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Diversão

Organizado por deficientes visuais, hoje tem “Arraiá Vai Quem Qué”

O evento será realizado neste sábado no ISMAC de Campo Grande e contará com vendas de comidas típicas e dança

Alana Portela | 29/06/2019 07:24
Os caipiras ensaiam a dança para se apresentar no sábado (Foto: kisie Ainoã)
Os caipiras ensaiam a dança para se apresentar no sábado (Foto: kisie Ainoã)

A galera mais animada do ISMAC (Instituto Sul-mato-grossense para Cegos Florivaldo Vargas) se organizou para mais uma edição do “Arraiá Vai Quem Qué”, em Campo Grande. O evento será realizado neste sábado (29), a partir das 18h, na sede do Instituto na Rua 25 de dezembro, 262, no Jardim dos Estados. Tem comidas típicas e quadrilha, com pares formados por um deficiente visual e outra pessoa que enxerga.

Cleto Vital faz da dança um motivo para ficar alegre (Foto: Kisie Ainoã)
Cleto Vital faz da dança um motivo para ficar alegre (Foto: Kisie Ainoã)

O festeiro, Cleto Vital, é aposentado e cego há 15 anos. No começo foi difícil, contudo, a dança abriu novos horizontes. “Tem cinco anos que participo e sempre foi animado. Não posso faltar”, afirma. Ele comenta que perdeu a visão depois de adulto. “Quando tinha 18 anos, uma bola bateu no meu olho esquerdo durante uma partida de futebol. No olho direito, deu deslocamento de retina, perdi a visão e me aposentei’.

Aceitar que não iria mais enxergar foi duro, mas Cleto se conformou para ter melhor qualidade de vida. “Fiquei três anos trancado dentro de casa até que conheci a instituição e hoje aprendi sobre a mobilidade. A dança me deixa alegre, tanto as coreografias da quadrilha quanto a dança de salão”, disse.

Jair Corrêa gosta de quadrilha e ensaia vestido à caráter, com chapéu de palha e camisa xadrez (Foto: Kisie Ainoã)
Jair Corrêa gosta de quadrilha e ensaia vestido à caráter, com chapéu de palha e camisa xadrez (Foto: Kisie Ainoã)
O policial Alexandre Oliveira quer ajudar na inclusão social dos deficientes visuais (Foto: Kisie Ainoã)
O policial Alexandre Oliveira quer ajudar na inclusão social dos deficientes visuais (Foto: Kisie Ainoã)

Jair Corrêa tem baixa visão devido ao glaucoma desenvolvido quando tinha 15 anos de idade. Na época parou de estudar, porém, agora pretende retomar os ensinamentos. “Vou estudar em braile”, disse. Ele conta que adora dançar e nos ensaios já vai vestido a caráter, com camisa xadrez e chapéu de palha. “É o terceiro ano, gosto tanto que vou participar de novo”.

O policial militar Alexandre Oliveira não tem problemas de visão. Ele decidiu participar pela primeira vez, para ajudar na inclusão social. “É muito importante para a inclusão, a gente participa e conhecer o mundo deles. Faço isso também pela satisfação pessoal, pois eles são animados”, afirmou.

Os caipiras ensaiando a dança para se apresentar no sábado (Foto: Kisie Ainoã)
Os caipiras ensaiando a dança para se apresentar no sábado (Foto: Kisie Ainoã)
Os dançarinos entram em cena e querem animar o arraial (Foto: Kisie Ainoã)
Os dançarinos entram em cena e querem animar o arraial (Foto: Kisie Ainoã)
Eva Ortiz é deficiente visual e a coreógrafa que ajuda nos ensaios (Foto: Kisie Ainoã)
Eva Ortiz é deficiente visual e a coreógrafa que ajuda nos ensaios (Foto: Kisie Ainoã)

Organização - Os ensaios do arraial começaram no dia 4 de junho deste ano. Na quarta-feira (26), os caipiras estavam treinando a coreografia a ser apresentada no evento beneficente.

São mais de dez casais empolgados para a festa. Os passos são os tradicionais da dança, com o túnel do tempo, cestas de flores, pula canguru, cortejo das damas e cavalheiros, e assim por diante. Enquanto toca a música, os caipiras batem as mãos, as botas no chão e soltam aquele grito de “guerra”, para animar os treinos.

Pedro Martins tem 12 anos e vai participar da dança pela primeira vez (Foto: Kisie Ainoã)
Pedro Martins tem 12 anos e vai participar da dança pela primeira vez (Foto: Kisie Ainoã)

A coreógrafa do ISMAC, Eva Ortiz, relata que a quadrilha é tradicional há 15 anos. Ela também é deficiente visual e comenta sobre o trabalho e a proposta do arraial. “É uma adaptação da quadrilha já criada há anos, mas estamos introduzindo alguns passos. A dança começou com uma professora que trouxe o braille para Campo Grande”, fala.

Pedro Martins tem 12 anos, não é deficiente visual, porém optou por entrar na onda caipira e guiar os parceiros. Ele é filho de Eva e conta que sempre ajuda a mãe quando necessário. “Nasci com 100% de visão, mas meus pais são deficientes visuais. Considero-os como uma pessoa normal, pois ter um problema ocular não faz diferença. Estou na instituição quase todos os dias. Na teoria, não sou os olhos dela [Eva], mas na prática sim porque muitas coisas que precisam da visão, eu a ajudo. Contudo, andar na rua não, para deficiente visual está mais fácil”, disse.

É a primeira que Pedro irá participar da quadrilha e ele não esconde o orgulho de ouvir a mãe narrando os passos da dança. “Minha mãe é capacitada para isso, porque muitas pessoas tentaram narrar como ela, mas não conseguiram”, conta.

Os caipiras entraram na dança (Foto: Kisie Ainoã)
Os caipiras entraram na dança (Foto: Kisie Ainoã)

Festa - Foram de dois a três treinos por semana, tudo para aperfeiçoar a dança e não fazer feio no dia do evento.

Eva Ortiz explica o motivo do casal ser composto por uma deficiente visual e outro não. “A orientação é ser uma pessoa que enxerga com outra que não vê, por conta do espaço, locomoção e condução. Tem o canguru, que é um passo de pular com o parceiro, porém é preciso contar com a ajuda para não cair ou se machucar”, conta.

No sábado, as apresentações serão feitas pelos caipiras adultos, adolescente e crianças. O dinheiro arrecadado com as vendas no local será usado para custear a manutenção da instituição.

Para a coordenadora do ISMAC, Telma Nantes o arraial será marcado por inclusão social. “É interação com as pessoas e mostra que se é possível dançar dentro da instituição, então a gente dança em qualquer espaço. Em 2020 queremos sair dos muros do ISMAC, para conquistar Campo Grande”, afirma.

Segundo a coordenadora, o local conta com 22 programas de atendimento entre as áreas de; cultura, reabilitação, acesso à informação. “O programa de orientação e mobilidade ensina a conhecer o espaço e se locomover”, conclui.

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Os participantes são animados até na despedida da dança (Foto: Kisie Ainoã)
Os participantes são animados até na despedida da dança (Foto: Kisie Ainoã)
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