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Igual, sem personalidade, estagnante

Por Jacinto Flecha (*) | 13/09/2014 12:14

Quando vi fotografias de um dos primeiros conjuntos habitacionais, tive uma sensação desagradável. Casas iguais, retilíneas, monótonas, deram-me a impressão de um cemitério de soldados mortos em combate. O leitor certamente conhece conjuntos assim, que a sabedoria popular denomina Vila Moscou, mas o marketing oficial disfarça como Minha casa, minha dívida.

Muito tempo depois, uma funcionária de setor sob a minha direção, dotada com poucos recursos financeiros, mas profundamente religiosa, pediu-me conselho para decidir sobre a compra de um imóvel como esses. Fiz algumas perguntas para avaliar a capacidade de pagamento, distância, facilidade de transporte, e lhe dei uma opinião afirmativa. Após o fim de semana dedicado a visitar o imóvel, informou-me que desistira, e o único motivo era este: É tudo igual, sem personalidade. Custei a acreditar na decisão, mas nem precisei perguntar o que ela entendia por personalidade, pois conhecia bem sua disposição para trabalhar e progredir, não se limitando a uma vida estagnada, sem esperança e sem objetivos mais altos. Concluí que ela estava absolutamente certa, pois não lhe interessava apenas um local tipo “salário mínimo” ou “cesta básica”, igual para todos, com o essencial para continuar vivendo.

Pessoas como essa funcionária simples e trabalhadora não se conformam com a estagnação, querem sempre progredir, melhorar a situação da família. Admiram sem inveja o que pertence a outros, e querem dar aos filhos o melhor possível. O contrário disso predominava na Rússia soviética, onde uma igualdade imposta, ditatorial, impedia qualquer esperança de progresso, tolhia os esforços e iniciativas pessoais.

A propaganda esquerdista mostrava os países comunistas em franco progresso, mas essa sinfonia midiática nunca enganou algumas pessoas que conheci. Nenhuma surpresa elas tiveram quando degringolou o comunismo, revelando a real situação de miséria. De onde provinha essa certeza de uma Rússia em condições econômicas precárias, quando a imprensa insistia em informar o contrário? É que conheciam bem a psicologia popular, marcada por este raciocínio simples e lógico: Se não me deixam progredir, por que vou me esforçar, trabalhar mais? Nosso povo diz a mesma coisa em verso: Plantando dá / não plantando dão / Pra que plantar? / Não planto não!

Como esperar progresso onde o igualitarismo predomina e leva o povo a pensar assim? Quando as condições são essas, só existe progresso em histórias da carochinha e na propaganda. Na carochinha acreditam as crianças; na propaganda esquerdista, adultos que não pensam. Alguém sintetizou: Quem não foi socialista quando jovem, não tem coração; quem continua socialista depois de adulto, não tem cabeça.

Entre os conceitos antinaturais do comunismo, são especialmente nocivos os de caráter igualitário, cuja intenção não é reduzir ou eliminar desigualdades injustas, qualquer desigualdade é motivo para choramingos esquerdófonos. Ultimamente estão no foco da mídia as desigualdades até nos países mais abertos ao progresso de quem quer progredir e trabalha para isso. No atual governo esquerdista dos Estados Unidos, avaliado como o pior em mais de um século, a propaganda oficial batuca na tecla de reduzir as desigualdades. Confirma assim o que disse outro presidente americano: Comunistas são os que leram Marx, gostaram mas não entenderam; anticomunistas são os que leram Marx, entenderam e não gostaram.

Posso afirmar, sem ter perguntado, que aquela minha funcionária nunca perdeu tempo lendo Marx nem outros escritores que lhe erguem altares. Se perguntasse, ela entenderia que falei de um colega chamado Marques, e estranharia que ele tivesse escrito um livro. Não deve também ter lido São Tomás de Aquino, mas pensava como ele, pois o que ele escreveu está trocado em miúdos no Catecismo. Como ela conhece a doutrina católica, sabe também o que pensava São Tomás. Sabe, por exemplo, que Deus é perfeitíssimo, tem todas as perfeições possíveis, e criou o mundo com multidões de seres desiguais. Nem poderia ser de outro modo, como afirma São Tomás, pois a criação se destina a refletir as incontáveis perfeições de Deus. Para isso é necessário que existam seres múltiplos e diferentes, já que muitas criaturas iguais, ou uma só muito perfeita, não conseguiriam refletir todas essas perfeições.

Ler Marx e gostar, mesmo sem ter entendido, dá resultado muito pior do que não gostar dele sem o ter lido, como deve fazer quem aprendeu e também quem ensina o Catecismo. Se o igualitarismo conduz à estagnação, melhor resultado se obtém estimulando o progresso de quem deseja progredir e se esforça para isso. Os caminhos de Marx e São Tomás são opostos, e só um deles ordena a sociedade e conduz a Deus.

(*) Jacinto Flecha é médico e colaborador da Abim

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