Título de “mais arborizada” contrasta com lixo e tocos de árvores pelas ruas
Diferente do Centro, bairros mais afastados vivem realidade oposta quando o assunto é arborização

Enquanto áreas centrais exibem ruas rodeadas por ipês e outras espécies típicas do cerrado, nos bairros mais afastados a escassez de árvores é evidente. O cenário vai ainda mais além, com tocos de árvores expostos e acúmulo de lixo e entulho espalhados pelas ruas da Capital. O Dia Nacional do Meio Ambiente, celebrado no dia 5 de junho, expõe o contraste entre o título da “Capital mais arborizada” e a realidade.
RESUMO
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Campo Grande, conhecida como "capital mais arborizada", enfrenta um contraste entre título e realidade. Enquanto a região central ostenta ipês e vegetação típica do cerrado, bairros periféricos sofrem com a falta de árvores, acumulando lixo e entulho. O Dia Nacional do Meio Ambiente expõe essa disparidade, impactando a qualidade de vida dos moradores. A ausência de árvores transforma ruas em ilhas de calor, prejudicando pedestres e moradores. No bairro Estrela do Sul, a Rua das Balsas ilustra a situação, com calçadas tomadas por entulho e ausência de sombra. Moradores relatam dificuldades para caminhar sob o sol forte e a falta de arborização. Em outros bairros, como o Jardim Aero Rancho, a situação se repete, com lixo e mato tomando o lugar das árvores, comprometendo a saúde e o bem-estar da população.
A ausência de cobertura vegetal não só compromete a estética urbana, mas afeta diretamente a qualidade de vida. Sem sombra, as ruas tornam-se ilhas de calor.
O aposentado Pedro Padilha, de 68 anos, conhece cada pedaço do Bairro Estrela do Sul, onde vive há quatro décadas. Nesta quarta-feira (04), ao descer a íngreme ladeira da Rua das Balsas, sob o sol escaldante da manhã, lamentou mais uma vez a ausência que há anos sente: a sombra das árvores.
“Eu ando a pé pelo bairro e a tarde faço caminhada. Poderia ter canteiros mais bonitos, ter árvores plantadas. Tem rua que tem, mas ainda falta”, disse.
Enquanto Pedro descia a rua, do outro lado a cena era ainda mais desoladora: uma calçada tomada por entulhos, restos de obra e lixo.
“É um absurdo. O pessoal não respeita o meio ambiente. No lugar desse lixo todo poderia ter árvores, mas o que a gente vê é isso aí”, lamentou.
A aposentada Auzira Januário, de 78 anos, vai mais além e fala sobre a qualidade de vida. Na mesma rua, ela já desceu do ônibus suada de tanto calor e, mais uma vez, sem sombra para se salvar.
“Não tem um canto com sombra, fica difícil de respirar. Falta muita árvore, falta muita coisa, o bairro poderia ser tomado de verde e de limpeza. Tem algumas perdidas, mas poderia ter mais”, pontuou.
Na outra ponta, o Bairro Jardim Aero Rancho é visto por cima como o mais arborizado em relação aos canteiros centrais. Mas, pelas ruas adentro não é isso que se vê.
O porteiro Nildo Ribeiro, de 47 anos, mora há 13 anos no local. A equipe de reportagem o encontrou na Rua Babaçu, tendo que desviar de entulhos que chegavam a alcançar o meio da rua.
“Casa que tem árvore é muito bom, mas tem lugar que falta. Na minha casa mesmo, pretendo colocar na frente para ter sombra. Tem lugares que a gente passa só tem mato, lixo, dá uma sensação de calor”, destacou.

Outro lado - Caminhar pelas ruas sob um sol escaldante, sem uma única árvore para oferecer alívio, dá a sensação de ar seco, áspero e desconfortável. O contraste é evidente em regiões onde árvores antigas formam um verdadeiro túnel verde. Ali, o ar é mais fresco, os passantes andam com mais tranquilidade e até o ambiente parece mais silencioso, protegido pelo som das folhas balançando e do canto dos pássaros.
Na frente da casa da aposentada Milania Flores, de 78 anos, tem uma árvore de 40 anos. O cenário ajuda a Rua Ouro Branco, no Bairro Jardim Joquei Club, a ter mais verde e vento mais fresco.

