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Fabulário geral do delírio político

Por Dante Filho (*) | 25/11/2013 09:17

Uma parcela do PT (há petistas de bom senso atualmente calados) movimenta-se com sofreguidão por causa da prisão de alguns mensaleiros. Tenta impor a versão de que são presos políticos e vítimas da sanha vingativa das elites. Nessa toada, insiste na tese de que o ministro do STF, Joaquim Barbosa, está agindo com interesses políticos porque pretende se candidatar à presidência da república no próximo ano. Enfim, no mundo delirante do petismo pós-moderno os atos de corrupção comprovados num dos mais longos processos da nossa história são meros detalhes de um sórdido jogo eleitoral. Não vale rir.

Quem acompanha a vida política brasileira dos últimos 30 anos não devia ficar surpreso com todo esse esforço argumentativo. Tudo isso é manjado. O PT foi cultivado na estufa da vitimização. Isso inclusive é da essência golpista do partido. Todos são santos guerreiros que lutam contra as injustiças da "direita desumana". Neste partido ninguém rouba ou deixa roubar. Sim, quando são pegos em flagrante, "eles apenas cometem erros", mas sempre "em nome dos interesses coletivos", pois, como dizia Sartre, muitas coisas boas para serem feitas é preciso que antes se coloque a mão na lama (a palavra é outra, mas deixa pra lá).

O fato é que nesses anos passados o PT, durante a maior parte do tempo, sempre fez com que prevalecesse sua versão dos fatos, ou, quando a coisa era muito escabrosa (como agora no caso do mensalão), reduzisse os danos contra si com argumentos esquisitos que terminavam sendo aceitos (tolerados?) por vastas camadas de simpatizantes.

O petismo transformou-se numa espécie de malufismo.

No atual momento, com a prisão de membros da cúpula do partido, tenta-se mais uma vez repetir a velha jogada: criar um clima emocional (usando o caso Genoíno como ponta de lança de uma grande chantagem) para tentar impor a versão que livre (em termos) a cara de maneira que o partido possa disputar as próximas eleições sem estar totalmente na defensiva.

O que vem ocorrendo neste campo é sobre qual a "verdade" que prevalecerá depois que tudo isso passar e o "escândalo" de agora for incorporado à vastidão da normalidade. Se fosse alguns anos atrás (e ainda não tivéssemos acumulado experiência histórica suficiente para ficarmos cada vez mais espertos) diria que a versão da conspiração das elites teria tudo para colar mais uma vez.

O problema é que o PT enfrenta correntes de opinião cada vez mais fortes no trabalho de desmontar suas estratégias de criação de versões edulcoradas do mundo real. Quem acompanha o fluxo do debate político percebe com clareza que as intervenções do petismo no mercado da realidade padecem de consistência e seus argumentos terminam mais parecendo um deboche em vez de algo que possa corroborar algumas convicções.

Talvez pessoas meio abobalhadas – e militantes fervorosos – possam dar crédito a esse fabulário porque é natural que aqueles que estão em situação desfavorável busquem salvaguardas fantasiosas para se confortar diante de processos convulsivos. Mas os ruídos que estão em voga na praça sinalizam com clareza que esse esforço vai se transformar num sinal consistente de perda de credibilidade eleitoral, mesmo entre aqueles que nutrem simpatia pelas esquerdas no espectro político.

O problema – essa é a grave questão - é que isso poderá ser potencializado de uma maneira estranha no jogo de 2014: num quadro geral de absoluto descrédito o petismo insistirá na tese de que não existe diferença entre uns e outros (o que pode ser verdade relativa) e, nesse ambiente regressivo e caotizado, faça valer a força da grana e da falta de escrúpulo ( o importante é vencer a eleição, lembram-se?), impondo mais uma vez a lógica de que o crime compensa.

Fica a pergunta: quem hoje faz outra aposta?

(*) Dante Filho, jornalista e escritor (dantefilho@terra.com.br)

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