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Alô, posso ajudar?

Por Rosildo Barcellos (*) | 15/01/2011 13:00

O mister de construir um mundo melhor não pode partir de escombros, a Terra já não existiria, começar do zero nem sempre é opção louvável. Entretanto qualquer atitude, que não a de participar da construção desse mundo melhor, não é uma opção, ou melhor será se optar pela complacência com a agressão e descaso com nossa própria existência e com o nome que seus pais lhe deixaram.

Momentos vividos em nosso cotidiano podem se tornar lembranças eternas, com reflexos positivos ou negativos. O bullying, agressão moral entre iguais, é apenas um tipo de violência. Outro tipo de violência pode resultar em morte ou deixar marcas, que são levadas para toda a vida é o suicídio.

A morte não é contrário da vida, e sim sua a conseqüência.Historicamente lembro que a palavra suicídio (etimologicamente sui = si mesmo; -caedes = ação de matar) foi utilizada pela primeira vez por Desfontaines, em 1737 e significa morte intencional auto-inflingida, isto é, quando a pessoa, por desejo de escapar de uma situação de sofrimento intenso, decide tirar sua própria vida

Considero o suicídio como a conseqüência de uma perturbação psíquica. A tensão nervosa que envolve, e culmina nos conflitos intrapsíquicos de gravidade acentuada, transtorna a tal ponto que a morte torna-se único refúgio e a inevitável solução dos problemas.

Acredito também que o o suicida tenta depositar a culpa de sua morte nos outros indivíduos que compõem seu ambiente social, principalmente nos mais próximos. Neste caso o suicídio funciona como um ''castigo''. É como revidar uma agressão do ambiente que o envolve. Muitas vezes escrevem cartas dizendo “agora você vai se lembrar de mim o resto de sua vida”

Na civilização romana a morte não era significativa, importante era a forma de morrer: com dignidade e no momento certo. Para os primeiros cristãos, a morte equivalia à libertação, pois a doutrina pregava que a vida era um "vale de lágrimas e pecados". Nesse momento a morte surgia como um atalho ao paraíso.

Nos séculos V e VI, nos Concílios de Orleans, Braga e Toledo, proibiram as honras fúnebres aos suicidas, e determinaram que mesmo aquele que não tivesse obtido sucesso em uma tentativa deveria ser excomungado. Assim o suicídio passou a ser considerado um crime que poderia implicar na condenação à morte dos que fracassavam.

Os familiares dos suicidas eram deserdados e vilipendiados enfrentando os preconceitos sociais. Apenas na Renascença a humanidade dos suicidas foi reconhecida, o romantismo desse período forjou em torno do tema uma determinada áurea de respeitabilidade.

Em outras culturas, o suicídio é muitas vezes considerado um ato de bravura, como quando os kamikazes direcionaram seus aviões-bomba aos contratorpedeiros americanos em Pearl Harbor, ou um jovem adolescente que se suicida por não ter passado no vestibular acreditando ter desonrado o nome e a tradição da sua família, postura essa adotada pela supervalorização da filha dileta do orgulho.

Pra quem acredita ou é simpatizante do espiritismo o ser diante da certeza das vidas sucessivas, entende que o Homem não tem mais o direito de cogitar sobre o impossível, o irreversível, o inatingível. O melhor sempre está por vir.

As dificuldades instruem e passam, as virtudes se consolidam e ficam. Quando buscamos uma solução bíblica encontramos "nenhum homicida tem permanecente nele a vida eterna" (1 João 3.15). Evidentemente, Deus pode perdoar a um homicida que se arrepende de seu pecado de haver tirado a vida de alguém, mas como alguém pode se arrepender se morrer no próprio ato de tirar uma vida? Quando saimos desta vida teremos tempo para arrependimento? Não, de modo algum, seria apenas arrumar um problema sem solução: uma eternidade de dor e sofrimento

Quando se fala em prevenção merece o destaque o trabalho do CVV que tem em suas fileiras obstinados pela vida e pelo amor e atende a todos que buscarem serem ouvidos.

Para quem imagina ser famoso após seu ato, é claro, tivemos casos conhecidos de suicídio como por exemplo Getúlio Vargas que na madrugada de 24 de agosto de 1954, cometeu o suicídio com um tiro no coração, mas antes desse ato, escreveu uma carta na qual apresentava os motivos de sua atitude:"Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se novamente e se desencadeiam sobre mim.

Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes. Sigo o destino que me é imposto”.

Encontramos um exemplo mais próximo o então presidente da Fundação para Conservação da Natureza de Mato Grosso do Sul (Fuconams), Francisco Anselmo Gomes de Barros, o Francelmo. Urge ressaltar que não vejo sentido em julgar ou interpretar o ocorrido com Francelmo, Getúlio ou qualquer outro que tenha passado por essa situação em termos pessoais, psicológicos ou emocionais.

O suicídio, qualquer suicídio, é como um momento de singularidade impenetrável. Mesmo quem conhece o suicida se vê engolfado por uma nuvem de absurdo, comparável talvez, unicamente, àquela que sufocou o sujeito e o precipitou no abismo. Não há o que explicar nem o que entender com o nosso simples conhecimento mortal. Todavia a imolação de Francelmo foi um ato que convida ao debate, e não apenas do alvo visado, mas igualmente do cálculo e da estratégia empregados.

Assim foi com Valter Noleto, outra vítima das opressões de seu próprio ser. Entre apoiar o errado ou aceitar as pressões das dívidas, da sociedade como um todo decidiu pela desistência da luta. Uns dizem ser a positivação máxima da vontade humana outros que é a destruição arbitrária e premeditada que o homem faz da sua natureza animal.

Definições teóricas se alternam, se complementam, se contradizem: as reticências, ou mesmo um ponto de interrogação, permanecem em desafio a uma resposta definitiva e exata. Não há uma única resposta porque o caminho do suicídio é o da ambigüidade. Nele vida e morte se encontram, se complementam, se contradizem, repetindo este movimento infinitamente como as definições do próprio termo em torno de ódio e amor, coragem e covardia.

Mas o que mais me espanta é que no decorrer desta semana aconteceram vários casos,estive presente, no sábado passado na rua Getúlio Vargas, em Anastácio,área lindeira da BR 262, uma jovem se enforcou no interior de uma residência, pendurada por uma corda, amarrada em uma viga da casa, e apresentava um corte no pulso esquerdo causado por faca. Conversando com vizinhos um deles informou que ela já havia comunicado sua grande tristeza.

Na quarta-feira (12) mais uma vítima, tentou suicídio na residência, localizada à Rua José Raváglia, Ovídio Costa I.Uma jovem de 31 anos, caída na cozinha da casa, com dois cortes no abdômen causados por ela, que utilizou uma faca de cozinha Na quinta-feira (13), o mototaxista Arlindo de Almeida Castor, 41, foi encontrado morto em sua residência localizada à Rua Jaime Artigas, Vila Bertolino, em Aquidauana.Arlindo trabalhava no ponto de mototaxi, em frente à praça dos estudantes – área central da cidade.

Não quero aqui conceituar o suicídio ... deixo isso para os doutores e mestres da psicologia; que tão bem sabem fazê-lo; mas quero contribuir para os leitores que estão em volta de alguém com um problema que pra ele ou ela... é grande, incalculável e que se deprime, se anula como pessoa e que pode desenvolver um quadro de tentativa de suicídio haja vista que muitos já apresentam quadro de depressão que pra mim é o mal do século; pois as famílias não conversam mais, não almoçam juntas, não temos mais cadeiras nas calçadas,visitas aos vizinhos e amigos.

Hoje é só internet e televisão.Até quando você vai em uma festa é só olhar e tem um grupinho grudado na telinha, assistindo novela ou BBB. Há quanto tempo você não faz uma ligação telefônica para saber se um amigo seu precisa de alguma coisa? Por isso acredito que o suicidado pratica um ato de comunicação e não um gesto solitário,pois muitos deles avisam e dão sinais de tristeza e não obstante, é uma comunicação para uma sociedade que o impede de comunicar-se de outras formas que não seja através deste gesto.

Ele quer dizer pra todos que não esta sendo ouvido, que sua palavra precisa ter valor; que precisa de carinho e atenção, claro, como todos nós! Por isso nunca esqueça do seu próximo,de enviar-lhe uma mensagem,de agradecer pelo que faz, de cumprimentá-lo...isso faz uma diferença incomensurável:acredite !

(*) Rosildo Barcellos é articulista e professor de Direitos Humanos da UCDC Claretiano.

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