Especialista em cidades, urbanista garante: “o Centro tem solução”
Sugestões incluem estímulo a reformas, imposto progressivo e arborização

A crônica crise no Centro de Campo Grande, que assiste ano a ano ao fechamento de lojas e serviços, tem solução. Quem garante é o arquiteto e urbanista Fayez José Rizk, especialista em cidades. Ele aponta até mesmo que falta imaginação para a administração pública.
RESUMO
Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!
O Centro de Campo Grande enfrenta uma crise com fechamento de lojas e serviços, mas tem solução, segundo o arquiteto e urbanista Fayez José Rizk. Ele sugere a criação de um fundo para financiar reformas de imóveis, com juros subsidiados e isenções fiscais, além de medidas como arborização e incentivos para atividades noturnas. O especialista aponta que a desativação do terminal de ônibus na antiga rodoviária foi crucial para o esvaziamento da região. Sobre mobilidade, destaca que Campo Grande passou de 33 mil para 600 mil veículos em quatro décadas, alertando para futuros desafios no estacionamento da Avenida Afonso Pena.
“Hoje, o Centro é um problema na maioria das grandes cidades brasileiras. Mas eu acho que tem solução e tem que ter solução. Principalmente por causa do custo da cidade. A área central tem toda a infraestrutura: água, esgoto, luz, telefonia, internet, asfalto, calçada, iluminação. E isso não pode ser abandonado”, afirma o urbanista.
Mas, essa reformulação do Centro depende de dinheiro. Ele sugere a criação de um fundo para financiar a reforma dos imóveis. O proprietário deveria seguir os padrões impostos pelo poder público.
“Você poderia oferecer esse dinheiro a juros subsidiados, com prestações longas. De uma maneira que o proprietário pudesse reformar aquele prédio. É preciso ocupar esses imóveis. Isso ia gerar emprego e uma onda de reformas no Centro da cidade. O poder público poderia oferecer isenção no ISS [Imposto sobre Serviços] da construção, isenção de IPTU [Imposto Predial e Territorial Urbano] por dez anos. Em compensação, o imóvel que estiver desocupado, você pode aplicar o IPTU Progressivo, aumentar o imposto”, afirma Fayez.
Porém, há medidas mais simples que também podem ser adotadas: como arborização do Centro (para diminuir o calor), limpeza e estímulo de redução de impostos para atividades noturnas, como restaurantes.
“Eu baseei isso na ideia que o Jaime Lerner fez no Centro de Curitiba lá em 1976, quando ele recuperou o Centro transformando uma rua com atividades noturnas. Quando você passa no Centro de uma cidade e ele à noite ainda está pulsante, aumenta a sensação de segurança”.
Na passagem por Campo Grande, Jaime Lerner foi o arquiteto criador do Taveirópolis, da passarela da Barão do Rio Branco e do sistema de transporte que levava as pessoas dos bairros ao Centro.
Para Fayez, o principal fator para esvaziamento da área central foi a desativação do terminal de ônibus na antiga rodoviária, na Rua Joaquim Nabuco. “Mataram o Centro de Campo Grande”. A região ainda enfrenta problemas como os alugueis caro e as construções deterioradas (literalmente caindo aos pedaços).
“Pega dois andares da antiga rodoviária e transforma num grande centro de saúde 24 horas. Hoje, infelizmente, eu vejo o poder público sem imaginação. Por exemplo, o que se faz de arborização no Centro? Você vai andar no sol quente? Você vai para o shopping”, diz o urbanista.
Cabeça, tronco e carro – Outra reclamação recorrente sobre o Centro é a falta de vagas para estacionamento. Fayez lembra que há medidas como estacionamento rotativo ou até mesmo fechar o centro para os carros, mas admite que isso vai contra a cultura do campo-grandense. Segundo ele, há dez anos, 350 mil pessoas passavam por dia pela região central.
“Rua não é feita para estacionar, rua é feita para circular. Estacionamento é uma concessão que o poder público faz. O estacionamento na Afonso Pena hoje é um problema. Vai chegar um dia que a Afonso Pena vai ter que tirar o estacionamento, isso é uma realidade”.
Conforme Fayez, em 1979, a cidade tinha 33 mil veículos e 230 mil habitantes. Atualmente, são 600 mil veículos. Ou seja, cresceu 20 vezes. “Mas, ainda em 1980, quando assumi o Detran [Departamento Estadual de Trânsito] eu escrevi um artigo, falando que o campo-grandense é feito de cabeça, tronco e carro. Para andar cem metros, ele pega carro. É o nosso hábito cultural”.
Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.