsável pela manutenção deveria ser uma pessoa física, para facilitar o acesso e comunicação com os frequentadores. “Alguém que tenha nome, CPF, não um órgão. Alguém que a gente saiba que fulano de tal é responsável. Que tenha voz ativa, que tenha trânsito, poder de mando”, afirmou.

Preservar um espaço público é uma responsabilidade de todos, não só da prefeitura. Ele sabe disso, mas acredita que o governo, além dos cuidados com a área, deveria investir em conscientização.

Com mato alto, parque parece abandonado. (Foto: Rodrigo Pazinato)
Com mato alto, parque parece abandonado. (Foto: Rodrigo Pazinato)

“Eu queria ver essa praça bem cuidada, com valorização do meio ambiente. Os biólogos poderiam fazer um trabalho bacana aqui dentro, orientar o povo de como se deve cuidar de uma praça. Pode ser feito até palestras com as pessoas que freqüentam a praça”, sugeriu.

“É um lugar bacana. Um lugar bonito que pode ser bem cuidado. É um cartão postal da cidade”, acrescentou.

Limpeza - A prefeitura de Campo Grande informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que a manutenção do Parque Itanhangá está sob a responsabilidade da Solurb, empresa que venceu licitação e é responsável pela limpeza urbana da cidade.

O órgão informou ainda que a demanda de serviços referente à área citada na reportagem já foi repassada à concessionária.

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