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No mês da escoliose, mãe e médico alertam para importância de diagnóstico

Ortopedista explica que quando se atinge a fase adulta, não é possível corrigir a curvatura

Geniffer Valeriano | 08/06/2023 14:20
em Anabelli passou por cirurgia de correção de coluna. (Foto: Arquivo Pessoal)
Anabelli passou por cirurgia de correção de coluna. (Foto: Arquivo Pessoal)

No mês de conscientização da escoliose, mãe alerta para que pais identifiquem a doença ainda no seu processo inicial. A doença costuma surgir na infância ou na adolescência e segue evoluindo até a fase adulta, quando não há mais como regredir a curvatura da coluna.

Há seis anos, a costureira Edna Onório Fernandes, de 52 anos, descobriu que a sua filha, Anabelli Fernandes Medina, que tinha 11 anos na época, possuía escoliose. “Nas escolas, os professores de educação física podem identificar isso, pois eles possuem também um olhar clínico. Mas, esse não foi o nosso caso. Fomos descobrir por conta do desnivelamento das roupas, ela colocava uma blusa ou uma saia e ficava torta”, relembra.

Para descobrir o que estava acontecendo com a adolescente, Edna procurou um médico que a diagnosticou, mas optou por somente fazer o acompanhamento de seis em seis meses. Na primeira consulta, sua filha estava com uma curvatura de 26°, quando retornaram para a segunda consulta, já havia progredido para 35°.

“Foram cinco anos de idas ao médico. Veio a pandemia e o médico disse que iria fazer a cirurgia quando ela já estava com um grau mais considerável, mas depois ele cancelou. Foi quando decidimos procurar uma segunda opinião. Aí fomos acompanhando e ela fez a cirurgia quando estava quase com quase 57°”, explicou.

A mãe ainda relata que sua preocupação era de que a rotação da coluna da Anabelli pressionasse seu coração e o pulmão. Naquele momento, ela já sentia dificuldade para andar e permanecer muito tempo sentada ou em pé.

Por conta do alto custo da cirurgia, a família precisou da ajuda da Defensoria Pública para ir à Justiça e conseguir realizá-la. “Tem muitas pessoas que falam que é por estética, né? Mas, como uma jovem de 16 anos, ela precisava disso. Quando ela operou estava com 57°, mas o médico conseguiu reverter 86% da escoliose. Ela está bem mais retinha”.

Edna ainda conta que mesmo se recuperando, a menina já está muito feliz e andando melhor. A alegria também é compartilhada pela mãe, que diz ter vencido uma batalha muito grande.

Anabelli segura seu raio X de antes e depois da cirurgia. (Foto: Arquivo Pessoal)
Anabelli segura seu raio X de antes e depois da cirurgia. (Foto: Arquivo Pessoal)

O especialista em ortopedia e cirurgia de coluna, Ricardo Miranda, explica que a escoliose pode ser causada pela genética como por causas desconhecidas. É comum que a doença surja a partir dos 8, 10 ou até os 15 anos de idade. Por isso, a maioria dos pacientes é criança ou adolescente. Nas meninas, há maior incidência.

“A escoliose no início não é tão fácil de perceber, porque não dói. Ela começa com alguns desvios muito sutis. O principal deles acontecem nos ombros ou então na linha da cintura que ficam um pouquinho mais alterada”, explicou Ricardo.

Quando diagnosticada logo no início, é possível aplicar tratamentos que ajudam a estabilizar ou até mesmo corrigir a escoliose. Nesses casos, podem ser realizadas fisioterapia e até mesmo pilates para a correção.

Nos casos em que a doença está mais avançada, pode ser necessário o uso de coletes, porém, isso depende da idade e do quadro. As cirurgias de correção são realizadas em uma mínima parcela dos pacientes. “Se o paciente não tratar a escoliose pode acontecer essa magnitude da curvatura e avançar mais do que deveria. E quando essa pessoa tiver adulta, essa pessoa pode ter mais dor nas costas, pode ter sensação de fadiga e de cansaço e dificuldade para fazer alguns esportes ou atividades físicas por conta da deformidade na coluna”.

Depois que a pessoa atinge a fase adulta, a escoliose não aumenta a sua curvatura, mas também não reduz. Por isso, o tratamento que os adultos recebem costumam ser voltados para o fortalecimento e estímulo da musculatura da coluna.

Teste de Adams pode ser realizado em casa. (Foto: Alex Machado)
Teste de Adams pode ser realizado em casa. (Foto: Alex Machado)

Como identificar - Além de observar se a criança possui algum desnível nos ombros ou cintura, Ricardo ensina o chamado "teste de Adams", que pode ser utilizado para identificar se a pessoa pode ter escoliose ou não.

Para realizar o exercício, é preciso que as costas fiquem à mostra, por isso o ortopedista orienta que as meninas usem um top e bermuda, enquanto os meninos fiquem somente de bermuda. Também é necessário que estejam com o pé inteiro no chão, podendo estar descalço ou de meia.

Durante o teste, a criança ou adolescente precisa se dobrar para frente, como se fosse tocar em seu joelho com as duas mãos. Quem estiver realizado o exercício deve observar a coluna do alto.

“Quando se faz o movimento de dobrar para frente, os desvios da escoliose ficam mais evidentes. Aí se consegue observar a rotação ou gibosidade na coluna. O desvio da escoliose quando a gente olha, ele é um ‘S’ mais ou menos, mas quando dobra para frente e faz o teste de Adams, ele vira uma rotação, um lado da coluna fica mais alto e outro mais baixo”, explicou.

Mochilas usadas de maneira inadequada podem trazer dores para quem tem escoliose. (Foto: Alex Machado)
Mochilas usadas de maneira inadequada podem trazer dores para quem tem escoliose. (Foto: Alex Machado)

Meias verdades - Umas das perguntas mais frequentes que o médico recebe é sobre o uso inadequado das mochilas e os impactos que eles possuem no desenvolvimento da escoliose. Rodrigo explica que ao usar a mochila apenas com uma das alças apoiadas nos ombros ou com peso não recomendado, pode causar dores na coluna de quem já possui a doença.

O uso do celular por muito tempo com uma postura inadequada também afeta aqueles que já possuem uma propensão maior de ter o desvio de coluna. “Quando não se atenta em relação à postura para encostar totalmente a coluna na cadeira, ou até mesmo ficar sentado com as pernas cruzadas, ou ainda usando celular, tablet para estudar e ficar com o pescoço muito tempo dobrado, isso tudo influencia no avanço da escoliose”.

Danças, como o ballet, não são consideradas como uma forma de tratamento. Ao ver do especialista, esse tipo de dança se encaixa na mesma categoria de esportes, que devem ser realizados, mas não substitui nenhum tratamento. “As crianças que têm escoliose não precisam parar com a vida. Quem gosta de jogar futebol, joga futebol. Quem gosta de ballet, pode fazer ballet. Não tem restrição, desde que faça o seu tratamento dentro dessas técnicas que a gente considera mais adequada”, conclui.

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