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André Pucinelli "dá um tempo"

Por Ronaldo Franco (*) | 03/04/2014 13:40

O candidato a governador André Pucinelli no ano de 2010 nunca disse aos seus eleitores que queria um mandato de apenas 3 anos e 4 meses. Foi eleito para um mandato de 04 anos.

A decisão de não sucumbir às pressões para renunciar o mandato e disputar o senado em Outubro de 2014, em minha opinião foi um ato extremamente acertado e digno de reconhecimento.

Teria muito a explicar, especialmente num momento em que a população tem uma clara tendência na eleição para Governador.

André seguiu o slogan político: “Não troque o certo pelo duvidoso”. Não há nenhum indicativo que tenha se aposentado e vá descansar ou fazer os netos dormirem.

Vai ficar longe, mas o suficiente para não ser esquecido. Como diz a moçada quando quer terminar um relacionamento sem fechar a porta de retorno: “Estamos dando um tempo”.

Tudo indica que André em breve nos fará lembra aquela frase do meu tempo de ginásio: “A volta dos que não foram”.

Caso tivesse renunciado e se colocado na disputa ao senado teria que carregar duas campanhas majoritárias (governo e senado) e diversas candidaturas proporcionais à assembleia e câmara federal.

Fardo maior que este impossível de carregar. Mais que isso. Transformaria a eleição ao senado num referendo sobre seus 02 mandatos de prefeito da capital e dois mandatos de governador.

Caso derrotado transformaria uma carreira política exitosa em carreira fracassada. Pedro Pedrossian em 1998 e 2002 ficou como exemplo.

As razões pessoais de André dificilmente nós saberemos, mas para mim há razões compreensíveis para esta decisão.

Penso em algumas: A candidatura de Nelsinho ao governo seria menor que a sua ao senado. Logo a derrota de uma ou de ambas seria contabilizada exclusivamente para si.

Se ganha ao senado e Nelsinho perde o governo passa para história como traidor. Se ambos perdem as eleições passa a ideia que seu governo e estilo pessoal tenha sido o motivos das duas derrotas.

Já havia carregado à culpa da derrota de Giroto em Campo Grande em 2012. A fila para acerto de contas com André é clandestina, mas não é pequena. Ao que parece André não necessita disto em seu currículo.

O PMDB e alguns outros partidos, gostando ou não, tem que reconhecer que foi André que impediu que Zeca varresse do mapa o PMDB e seus aliados, inclusive o PSDB.

O André prefeito se tornou o bastião anti PT e anti Zeca. Isto teve um preço em sua imagem e não foi pouca coisa.

Sem André o governador Zeca teria liquidado qualquer resquício do PMDB e do PSDB no MS, sem entrar no mérito desta percepção.

Tenho a convicção que Reinaldo não seria o que é hoje no tabuleiro político se André não tivesse reaglutinado ao seu redor a oposição anti Zeca e anti PT.

A história já reservou um lugar especial na percepção popular para André, como reservou para o Zeca. Esta mesma percepção está, neste momento, demandando por outros personagens.

Não compreender isto é estupidez. Estupidez é um predicado que André não cultiva na política.

O governo André, independente de opiniões políticas partidárias, é bem Avaliado pela população, todavia eleição é um olhar para o futuro e não para o passado.

O humor da população aponta na direção de que os avanços do Governo André devem continuar e até serem aprofundados e modificados, mas o povo percebe em Delcídio mais condições para executar esta tarefa.

Enfrentar tal realidade me parece suicídio para quem não precisa deste enfrentamento.

Toda e qualquer imagem pública, por mais que se reconheça eficiência e eficácia administrativa, sofre a corrosão do tempo.

O tempo corrói tudo, basta olhar nossas fotografias a partir de 01 de Janeiro de 1997, quando André assumiu a prefeitura da Capital.

Com a imagem pública não é diferente. Fazer-se presente em toda e qualquer disputa sem considerar isto é transformar o final da jornada política na totalidade da jornada política.

Até a terra precisa de um descanso, um período sabático como diria os hebreus. As marcas e conteúdos de produtos são alterados constantemente para dar conta da demanda da percepção dos consumidores. Na política não é diferente.

Não tem imagem que não se desgaste em 16 anos de chefia das duas maiores administrações, capital e Governo Estadual.

André sabe disto e isto foi decisivo no segundo turno da capital em 2012. André decidiu concluir seu mandato de governador, sem que isto necessariamente encerre sua vida pública.

Uma disputa mal sucedida, como se neste momento se desenhava, poderia levar a este fato. A decisão de dar tempo ao tempo foi acertada.

Como disse Roberto Freire certa vez acerca da mudança da sigla PCB para PPS: “Nos orgulhamos de nosso passado, mas o que queremos é se fazer presente no futuro”.

André não precisa desta eleição para se fazer presente no futuro. André optou em preservar, por enquanto, a sua história certa, precisa e já delimitada no imaginário popular do que se aventurar numa disputa difícil e com risco enorme.

Da decisão de André, em se manter no mandato de governador, restam algumas consequências. Nelsinho vai ter que se mexer muito pra não fazer feio.

Reinaldo que se cuide. Simone possui peso partidário, passa a percepção de ser novidade e tem um histórico de trânsito com Delcídio desde 2002. Basta uma olhadela nas eleições em Três Lagoas neste período.

Há ainda o fato inconteste de que André vai derramar suor e lágrimas por ela. Em alguns momentos é mais fácil pedir voto para outro do que para si. O desgaste pessoal conta menos.

Creio que a disputa ao Senado seja uma preliminar da sucessão na capital em 2016.

E o PT? Ainda que com um leve sorriso no canto da boca, Delcídio e o PT tem o que comemorar “neste momento”.

Todavia como transcrito: “Neste momento”. Sem André na disputa ao Senado acho que está aberta a temporada de assanhamentos políticos mais altos para alguns.

(*) Ronaldo Franco é advogado.

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