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O foco no lucro pode "matar"!

Por Walter Roque Gonçalves (*) | 16/02/2016 10:05

O leitor deve estar se perguntando: de que forma o foco no lucro pode “matar”, levar a empresa a falência?! Afinal não vivemos numa sociedade capitalista? O lucro não faz parte da sobrevivência dos negócios? Entre os fundamentos do capitalismo não estão a obtenção do lucro e a propriedade privada? Sim é a resposta para estas perguntas.

Contudo, quando ouço a retórica de que o foco principal de qualquer empresa é o “LUCRO”, soa-me como se alguém me dissesse: Olha, o seu foco é respirar, porque sem oxigênio você morrerá! Isto é algo óbvio, visceral, intimamente ligado à nossa existência...

A não ser que alguém esteja enfrentando uma crise de “asma”, se preocupar em respirar, pode consumir tempo precioso que deveria ser dedicado a estrutura que vitaliza o corpo e permite oxigená-lo cada vez melhor.

O professor mestre em economia Paulo Roberto Lucas de Oliveira, no artigo “Lucro a todo custo”, afirma que “o lucro na empresa, visto sob um ponto de vista exclusivo (...) implica na redução dos objetivos dos demais grupos participantes do processo”. A constatação do autor leva a refletir sobre a necessidade de alinhar os desejos dos interessados no negócio com a necessidade de gerar lucro à empresa!

Afinal, enquanto o investidor foca no lucro, os clientes focam nos benefícios e vantagens oferecidas, os fornecedores na venda, os colaboradores em geral no financiamento do estilo de vida, os bancos no fornecimento de crédito e o governo na arrecadação de impostos e cumprimento da lei.

O foco demasiado no lucro leva empresas a aumentar preços sem observar a concorrência ou mesmo sem ouvir o consumidor; diminuir a qualidade dos produtos com vista à redução de custos; não reservar capital de giro e por consequência emprestar do banco; exagerar no estoque ou deixar faltar produtos; extinguir investimentos em áreas estratégicas.

Desta forma vão perdendo a essência de como se relacionar com o mercado consumidor: os clientes começam a sumir literalmente. Os negócios entram num ciclo vicioso que pode levar até à falência. Em sumo, de tanto pensar no lucro acabam ficando sem ele.

Soma-se a estes fatos a evidência de que o lucro não é a única forma de mensurar o sucesso de uma empresa. Por exemplo, podemos ter um balanço anual negativo de uma determinada indústria, entretanto, isto aconteceu devido ao aumento do parque fabril, que permitirá, no próximo ciclo contábil, conquistar maiores participações no mercado.

Em outros momentos, pode ser que não haja expressivo aumento de capital, mas há aumento real da expectativa de crescimento dos negócios. Naturalmente esta empresa aumentará as possibilidades de obter lucros no futuro e consequentemente haverá valorização da marca, atraindo novos investidores.

E assim por diante...

Por isso, deve-se ter atenção no esforço direcionado a preocupação com o lucro! É preciso equilibrar as coisas para que, o foco na geração de capital, não se torne como um veneno para empresa. Lembre-se, “A diferença entre o remédio e o veneno é a dose” como dizia o médico e físico suíço-alemão Paracelso.

(*) Walter Roque Gonçalves é consultor de empresas, professor executivo e colunista da FGV/ABS (Fundação Getúlio Vargas/América Business School) de Presidente Prudente (SP).

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