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O Censo demográfico de 2010: alguns resultados

Por Aldo Paviani (*) | 04/12/2010 07:55

A cada dez anos, realizam-se levantamentos censitários para responder a muitas perguntas, que podem ser sintetizadas em: quantos somos, onde estamos e qual é o perfil da população brasileira.

Para isso, os censos demográficos são preparados e aplicados pelo IBGE de forma criteriosa, esmerada e com fundamento em experimentações e aperfeiçoamentos que resultam em confiabilidade nos resultados.

Com o Censo Demográfico de 2010 não foi diferente e, em fins de novembro foram divulgados dados parciais, que causaram poucas surpresas em termos quantitativos e qualitativos.

Claro, o Brasil não chegou aos 200 milhões de habitantes, mas chegou perto. O Censo apresenta 190.732.694 habitantes, dos quais 15,65% se encontram no meio rural (29.852.986 habitantes) e os urbanitas chegaram aos 160.879.708 ou 84,75% da população total.

Se comparado ao recenseamento de 2000 nota-se que o meio rural decresceu: eram 31.845.211 ou 18,75%, com o que o Brasil se tornou um país eminentemente urbano e que para isso os governantes deverão atentar, pois as cidades passaram a ter mais população e sua agenda na procura de serviços urbanos passou a ser mais exigente.

Esses dados preliminares, já eram estimados, pois geógrafos urbanos, sociólogos, urbanistas, e outros cientistas sociais trabalhavam com percentuais superiores a 80%. Não foi surpreendente, portanto, concluirmos que o Brasil passa a ser primordialmente urbano, pois apresenta taxas de urbanização elevadas há décadas, igualando-se aos países desenvolvidos nesse aspecto.

Ao conhecer os quantitativos, governo e empresas devem estar conscientes do “onde estamos”. E aí, o Censo revela a má distribuição da população brasileira. A região Sudeste mantém-se no topo, com 80.353.724 habitantes. Segue-se o Nordeste com 53.078.137.

Ou seja, essas duas regiões somam 133.431.861 habitantes ou 69,95% da população brasileira. O Norte, juntamente com o Sul e o Centro-Oeste perfazem 57.300.833 ou 30,05% ou, dito de outra forma, as regiões de maior território perfazem menos do que um terço dos habitantes do Brasil.

Isso não significa que menos habitantes em grandes territórios vão apresentar menores carências em termos de qualidade de vida; também se avalia que as duas regiões mais populosas deixem de fazer pressão por mais equipamentos urbanos, mais empregos, bem como políticas públicas em patamares condizentes com sua importância populacional.

Ainda quanto à elaboração de políticas públicas, o ritmo de crescimento dessas regiões deve ser avaliado: enquanto a média nacional de crescimento entre 2000 e 2010 foi de 12,33%, a média das regiões Nordeste e Sudeste ficaram em, respectivamente, 11,10 e 10,97%.

Em algum ponto de seus territórios vai se apresentar o envelhecimento da população, com necessidades previdenciárias e de saúde para os idosos. Algo a pensar.

O menor crescimento, abaixo da média nacional, se deu na região Sul com apenas 9,07%, enquanto as duas outras regiões, Norte e Centro-Oeste mostram crescimento maior do que a média: 22,98 e 20,74, respectivamente, ou regiões de crescimento demográfico por migrações por crescimento vegetativo.

Seriam áreas ainda a desbravar? Sem dúvida nenhuma, trata-se de regiões cujos territórios merecem atenção para haver crescimento com sustentabilidade.

Avaliando-se as grandes cidades, nota-se que São Paulo é a megalópole brasileira, com 11.244.369 habitantes, seguida por Rio de Janeiro, com 6.323.037 habitantes. Salvador manteve-se, como em 2000, como a terceira metrópole, com 2.676.606 habitantes.

Brasília sobe da sexta posição, em 2000, para a quarta, em 2010, apresentando 2.562.963 habitantes. Assim, a cidade que deveria ter 500 mil habitantes, em 2000 – segundo seus idealizadores, passa a ser uma das grandes metrópoles nacionais.

Acresça-se que ela captura população da área metropolitana externa, dos dez municípios goianos contíguos. Esses municípios passaram de 716.337 habitantes, em 2000, para 937.013 habitantes, em 2010 ou um crescimento de 30,08%, mais do que o dobro da média nacional.

Devido ao pouco espaço, conclui-se que, em 2010, a Área Metropolitana de Brasília – DF e municípios goianos – perfazem quase três milhões e meio de habitantes, algo que deverá preocupar os novos governos de Goiás e do DF para estabelecer convênio ou contrato de parceria para a gestão dessa metrópole bi-estadual. Um desafio.

(*) Aldo Paviani é professor titular-aposentado da Universidade de Brasília, onde recebeu o título de Professor Emérito. Atua como Pesquisador Associado do Núcleo de Estudos Urbanos e Regionais (NEUR), do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (CEAM) e do Departamento de Geografia, ambos da mesma universidade. Graduado em Geografia e História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e Livre Docente/doutor pela Universidade Federal de Minas Gerais. Tem experiência na área de Geografia, com ênfase em Geografia Urbana, atuando principalmente nos seguintes temas: urbanizacão em Brasilia, gestão do território, planejamento urbano, exclusão socioespacial e emprego/desemprego em áreas metropolitanas.

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