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Lugares por Onde Ando

Campo-grandense conta como é viajar sozinho de moto pela América do Sul

A aventura solitária em cima de uma moto teve 7.350 km de estradas da Bolívia, Peru, Chile, Argentina e Paraguai

Paulo Nonato de Souza | 23/01/2020 07:12
O campo-grandense Firmo Henrique Alves e sua companheira ao pé do Vulcão Licancabur, já na região de San Pedro de Atacama, no Chile (Foto: Arquivo pessoal)
O campo-grandense Firmo Henrique Alves e sua companheira ao pé do Vulcão Licancabur, já na região de San Pedro de Atacama, no Chile (Foto: Arquivo pessoal)

Pessoas, culturas diferentes, paisagens, experiências inesquecíveis e muita história para contar. Se fosse para resumir, esta poderia ser uma definição para a aventura solitária de 7.350 km, em cima de uma moto, realizada pelo presidente da CBM (Confederação Brasileira de Motociclismo), o campo-grandense Firmo Henrique Alves, por cinco países da América do Sul - Bolívia, Peru, Chile, Argentina e Paraguai – entre 25 de dezembro de 2019 a 11 de janeiro de 2020.

Desde a partida em pleno Natal, foram 17 dias rodando por 14 localidades, encarando as diferentes regras aduaneiras, as imprevisibilidades das estradas e do clima, as vezes quente, as vezes frio congelante, especialmente na região montanhosa da Cordilheira dos Andes, e tudo isso com a solidão como companheira.

“Viajar é sempre muito bom, algo que fica para sua vida toda, e conhecer novas culturas, novos locais e paisagens diferentes das que você está acostumado faz você crescer como pessoa, mas viajar de moto é uma sensação indescritível, pois te proporciona sentir o clima real, se quente ou frio, e os aromas das paisagens e das localidades por onde passa. Se a viagem for de moto, e sozinho, tudo fica ainda mais especial porque isso te proporciona uma experiência espiritual de crescimento da alma, um encontro com você mesmo”, disse Firmo Henrique Alves.

Planejamento - Esta foi a sua terceira viagem de moto por países da América do Sul, mas nas duas vezes anteriores teve a companhia de amigos igualmente apaixonados por motociclismo. Firmo contou ao canal de turismo Lugares Por Onde Ando, do Campo Grande News, que o sonho de cruzar sozinho a América do Sul em sua moto Honda 1000L África Twin, desde Campo Grande até San Pedro de Atacama, no nordeste do Chile, e Machu Picchu, no alto da Cordilheira dos Andes, no Peru, virou realidade depois de dois meses de planejamento.

“Quando você está disposto a realizar uma viagem como essa, a primeira coisa a fazer é planejar, planejar e planejar, e eu pensei em tudo que poderia acontecer. Estudei inclusive sobre as regras aduaneiras de cada país por onde eu iria passar, e printei todas que abordavam viagens rodoviárias. Nas vezes em que fui abordado eu tinha embasamento jurídico para tudo que os policiais pediam, e talvez por isso não tive nenhum perrengue com pedido de propina, algo infelizmente comum na travessia da Bolívia, por exemplo.”, comentou.

Melhor levar o passaporte - Foi uma viagem com 14 paradas, entre dormir, abastecer a moto, resolver questões aduaneiras, contemplar paisagens, conhecer pessoas e lugares. A primeira delas, em Corumbá, ainda em território brasileiro, a 400 km de Campo Grande, na fronteira com a Bolívia, onde chegou às 14h do dia 25 de dezembro e seguiu direito para o Posto Esdras, uma unidade fronteiriça da Receita Federal do Brasil que abriga o serviço de controle migratório terrestre dos dois países.

“Optei por resolver logo as questões da aduana, fiz o registro de saída do Brasil e entrada na Bolívia, e só depois fui procurar um hotel. Por ser Natal eu cheguei lá e havia apenas duas pessoas na fila, mas quando cruzei a fronteira no dia seguinte vi que na fila devia ter pelo menos 200 pessoas”, comentou Firmo Henrique Alves.

Sobre o documento obrigatório para estrangeiros de carro ou de moto em viagem entre Brasil e Bolívia, Firmo recomenda que na aduana o ideal é apresentar o passaporte para obter o carimbo oficial e não o Registro de Nascimento.

“Se usar o RG eles vão te dar um papel carimbado que você poderá perder ao longo da viagem, e se perder o papel estará perdido, pois é um documento que será solicitado pelas autoridades policiais em vários momentos. Por isso prefiro ter o carimbo no meu passaporte, que é mais difícil de extraviar”, ressaltou ele.

