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Colônia militar dos dourados

Por José Tibiriçá Martins Ferreira (*) | 28/12/2010 06:22

No dia 29 de dezembro de 1864, conforme relatado no livro Antonio João, escrito pelo General Valentim Benício da Silva, após levantamento efetuado a partir do ano de 1929, juntamente com a comissão que integrou, é a data em que se comemora a morte do Tenente Antonio João Ribeiro, nascido em Poconé-MT em 24 de novembro de 1825, cujas comemorações alusivas à epopéia, vêm acontecendo na data do seu nascimento, no Parque Histórico, localizado a cerca de menos de 10 km, antes de chegar à cidade que leva o seu nome.

Muita confusão, alguns articulistas fazem quando o assunto é tratado, o que me levou a escrever este artigo, pois em data de 27/12 do corrente, segunda-feira, no Jornal O Progresso, trocou-se a frase: terra de Antonio João que consta no Brasão do Município de Dourados, projeto apresentado e aprovada pela Câmara de Vereadores de Dourados, de iniciativa do Vereador Walter Brandão da Silva, homenageado recentemente pela nossa Intendente, Sra. Délia Godoy Razuk.

Não concordando também com o relato de que a cidade de Dourados já estava em formação, desde 10 de maio de 1861, data próxima à instalação da Colônia Militar dos Dourados quando se trocou a expressão Colônia Militar dos Dourados pela articulista, utilizando-se a conjunção “de”, dando-se a impressão de que a primeira batalha, lá pelo ano de 1864, aconteceu em nossa cidade.

Aconteceu sim, à beira do Rio Dourados, próximo à sua cabeceira, onde ele corre com menos de cinco metros, sendo ainda um ribeiro.. “quando aquilo tudo era muito mais deserto do que hoje”, página 7 do livro Antonio João, publicado em 1938 pela biblioteca militar em homenagem aos seus heróis. Quando se refere a “de”, é porque naquela época nosso Município não existia, eram terras que pertenciam à União. Segundo narrativa do autor, o governo Imperial houve por bem firmar padrão de posse, resolvendo criar a colônia do mesmo nome, com onze colonos e pequena força militar.

A Colônia obedecia não só a considerações de ordem política, mas de segurança interna, pois na época não podia haver ocupação ou posse particular de terras: a região e Santa Maria eram, exclusivamente habitada por índios Kayuas, Xavantes e Coroados, que se opunham à entrada de gente civilizada. Em 1856 a Colônia tinha como finalidde, auxiliar a navegação interior, a defender e a proteger os moradores até a fronteira de “Iguatemy” e do Apa, das aggressões dos selvagens e chamar estes, por meio de catechese, à civilização”, página 100.

A Colônia foi reorganizada em 1860, destruída em 1864, sendo seis anos mais tarde restabelecida e em 1873 foi criada ali uma barreira e uma agência fiscal e em 1889, nomeado como diretor um Capitão do Exército, da Arma de Artilharia, natural de Alagoas, João Luiz Gomes, meu bisavô materno. “Aquelle director construiu arranchamento no passo; na antiga vivenda ainda reside a viúva”..., pagina 100, parágrafo terceiro.

João Luiz Gomes foi assim o último Diretor da Colônia e como as terras pertenciam à União, reformado, requereu cerca de 3.000 hectares de terra, onde construiu a Fazenda da Resignação, do outro lado do rio, na envernadinha, assentou seus soldados, a maioria negros, um deles Martimiano, casado com Maria Beiçuda, onde nasceram seus filhos. Em Lagoinha requereu terra para José Francisco Vieira, natural de Queluz-SP, também negro, veterano da guerra que foi transferido de Corumbá para o destacamento da Colônia Militar dos Dourados em 1868 e ficou sob as ordens do Tenente Rogaciano.

Por estes fatos, chega-se à conclusão de que nunca existiu quilombo em nosso Estado, como inventaram, talvez sejam estes negros os primeiros homens que chegaram na nossa região, mas livres, compondo o grupo vitorioso, 25 anos que antecederam a abolição da escravatura. Seu comandante, João Luiz Gomes, era mulato, filho de português e negra, faleceu em 190,era casado com a paraguaia Carlota Almerón Lopez Gomes, falecida em 1947, teve filhos e filhas, seu primogênito que tinha o seu primeiro nome, nasceu em Assunção sob a bandeira brasileira e seguiu também a carreira militar, tendo falecido em Porto Alegre.

A primeira cruz de madeira em homenagem a Antonio João, foi erigida em 1929, em frente à moradia da viúva Carlota, conforme foto, página 51. O levantamento a respeito de Antonio João é narrado com detalhes no livro, com mapas, informações tiradas in loco. “....chegamos à conclusão de que os restos de Antonio João, repousam na própria Colônia,.......talvez sob a própria casa que serve de moradia aos atuais proprietários, herdeiros do último Diretor da Colônia, Major João Luiz Gomes, página 47, parágrafo primeiro.

Sílvia Gomes, filha do Major, em 1957 doou ao Exército Brasileiro 30 hectares da sua área para construção do Museu Histórico, onde também nasceu minha mãe em 1918, hoje com quase 93 anos. Em Dourados vive Lourença Gomes Batista Martins, 87 anos, na época com menos de 7 anos, presenciou os fatos, assistiu a missa rezada pelo padre Antonio Marto no dia 28/10/1929, em companhia de sua irmã Helena Gomes Azambuja e de outros familiares.

O Coronel Cancelo foi escolhido por ela para implantar o parque e segundo contam, ele investiu também suas economias no empreendimento. A casa de madeira que abriga o museu, continua com as mesmas características da casa original, conforme foto do livro, era de tábua. A doadora está enterrada no lado direito, antes de se chegar ao parque, em companhia do Coronel Cancelo que não foi seu marido, estão sepultados um ao lado do outro, porque nossa família achou por bem.

Hoje o Parque é mantido pelo 10º Regimento de Cavalaria de Bela Vista, onde uma guarnição o mantém, a vida é semelhante daquele tempo, o ambiente é conservado com características de campanha. É uma pena que a municipalidade de Antonio João não divulga o local como ponto de turismo. O Município foi ridicularizado nacionalmente quando o gato Billy recebia bolsa família. Não sabemos se o responsável foi punido, se o dinheiro foi devolvido.

No Parque tem um hotel onde as pessoas podem se alojar e passar horas agradáveis, sendo que na última vez que lá estive, fiz a entrega da cópia do livro original ao seu Museu, onde os interessados poderão consultá-lo. Lá existe a sala Major João Luiz Gomes, onde poderá encontrar um artigo escrito e publicado no Jornal O Progresso em 20/12/1987, onde narro alguns fatos da Colônia Militar dos Dourados e algumas fotos antigas da nossa família.

(*) José Tibiriçá Martins Ferreira, advogado e segundo tenente reservista da arma de artilharia.

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