Avanço de plantas que engoliram Rio Pardo surpreende até especialista
Pesquisadora diz que o fenômeno pode estar ligado à agricultura, pecuária intensiva e dejetos.
O avanço de plantas aquáticas no Rio Pardo, em Ribas do Rio Pardo, a 96 km de Campo Grande, surpreendeu a professora do Instituto de Biociências da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Edna Scremin-Dias. Um grande tapete verde, formado principalmente por Pistia stratiotes, conhecida como alface-d’água, cobre uma extensa área do rio e levanta preocupações sobre a qualidade da água e os impactos ambientais.
RESUMO
Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!
O avanço de plantas aquáticas no Rio Pardo, em Ribas do Rio Pardo (MS), tem preocupado especialistas. A professora Edna Scremin-Dias, da UFMS, identificou uma extensa área coberta principalmente por Pistia stratiotes, conhecida como alface-d'água, próxima à Usina Hidrelétrica Assis Chateaubriand. A proliferação das plantas indica excesso de nutrientes na água, possivelmente originados de atividades agrícolas, esgoto ou criação intensiva de animais. A Usina recebeu autorização do Imasul para realizar um vertimento controlado como medida de contenção, embora ainda sem data definida para execução.
Doutora em botânica e especialista em plantas aquáticas, a professora analisou imagens feitas na região e afirmou ter ficado impressionada com a dimensão da área afetada, próxima à Usina Hidrelétrica Assis Chateaubriand, conhecida como Usina Mimoso.
- Leia Também
- Usina vai liberar água para conter avanço de plantas aquáticas que cobriram rio
- Rio some em meses, tomado por plantas aquáticas, e moradores acionam Justiça
“Essas plantas só se proliferam quando encontram condições favoráveis, especialmente nutrientes como nitrogênio, fósforo e potássio. Esse aumento pode estar relacionado a atividades agrícolas, esgoto ou criação intensiva de animais”, explicou.
Segundo a pesquisadora, o fenômeno é um sinal de eutrofização, processo em que a elevação de nutrientes na água favorece a multiplicação de plantas aquáticas, alterando o equilíbrio ecológico.
“A alface-d’água forma sombra sobre a coluna d’água e interfere em toda a biota que vive abaixo dela”, alertou.
Possíveis causas - Entre as fontes de nutrientes que podem estar relacionadas ao fenômeno, a professora cita o escoamento de fertilizantes usados em plantações, o lançamento de dejetos de gado em confinamento e de pocilgas, além do despejo de esgoto não tratado. A redução do nível da água também pode intensificar o problema.
“Quando o volume do rio diminui, os nutrientes ficam mais concentrados, favorecendo a proliferação das macrófitas”, afirmou.
Outro fator apontado é a presença da barragem da Usina Mimoso, que altera o fluxo natural do rio. Segundo a pesquisadora, grandes reservatórios tendem a acumular sedimentos e, com a evapotranspiração elevada, ocorre ainda maior concentração de nutrientes, criando condições para a proliferação das plantas aquáticas.
Ao analisar as imagens enviadas por moradores, a professora afirmou ser possível identificar diferentes tipos de macrófitas além da Pistia e até mesmo o surgimento de outras espécies aquáticas que podem estar formando “baceiros”, espécies de ilhas flutuantes. A Pistia, segundo ela, é uma planta aquática flutuante, mas as imagens parecem conter também espécies com raízes.
Estudo aprofundado - Edna Scremin-Dias ressaltou que é necessário realizar um estudo detalhado do histórico da região, especialmente das alterações ambientais que antecederam esse crescimento explosivo das plantas, que, segundo moradores, começou em janeiro de 2025.
Para ela, a solução imediata passa pela retirada das plantas, mas o enfrentamento definitivo depende da identificação da origem da poluição. A pesquisadora destacou que é essencial realizar análises químicas para verificar os níveis de nutrientes da água, inclusive daquela que é devolvida ao rio por empreendimentos como a Suzano, empresa de celulose. Só assim será possível identificar as causas e adotar medidas eficazes de mitigação.
Hidrelétrica - A usina recebeu ontem autorização do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) para realizar um vertimento controlado em seu reservatório, como medida contra o acúmulo de plantas.
A assessoria de imprensa informou que ainda não há data definida para o procedimento, mas que a usina está em fase de preparação dos equipamentos e que comunicará os moradores do entorno com antecedência.
O vertimento é a liberação da água acumulada antes da barragem, a jusante, onde o rio retoma seu curso. No manejo de macrófitas, o vertimento controlado libera gradualmente a água com as plantas, conduzindo-as ao leito do rio, onde perdem viabilidade em fluxo rápido. De acordo com a assessoria, a operação seguirá o Plano de Manejo de Macrófitas aprovado pelo Imasul, com monitoramento técnico e supervisão ambiental.
Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.