Firmo Henrique Alves em Machu Picchu, no alto da Cordilheira dos Andes, no Peru, um lugar emblemático (Foto: Arquivo pessoal)
Firmo Henrique Alves em Machu Picchu, no alto da Cordilheira dos Andes, no Peru, um lugar emblemático (Foto: Arquivo pessoal)
San Pedro de Atacama é uma cidadezinha de pouco mais de 5 mil habitantes, na região de Antofagasta, uma espécie de oásis no deserto do Atacama (Foto: Divulgação)
San Pedro de Atacama é uma cidadezinha de pouco mais de 5 mil habitantes, na região de Antofagasta, uma espécie de oásis no deserto do Atacama (Foto: Divulgação)

A Meca dos motociclistas - Até chegar em San Pedro de Atacama, uma espécie de Meca dos motociclistas, Firmo Henrique Alves passou por Santa Cruz de la Sierra e Cochabamba, na Bolívia; Desaguadero, Puno, Cusco, Machu Picchu e Chucuito, no Peru; Arica, Antofagasta e finalmente a cidade de destino em território chileno.

Oásis no inóspito deserto do Atacama, no Chile, San Pedro é um dos lugares no mundo mais procurados pelos motociclistas sul-americanos. “Quem gosta de moto, ou já foi lá ou tem desejo de ir. Talvez o maior encanto seja o desafio de encarar o deserto do Atacama com suas belezas e riquezas naturais”, explicou.

Em todas as paradas no itinerário da viagem, nada mais justo do que descansar e aproveitar cada momento, como conhecer o Lago Titicaca, já na Cordilheira dos Andes, na fronteira da Bolívia e Peru, um dos maiores lagos da América do Sul, considerado o local de origem do povo Inca, contemplar o monumento “Mão do Deserto”, um ícone dos motociclistas, e registrar uma pose ao lado do Vulcão Licancabur, nas proximidades de San Pedro do Atacama.

Deu tempo até para curtir a praia e o pôr-do-sol sobre o mar azul em Antofagasta, cidade de 400 mil habitantes, localizada a mais de 1.300 km ao norte de Santiago. “Antofagasta é uma cidade portuária com uma beira-mar linda”, comentou Firmo.

A parada na beira do Lago Titicaca, um dos maiores lagos do mundo, já na Cordilheira dos Andes (Foto: Arquivo pessoal)
A parada na beira do Lago Titicaca, um dos maiores lagos do mundo, já na Cordilheira dos Andes (Foto: Arquivo pessoal)
A neve surpreende em pleno verão na Cordilheira dos Andes, melhor chegar lá preparado (Foto: Arquivo pessoal)
A neve surpreende em pleno verão na Cordilheira dos Andes, melhor chegar lá preparado (Foto: Arquivo pessoal)

No estilo mochileiro - A volta para casa foi por San Salvador de Jujuy, cidade ao noroeste da Argentina com raízes andinas, rodeada de montanhas cobertas de florestas ao pé da Cordilheira dos Andes, em um trajeto que teve o desafio de subir e descer a Cordilheira desde San Pedro do Atacama. Depois, veio Resistencia, já no Chaco argentino, o Pantanal deles, na beira do Rio Paraná, e Pedro Juan Caballero, no Paraguai, última parada antes da chegada em Campo Grande.

Firmo disse que está enganado quem pensa que esse tipo de viagem é só para quem tem muito dinheiro. Ele conta que suas aventuras são ao estilo mochileiro, ou seja, no modelo econômico e com gasto calculado entre 50 e 100 dólares por dia.

“Fiquei em lugares extremamente simples e em outros melhores quando via que os preços estavam baixos, até porque, quem viaja de moto não coloca como prioritário o luxo e sim conhecer lugares, povos e culturas. A gente faz amizades, troca informações, dicas, e as vezes somos convidados para se hospedar em casas de amigos”, declarou.

Segundo ele, nem o gasto com combustível chega a assustar. “Os preços da gasolina são similares ao que é cobrado no Brasil, algo em torno de 1 dólar. Na Bolívia a gasolina custa três vezes menos, mas somente para bolivianos. Quando percebem pela placa que o veículo é do Brasil o preço de imediato sobe para o mesmo valor cobrado no lado brasileiro”, comparou.

O monumento "Mão do Deserto", um ícone dos motociclistas, a 70 km de Antofagasta, no Chile (Foto: Arquivo pessoal)
O monumento "Mão do Deserto", um ícone dos motociclistas, a 70 km de Antofagasta, no Chile (Foto: Arquivo pessoal)

Lições para as próximas aventuras - A aventura terminou, ficaram as lições para as próximas expedições, como a decisão errada de não trocar a roupa de calor pela roupa de frio embora estivesse próximo da Cordilheira dos Andes, onde as temperaturas oscilam entre 16 graus positivos e 4 graus negativos, e pode até nevar mesmo no verão. “O clima mudou, eu estava com roupa de calor e quase congelei”, comentou.

Como dica para quem sonha fazer a mesma aventura, Firmo Henrique Alves garante que tudo faz valer a pena. “Muitos querem fazer a viagem, mas acabam não encarando por medo de assaltos e dos pedidos de propina pelo caminho, mas eu me senti bem mais seguro, porque nesses países tem menos malandros do que no Brasil, menos pessoas que chegam te oferecendo algo quando na verdade querem te tirar algo”, disse o dirigente da CBM.

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