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Elementos norteadores

Bruno Peron (*) | 14/02/2013 08:29

Gestores da coisa pública falam de desenvolvimento; empresários sugerem a modernização; economistas pregam o crescimento; progressistas narram os encantos da urbanização. Todos estes grupos acreditam nos fins supostamente elevados dos ideais que sustentam. No entanto, poucos admitem que se desfiguram os elementos que dirigem as maiorias e que têm o propósito de trazer-lhes coerência e integridade.

Os agentes que haviam norteado a sociedade gradualmente cambaleiam pela incapacidade de orientar as gerações que crescem num meio digital, extraurbano e superabundante. Há novos atores que disfarçada e ilegitimamente tentam tomar a posição de patronos da ordem pública, mas que logo se desmascaram como incompetentes e oportunistas.

O mais abrangente e influente deles é a televisão. Este meio condiciona, entre outros aspectos, os negócios e o turismo. Quando se grava uma telenovela fora do estúdio, o cenário tem um motivo para atrair visitantes porque foi escolhido por uma emissora de televisão. O norte passa a ser o que seus apresentadores, atores e diretores opinam sobre o mundo. Outro aspecto do condicionamento da televisão é que o jornalista Bóris Casói – para citar um exemplo – tem conduzido um tipo suspeitoso de jornalismo opinativo.

Não foge da desfiguração do norte o padrão repetitivo de urbanização no Brasil em que o desenvolvimento é um dogma que irrevogável e facilmente des-ruraliza a população. Todo processo desvirtuador de nossa espécie e das outras redunda em desenvolvimento. Este, por sua vez, é um fascínio que inspira os grupos dirigentes e sufoca as maiorias com promessas tão desenvolvimentistas quanto embusteiras.

O maior indício da extraurbanidade é a oferta multiplicadora de serviços nos centros citadinos que se desorganizam pela obsessão das mercadorias, a gritaria, a sujeira, a insegurança e os tropeços dos que seguem os gritos publicitários. Não demora muito para que os consumidores se deem conta de que não podem pagar pela voracidade de seu desejo consumista nem que as empresas de crédito ofereçam ajuda. A propósito, há muitas destas empresas que se especializam em aumentar o desespero dos consumidores.

Quem garante o norte em situações em que se perde a referência ao interesse público e se reitera um modelo de sociedade em que ganha aquele que tira vantagem? A reprodução desta prática no Brasil faz-se sem que muitos se oponham aos descaminhos nem reconduzam o processo educativo. O ato de furar filas expõe este tipo de mazela. O outro é o costume do brasileiro de não gostar de ser corrigido quando estiver errado.

Ainda, o fator mais preocupante do ciclo de desfiguração do elemento norteador é a falta de atenção às crianças e aos jovens. Ambos grupos etários e sociais confundem entretenimento com informação, ou lazer com educação. Por esta razão, jogadores de futebol como Ronaldo e Neymar influem nos cortes de cabelo e tornam-se referências educativas de pessoas que recebem a consagração dos próceres pelos meios de comunicação. O herói marca o gol da vitória e garante a festa da torcida.

De um lado, o índice de audiência perpetua (Big Brother Brasil) ou sacrifica programas televisivos; de outro, a televisão, ainda que por tempo de consumo diário, tem substituído a tarefa educativa da família, a escola e as instituições religiosas. O Estado fica sem saber se os meios de comunicação são seus inimigos ou se deve melhorar seu relacionamento com eles nesta era digital.

O maior desafio deste século no Brasil e nos outros países explorados pela economia mundial é como reorientar as crianças e os jovens sem que caiam no engodo do crescimento desenfreado e do consumo irresponsável. A educação básica e fundamental é, por esta razão, o momento axial em que ou se orienta para corrigir os rumos ou se estanca de uma vez o ideal de um Brasil potência. O que os seres de bem desejam é um país onde existam melhores condições de vida para seu povo em vez de um Brasil para inglês ver.

É estimulante propor uma revisão das nossas referências, ou seja, de quem nos orienta no contexto em que o fim do mundo se dá como crise ética em vez de afundamentos, explosões e tsunámis catastróficos. Grande tem sido a dificuldade de entender a mensagem dos maias. A imaginação será mais proveitosa se estiver a favor de nossa reforma.

(*) Bruno Peron é mestre em Estudos Latino-americanos por Filos/UNAM (Universidad Nacional Autónoma de México)

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