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EpiMania

Bebês reborn: quando é homem, é hobby. Quando é mulher, é loucura?

Fenômeno dos reborn reacende discussão sobre limites entre afeto, fantasia e comportamento social

Por Lucas Mamédio | 20/05/2025 15:35

Assista ao episódio completo do EpiMania:

RESUMO

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O fenômeno dos bebês reborn, bonecas hiper-realistas que simulam recém-nascidos, tem gerado debates sobre preconceitos de gênero. Enquanto homens que colecionam miniaturas são vistos com naturalidade, mulheres que brincam com bonecas enfrentam estigmas, conforme destacou a psicóloga Lia Ocaras. As bonecas, que podem custar mais de R$ 1.000, são procuradas tanto por colecionadores quanto para fins terapêuticos. Apesar de casos polêmicos envolvendo pessoas que as levam a hospitais, especialistas afirmam que a maioria dos compradores mantém uma relação saudável com os objetos, usando-os como forma de expressão ou entretenimento.

A febre dos bebês reborn reacendeu um debate que vai além da fantasia: por que, quando homens colecionam carrinhos ou bonecos de ação, é considerado hobby — mas, quando mulheres adultas brincam de boneca, são vistas como “loucas”? O questionamento foi levantado pela psicóloga Lia Acarez durante o podcast EpiMania, que também recebeu os artesãos, vete Marques e Breno Marques, que produzem os reborn.

A discussão ganhou força nas redes sociais após episódios em que pessoas levaram bonecas hiper-realistas a hospitais e espaços públicos, tratando-as como se fossem crianças reais.

Feitos de vinil, com cabelos implantados fio a fio e detalhes como veias, manchas, marcas de vacina e até teste do pezinho, os reborn são criados para parecerem o mais próximo possível de um recém-nascido. Os preços variam de R$ 350 a mais de R$ 1.000, de acordo com o acabamento e os acessórios.

Ivete, que atua como artesã há mais de dez anos, afirma que a procura disparou após vídeos de influenciadoras simulando rotinas com os bebês viralizarem. “Só em dezembro passado vendi mais de 30 unidades”, contou.

Segundo ela, a maioria das clientes sabe que está lidando com uma boneca, mesmo quando encena situações como troca de roupa ou hora do banho. “É uma performance, uma brincadeira que chama atenção, principalmente de crianças”, explicou.

Uso terapêutico e exageros - Para Lia, o uso do reborn pode ter finalidades variadas, inclusive terapêuticas. “Ele pode funcionar como objeto transicional, um recurso simbólico para lidar com lutos, desejos ou memórias. Nem sempre há patologia envolvida”, explicou.

Apesar disso, a psicóloga reconhece que há casos em que o vínculo extrapola o saudável. “Quando a pessoa perde a noção do limite entre o real e o simbólico, aí sim pode haver um quadro preocupante”, afirmou. Por isso, defende que cada caso deve ser analisado individualmente — e sem preconceitos.

Breno, que trabalha com Ivete na produção das bonecas, acredita que parte da polêmica é alimentada por vídeos feitos para viralizar. “As pessoas confundem performance com desequilíbrio. A maior parte só quer mostrar o trabalho ou se divertir”, avaliou.

A repercussão levou à apresentação de um projeto de lei para proibir a entrada de bonecas reborn em unidades de saúde pública, como se fossem crianças. A proposta reacendeu o debate sobre o papel do Estado na regulação de comportamentos individuais.

Para a psicóloga, reações extremas como essa podem refletir preconceito com práticas associadas ao feminino. “Quando um homem coleciona carrinhos, é hobby. Quando uma mulher brinca de boneca, é loucura?”, provocou.

Afeto também conta - O episódio do podcast também trouxe relatos emocionantes. Ivete lembrou o caso de uma idosa com Alzheimer que realizou o sonho de infância ao ganhar um reborn. “Foi tão bonito que chorei vendo o vídeo”, contou. Segundo ela, metade das clientes compra para presentear crianças; a outra metade, são adultas colecionadoras.

A artesã afirma nunca ter atendido alguém que tratasse a boneca como um filho de verdade. “Essas histórias exageradas são raras e, muitas vezes, feitas só para aparecer”, concluiu.

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