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Capital

Aos 63 anos, "seo" Jair vive entre o medo e o sonho de voltar a andar

Mariana Lopes | 13/07/2012 14:21

Mais uma vítima do trânsito violento, ele teve parte da perna esquerda amputada e agora o maior desejo é uma protese.

Com um sorriso humilde e o olhar um pouco perdido, Jair coloca a mão no curativo e responde: “Acabou comigo, não tenho mais a minha perna" (Foto: Mariana Lopes)
Com um sorriso humilde e o olhar um pouco perdido, Jair coloca a mão no curativo e responde: “Acabou comigo, não tenho mais a minha perna" (Foto: Mariana Lopes)

Deitado na cama do hospital pela segunda vez após o acidente que o deixou sem metade da perna esquerda, Jair dos Santos, 63 anos, traz no coração um misto de sentimentos. Hoje, em meio ao medo de uma nova amputação, o único sonho dele é conseguir uma prótese e voltar a andar.

“Eu coloquei a mão assim para tentar fazer o ônibus parar, mas ele continuou, eu caí e ele passou por cima da minha perna... Graças a Deus que foi só de uma”, conta “seo” Jair, tentando explicar como tudo aconteceu no dia 8 de junho.

Depois do susto, a triste notícia foi dada na madrugada seguinte ao acidente: Jair passaria por uma cirurgia e os médicos teriam que amputar metade da perna. “Até hoje não sei direito o que aconteceu, mas a perna do meu pai ficou moída”, diz uma das filhas, Leonilda da Silva Santos, 22 anos.

Dois dias depois, Jair recebeu alta da Santa Casa e foi morar na casa de Leonilda, onde teve que se adaptar à nova rotina e à nova condição física. “Ele andava muito de bicicleta, gostava de ir visitar os amigos... Isso é uma das coisas que ele mais sente falta”, conta a filha.

Um mês depois do acidente, no dia 10 de julho, “seo” Jair teve que ser internado novamente, pois a região amputada estava necrosada. “Tenho medo de os médicos quererem arrancar mais um pedaço da minha perna”, afirma.

Na Santa Casa, ele está acompanhado da filha, que abriu mão até mesmo do emprego que tinha há quatro anos e cinco meses para cuidar do pai. “Se eu não tivesse ela, não sei o que seria de mim”, diz Jair.

Apesar do jeito alegre e manso dele, Leonilda entrega o pai. “Teimoso que só”, conta, lançando em seguida um olhar carinhoso a ele.

A filha Lonilda largou mão do emprego para cuidar do pai no hospital (Foto: Mariana Lopes)
A filha Lonilda largou mão do emprego para cuidar do pai no hospital (Foto: Mariana Lopes)

Durante a conversa com a reportagem do Campo Grande News, Jair tem comportamento que vai a extremos. Ora abre um sorriso, conformado com o que tem para hoje e sem guardar mágoa alguma do motorista que dirigia o ônibus no dia do acidente. Ora abaixa a cabeça, desacreditado de que um dia voltará a ter a vida de antes.

Com um sorriso humilde e o olhar um pouco perdido, ele coloca a mão no curativo e, quase em um sussurro, responde: “Eu nem sei quem é o motorista, nunca vi a cara dele, não tenho raiva... Mas acabou comigo, não tenho mais a minha perna. Só espero que a empresa do ônibus pague por isso”.

Orgulhoso em contar que tem três carteiras de trabalho preenchidas, Jair foi aposentado por invalidez em 1997, quando um balde de cimento caiu na cabeça dele em uma construção na qual trabalhava. O acidente causou a surdez no ouvido esquerdo e perda parcial da audição do direito.

“Mesmo assim, ele ainda fazia uns bicos, não conseguiu ficar parado”, conta Leonilda.

Agora, eles vivem da espera. Esperam a Santa Casa liberar a cirurgia do enxerto. Esperam pela indenização.Esperam pela doação de uma prótese.

Pelo retorno à casa. Esperam pela adaptação à nova vida.

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