Cercas e pontes aéreas vão proteger fauna pantaneira de atropelamentos na BR-262
Investimento de R$ 30 milhões é o maior já destinado a proteção de animais silvestres em rodovias federais
A BR-262, uma das principais vias de acesso ao Pantanal, receberá um grande plano de mitigação para reduzir os atropelamentos de fauna. A iniciativa, que foi debatida em audiência no DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) nesta quinta-feira (4), contará com um investimento público de R$ 30 milhões, o maior já destinado à proteção de fauna em rodovias federais. A proposta abrange trechos da rodovia entre Aquidauana e Corumbá e foca na redução dos acidentes com animais de grande porte, como o jacaré-do-pantanal e o tamanduá-bandeira.
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A BR-262, importante acesso ao Pantanal, receberá investimento de R$ 30 milhões para reduzir atropelamentos de animais. O projeto, discutido em audiência no DNIT, prevê intervenções entre Aquidauana e Corumbá, com foco em espécies de grande porte como jacarés e tamanduás-bandeira. O plano inclui cercamento de trechos de até 13 km, passagens superiores e inferiores para fauna, e rampas experimentais. Levantamento recente mostrou média de 36 atropelamentos diários na rodovia. A implementação completa está prevista para 2026, com medidas específicas para períodos de cheia e seca no Pantanal.
Desde 2013, já ocorreram diversas intervenções na BR-262, incluindo a instalação de radares, placas educativas e a limpeza da vegetação ao longo de 7 metros do acostamento, para dar melhor visão aos motoristas em relação aos animais próximos à rodovia. Em 2019, foi feito um cercamento da área de vegetação às margens da rodovia, mas as cercas não foram tão efetivas, principalmente para os grandes animais, que conseguiam atravessar devido a falhas estruturais. Além disso, as cercas estavam próximas a 15 pontes e os próprios moradores da região, como os isqueiros que trabalham com iscas, criaram aberturas nas cercas para facilitar o acesso às pontes da rodovia.
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Em 2021, um estudo revelou que a taxa de atropelamento de animais na BR-262 era de 13,8 atropelamentos por quilômetro. Durante um levantamento de 108 dias, foram registrados 3.833 atropelamentos, com uma média de 36 atropelamentos por dia. O tamanduá-bandeira foi uma das espécies mais afetadas, com 59 atropelamentos registrados.
Medidas práticas e eficazes - O projeto inclui diversas estratégias para mitigar os atropelamentos. Serão cercados trechos de até 13 km ao longo da rodovia, além da instalação de passagens superiores e inferiores para fauna e rampas experimentais que permitam a saída dos animais da pista.
"As pontes são uma rota de passagem preferida para os animais", afirmou a bióloga Fernanda Abra, mencionando que espécies como macacos e bichos-preguiça utilizam as pontes aéreas da BR-262.
Além disso, um estudo de 2021, conduzido por Débora Yogui, sugeriu que cercamentos longos são mais eficazes do que cercas curtas na redução dos atropelamentos. Por isso, o DNIT adotará cercamentos de até 13 km, com variação entre 3 e 13 km, totalizando 18 trechos ao longo da rodovia.
Atualmente, a rodovia já conta com 41 bueiros, 77 pontes que estão sobre rios ou áreas de vazão e duas pontes aéreas, mas o plano de mitigação inclui a instalação de 10 novas passagens de fauna, 22 bueiros de drenagem, 44 pontes e 20 radares. Sete novas pontes aéreas deverão ser concluídas até o primeiro semestre de 2026.
Além disso, 58 acessos com gradil cercados serão instalados, especialmente nas entradas das fazendas, para evitar brechas nas cercas, mas sem prejudicar o acesso dos moradores à rodovia.
Proteção contínua - A segurança dos animais será reforçada com a instalação de 58 acessos com gradil para evitar que os moradores quebrem as cercas. O plano também inclui medidas adaptativas para o Pantanal, como a criação de ilhas artificiais para abrigar a fauna em caso de enchentes. Durante a seca, as cercas poderão ser removidas, caso seja necessário, para evitar que os animais fiquem presos e morram queimados.
Apesar das medidas, algumas espécies continuam sendo vulneráveis aos atropelamentos, especialmente animais de pequeno porte, como tatus, anfíbios, répteis, morcegos e aves, que ainda devem ser vítimas frequentes de acidentes. Além disso, algumas espécies de médio porte, como os cervos-do-pantanal, o veado-campeiro, o cateto e a queixada, podem apresentar resistência às intervenções devido ao seu comportamento peculiar.
Ranking de atropelamentos - Entre os animais mais atropelados na BR-262, o jacaré-do-Pantanal lidera o ranking, com 516 atropelamentos registrados. Em seguida, está o tatu-galinha, com 305 ocorrências. O cachorro-do-mato ocupa a terceira posição, com 300 atropelamentos. O tatu-peba vem logo após, com 268 atropelamentos, enquanto a capivara completa o top 5, com 155 incidentes.

O projeto é visto como uma grande conquista para as comunidades de Corumbá, Miranda e Aquidauana. Leonardo Gomes, diretor executivo do SOS Pantanal, ressaltou que a redução dos atropelamentos transforma o Pantanal em um modelo de coexistência entre preservação ambiental e segurança viária. "Com a redução dos atropelamentos, o Pantanal se torna um exemplo de como o cuidado com a fauna e a segurança viária podem caminhar juntos", afirmou.
Espera-se que o plano traga benefícios tanto ambientais quanto econômicos, com o retorno do investimento previsto entre 8 e 10 anos. O projeto deverá estar completamente implementado em dois anos, até o primeiro semestre de 2026, quando está prevista a conclusão das pontes aéreas, o que deve transformar a rodovia em um modelo de segurança e preservação ambiental.
Ainda durante a audiência, o superintendente regional do DNIT em Mato Grosso do Sul, Euro Nunes Varanis Junior, comentou sobre os desafios futuros para a BR-419, destacando a falta de histórico de atropelamentos na rodovia e as estratégias que serão adotadas para mitigar os impactos ambientais.

"A BR-419, como vocês comentaram, é um desafio que vamos enfrentar mais para frente, principalmente porque se trata de uma implantação. Nesse caso, não temos um histórico de monitoramento de atropelamentos. A nossa experiência, como mencionei na reunião, é que bueiros acima de 1,5 metros já são projetados com cercamento para condução de fauna, assim como as pontes e outras estruturas", afirmou.
Euro também ressaltou a importância dos novos monitoramentos que serão realizados à medida que o projeto de construção avança, com previsão de contratação da obra para o segundo semestre do próximo ano.
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