“É gostoso, é muito bom. Eu adoro árvore, eu gosto muito, eu me sinto muito bem, a sombra é muito boa. Essa aí meu marido plantou. Eu pretendo plantar mais duas aqui na frente. Árvore é tudo de bom, o ar fica mais fresco”, disse contente.
Ela ainda compara a falta de conscientização das pessoas com a vida no interior. “Eu condeno a atitude de quem corta árvore ou suja o meio ambiente, por isso que no interior é mais saudável, tem mais árvores, as pessoas cuidam mais.”

Dados – O índice de arborização em Campo Grande é de 91,4%, conforme dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A média do Brasil é de 66%.
Na visão do arquiteto e urbanista, Ângelo Arruda, que também foi um dos responsáveis pela elaboração do Plano Diretor de Campo Grande, em vigor desde 2018, um dos principais desafios que Campo Grande enfrenta para o meio ambiente é a conscientização.
“Eu acredito que nossos problemas são os mesmos das diversas cidades: educação e conscientização. Desde o nascimento, passando por nós que usamos a cidade todos os dias. Ainda temos 34% da cidade com vazios urbanos que precisamos selecionar o que será preservado para o futuro; precisamos continuar a ter mais de 70m² de área verde por habitante. Criar patrulhas de bairro com a comunidade me parece ser uma medida social, comunitária e participativa que dá certo em todos os cantos”, pontuou.
O profissional completa enfatizando sobre a importância da arborização na vida dos seres humanos.
"A arborização urbana é essencial para a qualidade de vida nas cidades. Ela contribui para o bem-estar dos habitantes, oferecendo diversos benefícios ambientais, sociais e econômicos. A redução da temperatura é uma consequência importante, diminuindo a incidência de ilhas de calor ao longo do tecido urbano. Ao integrar os resultados da pesquisa urbanística com práticas de arborização, os municípios podem criar ambientes urbanos mais sustentáveis e agradáveis, melhorando a qualidade de vida de seus habitantes. Campo Grande, portanto, é a mais importante do País”, concluiu.
A pesquisa “Floresta Urbana de Campo Grande”, da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) mostra que a área verde privada de Campo Grande ocupa 30,52% de toda área urbana, o que compreende 10773,99 hectares.
Nesta categoria, a região do Bandeira abriga a maior área de cobertura totalizando 2738,40 ha, sendo que o bairro Moreninhas concentra a maior parte, com 829,44 ha.
Por outro lado, a região do Centro contém a menor área de cobertura verde privada, com 263,32 ha, com destaque para o bairro Cabreúva, que contém 2,43 ha.
Em relação aos canteiros centrais, a região do Anhanduizinho tem a maior área de cobertura verde da categoria, totalizando 49,43 ha, sendo que o bairro Aero Rancho concentra a maior parte, com 20,74 ha. Já a região urbana do Segredo tem a menor área, com 5,04 ha, com destaque para o bairro Monte Castelo, que concentra apenas 0,03 ha.
Os cinco bairros com maior presença de áreas verdes são: Aero Rancho, com 20,7403 ha; Santa Fé, com 9,0500 ha; Veraneio, com 8,2415 ha; Leblon, com 8,2269 ha; e Novos Estados, com 7,4606 ha.
Quanto às rotatórias que possuem árvores, os bairros que se destacam são: Nova Campo Grande (4,9315 há); Núcleo Industrial (1,3979 há); Popular (1,3846 há); Santo Amaro (0,8163 há); e Centenário (0,4269 há).
Campo Grande tem 73,66 m² de área verde por habitante. A SBAU (Sociedade Brasileira de Arborização Urbana) define 15 m² por habitante como o índice mínimo ideal para garantir qualidade de vida à população.

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