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Integração sim, “pero no mucho”

Por Fernando Rizzolo (*) | 16/08/2011 06:02

É interessante observar como se comporta a política externa brasileira em momentos de crise.

A intenção de união, de fortalecimento, de integração entre os países da América Latina, passa a ser apregoada de uma forma em que do ponto de vista global, integracionista, solidária, muito pouco tem a ver com os interesses reais dos outros países, vez que se fala muito no âmbito econômico e se desconversa quando o assunto reflete interesses corporativistas do mercado interno brasileiro.

Em encontro do Conselho da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), em Buenos Aires, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, informou que os ministros do conselho de economia e finanças da Unasul vão assinar um documento que mostra necessidade de integração maior entre os países da região.

Segundo o ministro, é preciso fazer com que a região continue crescendo e se transforme em um dos polos de desenvolvimento global. “Assim como a Ásia foi no século passado: se distinguiu e se projetou como uma região de economia dinâmica.

Agora, é o século da América Latina, que poderá exercer esse papel”, disse o ministro. Ora, todos sabem que na realidade o que ocorre quando falamos em desenvolvimento – não nos referimos apenas às questões tocantes à economia em si, mas, acima de tudo, ao reconhecimento, respeito, e seriedade em outras áreas como a da educação.

Infelizmente o discurso de integração elaborado pelo Brasil deixa lacunas que semeiam do ponto de vista interno certa discriminação, principalmente quando nos referimos à integração educacional universitária entre os países membros.

Sabemos que hoje existem mais de 12.000 estudantes brasileiros exercendo um autoexílio, para, enfim poderem cursar medicina em países do Mercosul por questões de viabilidade econômica, dentre os quais a Argentina, que hoje, como todos sabem, possui na área médica grande desenvolvimento.

Contudo, impõem-se dificuldades na revalidação, exames rigorosos, discriminação, visando sim à contenção destes profissionais formados na área da saúde, num país como o nosso, com a real carência de profissionais médicos.

Na área do direito não é diferente, cursos de doutorado não são reconhecidos, estão sujeitos a penosos processos de convalidação, o que dificulta a rica troca de experiências entre países da América Latina.

Portanto, o discurso e as propostas brasileiras seguem o cultivo da integração na medida dos interesses internos e corporativos do nosso mercado, e acima de tudo interesses econômicos. E acreditar que os demais países da Unasul não se apercebam destas posturas incoerentes é o mesmo que propor à mesa a grande união apenas na crise, ou, se preferirem, integração sim, “pero no mucho”...

(*) Fernando Rizzolo é advogado, jornalista, professor universitário e membro efetivo da Comissão de Direitos Humanos da OAB/SP.

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