Esquina tem receitas portuguesas, memórias e móveis da década de 60
Depois de 4 anos nas feiras, Mercearia Portuguesa voltou a ter ponto fixo na Avenida Mato Grosso
Em uma esquina da Avenida Mato Grosso agora mora um pedacinho de Portugal, com jeitinho de casa de vó. Depois de quatro anos marcando presença em feiras de rua, o restaurante Mercearia Portuguesa voltou a ter um ponto fixo. E que ponto.
A decoração traz um móvel da década de 60 que parece ter saído direto da sala da avó que guardava louças para ocasiões especiais. A vitrine de vidro é quase um convite: quem passa na calçada pode espiar a coreografia da cozinha em movimento. E, com sorte, ser hipnotizado pelo aroma.
Porque é difícil, para não dizer impossível, resistir ao cheiro que escapa do bolinho de bacalhau dourando no óleo ou do pastel de nata saindo do forno, com o creme ainda tremendo de tão fresco.
Tem coisa que a gente não escolhe sentir. Vontade de entrar é uma delas.
De acordo com Flaviany Fleita Leite, a Tuga, a escolha do imóvel não foi por acaso. “Eu namoro esse lugar há muitos anos. Gosto do vidro, da paisagem, de ver as pessoas passando. Não queria ficar presa. Quando surgiu a oportunidade, eu já sabia que tinha de ser aqui”, lembra.
Agora, quem passa pela calçada da Rua 13 de Junho pode espiar a cozinha por uma ampla janela de vidro e acompanhar de perto a preparação dos pratos. Lá dentro, Tuga e o companheiro, Vinícius Almeida de Assunção, seguem em um ritmo que mistura afeto, trabalho duro e muitas memórias.

“Foi tudo feito com o que a gente tinha no bolso e cada canto tem uma história. A ideia era trazer esse aconchego da casa de vó, esse carinho que acalma”, conta.
Nos últimos 4 anos, a Mercearia passou pelas feiras Ziriguidum, Bosque da Paz, Bolívia e Balaio. Agora, voltou ao espaço físico em abril deste ano. A ideia amadureceu depois de uma viagem a São Paulo, onde Tuga participou de um concurso de culinária e voltou premiada na categoria ambulante.
“Minha mente abriu muito e voltei decidida. A gente gosta de fazer isso, sabe fazer, e quer mostrar mais que gastronomia. É uma forma de servir, de contar história e enaltecer nossos biomas”, explica.
Com as portas abertas e raízes fincadas na história pessoal, a decoração da Mercearia é um mosaico de lembranças. No centro do salão, cadeiras com palhinha ao redor de uma mesa tamanho família feita em 1966, ajudam a dar o toque 'casa de vó que Tuga e Vinícius planejaram.
Um banco azul, feito pelo pai de Flaviany, remete à primeira foto que ela tirou quando morou em Portugal. Na parede, um mural exibe arte sul mato-grossenses e um bilhete cheio de afeto, feito pela filha do casal quando a adolescente ainda estava apreendendo a escrever.
Por todo o espaço adesivos, quadros e até uma bandeira de Portugal pendurada resgatam a trajetória familiar. Azulejos no estilo português e até pinturas na calçada convidam quem passa para a experiência lusitana.
“Tem até uma placa com o nome da rua onde eu morava e minha filha nasceu lá em Portugal. E essa mistura é proposital, com gente nova, artistas locais, cultura indígena e africana. A gente traz tudo isso para dentro”, afirma Tuga.
A cozinha segue o mesmo princípio. Os pratos são portugueses de origem, mas adaptados com ingredientes regionais e valorizando a cultura local.
“Lá é amêndoa, a gente usa o baru, que é nosso. Lá é canela, a gente usa especiarias de Iguape que são feitas na cozinha. Para o pastel de nata eles usam a canela, limão, laranja e um pouquinho de cravo para aromatizar. Aqui, a gente usa a baunilha do Cerrado, que é comprada de comunidade quilombola”, explica.

Na primeira semana de funcionamento, o cardápio foi tímido, com bolinho de bacalhau e pastel de nata segurando a barra. Agora, já conta com bacalhau com natas, travesseiro de Sintra com doce de ovos e baru e caldo verde nos fins de semana. “Estamos nos programando até para as festas juninas, com sardinha na brasa”, antecipa Flaviany.
Hoje, a clientela vai de curiosos a gente saudosa, que viveu ou tem família em Portugal. “Tem cliente que vem para conhecer, outros que comem e lembram do pai, da mãe. Esse é o nosso público. E nós queremos conectar pessoas, alimentar e contar histórias ao mesmo tempo”, finaliza Tuga.
A Conveniência Portuguesa fica na Avenida Mato Grosso, 1219. O atendimento é de terça a sexta-feira das 13h às 18h, e no sábado das 10h às 19h.
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