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Nada substitui as matas ciliares

Por Laerte Tetila (*) | 08/10/2012 15:38

Quem sobrevoa o território sul-mato-grossense pode observar, ao longo de nossos rios e córregos, as nossas matas ciliares sendo transformadas, com raras exceções, em simples filetes de vegetação. Quem navega, também, em nossos rios percebe o estreitamento e a rarefação dessa faixa de vegetação, quando não trechos onde ela foi devastada completamente.

Em Mato Grosso do Sul, apesar dos enormes passivos ambientais perceptíveis em todos os seus biomas, o foco da pressão, agora, infelizmente, vem recaindo sobre essas matas, não obstante a amplitude da degradação que já sofreram. Mas em face do notável potencial hídrico do nosso Estado  – basta ver a nossa extraordinária riqueza em rios, lagos, córregos e nascentes – isso não deveria estar acontecendo.

Pelo contrário! Ao invés da pressão para reduzi-las e/ou eliminá-las, deveríamos seguir o exemplo do vizinho Paraná, estado onde já foram plantadas mais de 100 milhões de mudas de espécies nativas ao longo de seus rios e demais mananciais, pelo programa "Matas Ciliares", seguindo uma tendência que já se tornou mundial.

Países da Europa e da América do Norte vêm aplicando milhões de dólares a fim de recuperarem as suas matas ciliares na tentativa de salvarem os seus rios.  A ONU, inclusive, já conta com programa específico para a restauração desse tipo de mata. É a mãe natureza exigindo de volta, a peso de ouro, o que perdeu. Nada substitui as matas ciliares como "fator de proteção" aos corpos hídricos. Essas matas, em sua origem, eram faixas de vegetação densas, riquíssimas em árvores frondosas, que chegavam até 30 metros.

Abrigavam uma rica variedade de plantas e animais, frutos de uma evolução orgânica de milhões de anos. E, além de sua altíssima biodiversidade, apresentavam-se como legítimas "prestadoras de serviços" ambientais, ao cumprirem importante papel como barreiras físicas, que reduziam a força das enxurradas que chegavam até os rios.

Funcionavam, igualmente, como "esponjas" hidrorreguladoras, que retinham a água das chuvas, liberando-a gradativamente a fim de proceder a recarga hídrica dos rios e nascentes, reduzindo, assim, os efeitos danosos das enchentes e vazantes. O emaranhado de raízes, que chegava até às margens, estabilizava os barrancos para evitar os desmoronamentos e o assoreamento, assoreamento que já afeta praticamente todos os rios sul-mato-grossenses.

É óbvio que, nos trechos onde ainda perduram, continuam cumprindo tais funções. Inclusive, diante do desmatamento até então inimaginável a que chegaram os nossos biomas, principalmente os de matas e cerrados, as matas ciliares ainda vêm funcionando como verdadeiros refúgios de nossa fauna terreste e, também, da avifauna.

E, apesar de degradadas e desfiguradas como estão, ainda insistem em sua nobre missão de servir como "corredores ecológicos", onde a fauna silvestre se desloca, se abriga, se alimenta e se reproduz, além de sua importância na disseminação de sementes.

As matas ciliares servem, ainda, como filtros naturais que retêm fertilizantes e agrotóxicos, diminuindo a poluição dos rios e, consequentemente, melhorando a qualidade da água que chega aos nossos lares.

(*) Laerte Tetila é geógrafo físico, mestre pela USP, deputado estadual pelo PT, e membro da Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul.

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