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O impacto das apostas online (bets) na vida financeira e psicológica

Por Cristiane Lang (*) | 15/06/2025 13:30

Um alerta necessário

Nos últimos anos, as apostas online – popularmente conhecidas como bets – deixaram de ser uma atividade de nicho e passaram a ocupar um lugar central na vida de milhões de brasileiros, especialmente entre os jovens. Com publicidade massiva, promessas de ganhos rápidos e fácil acesso por meio de aplicativos, esse fenômeno tornou-se não apenas um novo modelo de entretenimento, mas também um fator de risco crescente para a saúde financeira e psicológica da população.

A lógica das apostas online se sustenta na expectativa de recompensa imediata, o que pode provocar um ciclo de comportamento compulsivo. Pessoas que perdem tendem a insistir para “recuperar o prejuízo”, enquanto as que ganham se iludem com a falsa sensação de controle e habilidade. Esse padrão é um terreno fértil para o vício em jogos de azar, uma condição que afeta não apenas o indivíduo, mas sua família e seu ambiente social. Ansiedade, depressão, impulsividade e até ideação suicida são alguns dos efeitos psicológicos documentados em apostadores compulsivos.

Do ponto de vista financeiro, os impactos também são profundos. Muitos jovens comprometem sua renda, pedem empréstimos, vendem bens ou recorrem a terceiros para continuar apostando. A promessa de enriquecer rapidamente mascara a realidade de que a maioria perde dinheiro. Nesse contexto, a ausência de educação financeira é um agravante sério. Sem noções básicas de planejamento, orçamento e risco, torna-se ainda mais fácil cair na armadilha das apostas como solução mágica para dificuldades econômicas.

As empresas de apostas, por sua vez, também precisam ser responsabilizadas. Embora operem legalmente, muitas vezes investem em marketing agressivo e direcionado a públicos vulneráveis, como adolescentes, por meio de influenciadores digitais e celebridades do esporte. É preciso questionar até que ponto essas empresas estão comprometidas com práticas éticas e com a prevenção do vício. Iniciativas como limites de apostas, identificação de usuários menores de idade e campanhas de conscientização ainda são tímidas diante do lucro obtido.

A sociedade, portanto, precisa discutir urgentemente a regulação e os limites dessa indústria. Assim como acontece com o álcool e o cigarro, é necessário proteger especialmente os mais jovens, que são mais suscetíveis a comportamentos impulsivos e têm menos capacidade de lidar com as consequências de suas escolhas. A escola, a família e o Estado têm papéis complementares nesse processo. A educação financeira deve ser parte do currículo escolar desde os primeiros anos, para que crianças e adolescentes desenvolvam senso crítico e responsabilidade sobre o uso do dinheiro.

Por fim, é essencial lembrar que a liberdade de escolha não pode ser confundida com a ausência de regulação. O fenômeno das bets não é, em si, o vilão, mas os seus desdobramentos em uma sociedade despreparada para lidar com as consequências do jogo descontrolado podem ser devastadores. A consciência, o conhecimento e a prevenção são as principais ferramentas para garantir que a aposta não se transforme em ruína.

(*) Cristiane Lang, psicóloga clínica especializada em Oncologia

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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