ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, SEXTA  19    CAMPO GRANDE 28º

Artigos

Os três problemas principais

Por José Pio Martins (*) | 10/07/2019 07:10

No Brasil, não é difícil chegar aos três problemas principais – a pobreza, o desemprego, a violência – e pensar nas soluções possíveis, até porque o país é previsível e contumaz nos seus erros.

Planejamento pode ser entendido como um processo intelectual composto de seis passos: 1) identifique um problema e seus aspectos; 2) identifique as causas do problema; 3) encontre as soluções possíveis; 4) liste as vantagens e desvantagens de cada solução; 5) escolha uma solução; 6) justifique sua escolha. Esse roteiro é útil para organizar o pensamento e a compreensão de problemas, suas causas e soluções, seja no plano pessoal, empresarial ou nacional.

Examinando a economia nacional por esse roteiro, não é difícil chegar aos problemas principais e pensar nas soluções possíveis, mesmo porque o Brasil é previsível, repetitivo e contumaz nos mesmos erros. Os três problemas principais hoje são: a pobreza, o desemprego, a violência. É possível aumentar essa lista, mas as demais deficiências nacionais, como o baixo nível educacional e baixa qualidade das instituições, fazem parte das causas daqueles problemas principais.

A descrição dos aspectos que envolvem cada um dos três problemas, que são graves, pode ser resumida em uns poucos indicadores. Tomando tudo o que o Brasil produz e dividindo pela população, temos em torno de US$ 10 mil/ano, contra US$ 55 mil nos Estados Unidos, US$ 40 mil na Inglaterra, só para ficar nesses exemplos. Em algumas semanas, devem sair as estatísticas de 2018 e esses números terão se modificado, mas a relação deve seguir a mesma.

A renda per capita, ou renda por habitante, é apenas a outra face da moeda do produto por habitante, e a comparação com os países adiantados conduz à conclusão de que o Brasil não é apenas pobre; é muito pobre. A renda per capita inglesa é equivalente a quatro vezes a renda brasileira. É uma distância brutal. Grosso modo, o fato de o Brasil produzir por habitante apenas um quarto do que a Inglaterra produz define que o padrão bem-estar médio aqui será um quarto do padrão médio de lá.

O segundo maior problema brasileiro é o desemprego. De um total de 208,5 milhões de habitantes, o país tem 104 milhões de pessoas em condições de trabalhar, 13 milhões trabalham no setor estatal (portanto, sem risco de perder o emprego, mesmo na crise), 91 milhões estão no setor privado e, destes, 12,2 milhões estão desempregados. O desemprego é causa da pobreza e também sua consequência.

A solução para o desemprego é a mesma solução da pobreza: o crescimento do produto interno bruto (PIB). O aspecto geral desse quadro não é difícil entender. A dificuldade está em conseguir que o país saia da estagnação e comece a crescer a taxas significativas. O ministro Paulo Guedes está certo ao dizer que, se depender dele, o governo fará tudo a seu alcance para promover o aumento do PIB. Agora mesmo, o governo acaba de isentar os turistas vindos dos Estados Unidos, Canadá, Japão e Austrália da obrigação de visto para entrada no Brasil.

O turista estrangeiro, ao consumir bens e serviços brasileiros, promove a entrada de dólares, gera empregos e impostos aqui dentro. É um cliente que movimenta a economia nacional, logo não havia o menor sentido em dificultar a vinda de turistas daqueles países agora isentados. Poder-se-ia argumentar que alguém pode vir para cá e ficar por aqui, como imigrante. Ora, o Brasil não tem emprego nem para seu próprio povo, portanto não há risco algum de uma “invasão” de norte-americanos, canadenses, australianos e japoneses.

O terceiro problema é a violência. O número de pessoas assassinadas no país por ano é assustador. O Anuário Brasileiro de Segurança Pública informa que foram 63.880 mortes violentas em 2017. Trata-se de um número brutal, vergonhoso. Alguém diria que parte dessa tragédia monstruosa tem causa na pobreza. Essa afirmação pode ser parcialmente verdadeira. Mas o fato é que há países mais pobres que o Brasil nos quais o número de homicídios em relação a proporção da população é bem menor.

A sociedade precisa elevar o problema da taxa de homicídios à categoria de catástrofe nacional a ser tratada urgentemente. Quando uma tragédia se repete constantemente, o ato monstruoso passa a não chocar mais a população, e isso é ruim. Conviver tranquilamente com tanta violência não pode se tornar normal. A indignação é necessária para a solução. Enfim, o diagnóstico brasileiro é fácil e as soluções são conhecidas. O difícil é executá-las.

(*) José Pio Martins é economista e reitor da Universidade Positivo. 

Nos siga no Google Notícias