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Efeito da pandemia na educação superior

Rafael Amaral Shayani (*) | 23/05/2020 13:46

A pandemia do coronavírus gerou um desafio formidável para as instituições de ensino em todo o mundo. Da noite para o dia, as aulas foram interrompidas e novas alternativas tiveram que ser oferecidas aos alunos, seja aulas gravadas, atividades domiciliares ou transmissões ao vivo. Um aspecto positivo dentro desta crise global é a rápida disseminação, entre praticamente todos os professores do planeta, das possibilidades de uso de ferramentas digitais na educação, modernizando a tradicional aula expositiva. Porém esta circunstância pode ser melhor explorada ao tentarmos, como professores, contextualizar como as disciplinas ministradas na Universidade se relacionam com a crise, para que os alunos possam ser empoderados a propor soluções ao perceber que já estão em contato, na Universidade, com as técnicas necessárias para poder contribuir.

Motivação! É possível aproveitar a crise para motivar os alunos a aprender melhor, dar sentido às aulas teóricas e perceber que podem, efetivamente, mudar o mundo! Muitos cursos possuem elevados índices de desistência por parte dos estudantes. Engenharia é um exemplo: muitos alunos não entendem porque possuem uma carga teórica tão grande de conceitos físicos e matemáticos, e muitas vezes desistem do curso por ter sua expectativa inicial, de resolver problemas, frustrada por aulas teóricas conceituais complexas e, aparentemente, sem aplicação direta. Mas e se os alunos percebessem que esse conhecimento permite que eles atuem como protagonistas, apresentando soluções com forte formação técnica que sejam viáveis? Veja dois exemplos a seguir:

1) Há uma grande demanda por ventiladores mecânicos em UTIs de hospitais em todo o mundo. Da parte da engenharia elétrica, a aplicação dos conteúdos de Conversão de Energia e Controle são essenciais para fabricar um ventilador. Da parte da engenharia mecânica, a Mecânica dos Fluídos. Quando o aluno entende melhor a relevância dessa aplicação, é possível que fique mais claro o porquê de estudarmos essas disciplinas no curso: elas ajudam a salvar vidas!

2) A paralisação está reduzindo as emissões de gases de efeito estufa. Há um grande movimento ambiental para que a sociedade retome as atividades de forma diferente, mais sustentável. Esse tema é diretamente relacionado ao setor energético, que é um dos maiores emissores mundiais. É necessária uma mudança estrutural, e a engenharia é crucial para propor novas estruturas que se sustentam. Há uma demanda urgente por estudantes criativos e audazes, para propor novas perspectivas para a sociedade.

As Diretrizes Curriculares Nacionais de Engenharia prescrevem que o estudante de engenharia deve ter visão holística e humanista, ser crítico, reflexivo, criativo, cooperativo e ético, estar apto a pesquisar, desenvolver, adaptar e utilizar novas tecnologias, com atuação inovadora e empreendedora, adotar perspectivas multidisciplinares e transdisciplinares em sua prática, considerar os aspectos globais, políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais, entre outros. Quando os professores contextualizam o ensino, mais especificamente, empoderando o aluno ao afirmar que, de posse dos conceitos ministrados, ele terá as ferramentas necessárias para propor soluções que ajudam a salvar vidas e melhorar o mundo, o estudante tende a ficar mais motivado para estudar e desenvolver o desejo pelo conhecimento.

Logo, apesar da interrupção abrupta das aulas ter parecido, inicialmente, uma pedra de tropeço, ela pode ser transformada em um degrau para o progresso, onde os professores tem a oportunidade de inspirar seus alunos a buscarem o conhecimento para ajudar o mundo em sofrimento. O fato do coronavírus atacar todo o mundo gera uma interessante oportunidade para trabalhar junto aos alunos a importância de considerar aspectos globais em suas análises. Conforme dito por Bahá’u’lláh (1817-1892), “A Terra é um só país e os seres humanos são seus cidadãos”. Cabe aos professores aproveitar essa oportunidade educacional que se apresenta.

(*) Rafael Amaral Shayani é professor do Departamento de Engenharia Elétrica, da (UnB) Universidade de Brasília. Graduado em Engenharia Elétrica – ênfase Energia e
Automoção – pela Universidade de São Paulo, mestre e doutor na mesma área pela UnB.

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