IBGE propõe nova divisão ecológica e revela diversidade do Cerrado e Pantanal
Mapeamento identifica 19 regiões naturais nos dois biomas que moldam o território sul-mato-grossense

Proposta inédita de regionalização ecológica do território brasileiro, apresentada pelo IBGE, evidencia a complexidade ambiental dos biomas que definem grande parte da paisagem de Mato Grosso do Sul: Cerrado e Pantanal.
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O estudo “Domínios e Regiões Naturais Terrestres dos Biomas do Brasil” será lançado na quinta-feira (27), durante a COP-30 em Belém, e propõe um retrato detalhado da diversidade natural do país com base em critérios ecológicos e ambientais, e não apenas nos limites administrativos.
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A nova divisão identifica 52 domínios naturais e 271 regiões naturais no Brasil. Desse total, 69 regiões pertencem ao Cerrado e ao Pantanal — biomas que se encontram majoritariamente em Mato Grosso do Sul e desempenham papel central na conectividade ecológica do Centro-Oeste e do Pantanal Mato-Grossense.
Cerrado: mosaico de chapadas, planaltos e savanas em MS
Segundo o IBGE, o Cerrado brasileiro reúne 11 domínios naturais e 59 regiões naturais, distribuídas sobre relevos elaborados, rochas antigas do Escudo Atlântico e bacias sedimentares. Parte expressiva dessa diversidade está em Mato Grosso do Sul.
No Estado, o Cerrado aparece como um mosaico de paisagens que inclui:
Chapada dos Parecis e Chapada dos Guimarães, que se conectam ao norte do Pantanal;
Planalto da Bodoquena e Serra de Maracaju, áreas de contato entre savanas, florestas estacionais e ambientes calcários;
Planaltos residuais do Cerrado Meridional, que avançam sobre o sul de MS;
planícies aluviais do Rio Taquari e do Rio Miranda, importantes zonas de transição entre Cerrado e Pantanal.
A diversidade de solos — especialmente Latossolos e Argissolos — e o relevo variado explicam a grande quantidade de regiões naturais dentro do bioma.
Para o pesquisador do IBGE, Pedro Edson Leal Bezerra, essa heterogeneidade desmonta a ideia de biomas uniformes: “O Cerrado é extremamente diverso. As formações savânicas convivem com trechos florestais, áreas alagáveis e relevos muito distintos. A regionalização ajuda a entender essa complexidade e a orientar políticas de conservação”, afirma.
Pantanal: bioma singular moldado por rios e pulsos de inundação
No caso do Pantanal, o estudo identifica 2 domínios naturais e 8 regiões naturais, todas concentradas nas planícies aluviais que abrangem Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. Em MS, estão algumas das paisagens mais emblemáticas do bioma.
O IBGE destaca que o Pantanal é estruturado por enormes leques aluviais, responsáveis pela dinâmica anual de cheias e secas. Essa variação determina:
áreas de savana e campos abertos,
ambientes florestais de transição,
zonas de contato com Cerrado e Chaco,
mosaicos de lagoas, cordilheiras e baías.
O estudo reforça que a dinâmica hidrológica do Pantanal — especialmente influenciada pelos rios Paraguai, Taquari, Miranda, Negro e Aquidauana — é um dos elementos que definem suas regiões naturais.
MS no centro da transição Cerrado–Pantanal
Ao detalhar 271 regiões naturais brasileiras, o IBGE mostra que Mato Grosso do Sul está exatamente no encontro de duas grandes unidades ecológicas. Isso explica por que o Estado concentra:
zonas de transição entre savanas, florestas estacionais e áreas úmidas;
altos níveis de biodiversidade associados à sobreposição de paisagens;
grandes conflitos de uso do solo, especialmente na borda do Pantanal e no Cerrado Meridional;
importância estratégica em políticas de conservação, corredores ecológicos e proteção de nascentes.
Mapa ecológico pode orientar políticas e estatísticas
Segundo o IBGE, a nova regionalização tem potencial para orientar:
criação e redefinição de unidades de conservação;
ações de gestão ambiental e monitoramento de biodiversidade;
políticas de uso do solo;
estudos sobre água, clima e impactos da mudança climática;
produção de estatísticas socioambientais e econômicas.
Em Mato Grosso do Sul, essa abordagem pode ajudar a balizar decisões em áreas como:
regularização de propriedades rurais,
preservação de áreas úmidas do Pantanal,
manejo de nascentes e recarga do Aquífero Guarani,
expansão agropecuária no Cerrado,
planejamento regional baseado em critérios ecológicos.
Nova leitura do território
O estudo, que utilizou dados geoespaciais contínuos do Banco de Informações Ambientais do IBGE, tenta resgatar o retrato natural original das paisagens, mesmo em locais fortemente alterados pela ação humana — caso da porção leste de MS, onde o Cerrado foi amplamente substituído por pastagens e agricultura.
A proposta será apresentada oficialmente na COP-30, marcando um passo importante para integrar ciência, planejamento ambiental e políticas públicas.

