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Pra não dizer que não falei das flores

Por Heitor Freire (*) | 30/03/2020 07:01

A nossa cidade está de novo engalanada. As margens do córrego Prosa estão emolduradas pela beleza das flores das paineiras, que contribuem com uma energia alegre e contagiante para alegrar quem por ali transita, enriquecidas com a placidez natural do outono.

As paineiras do córrego Prosa, silenciosamente, após cumprir o ciclo da floração se recolhem ao seu interior, dando continuidade ao seu trabalho, deixando um tapete multicolorido como sua herança. Essa forma de agir da natureza se constitui num ensinamento sábio para ser apreendido por nós: uma ação constante sem ostentação.

Campo Grande sabidamente é uma cidade verde. Vista do alto, fica muito patente essa condição. A preocupação com o verde sempre esteve presente nas administrações municipais desde a fundação da nossa cidade: por ato do intendente José Santiago, em outubro de 1912, foi criada uma reserva de terras que deu origem ao Horto Florestal. Esse local é dotado de características próprias de vegetação, onde dois braços de córregos, o Prosa e o Segredo, juntam-se ali para dar origem a um rio de grande importância para a região, o Anhanduizinho.

O primeiro programa de arborização para as ruas do município aconteceu em 1913, quando o intendente, dr. Arlindo de Andrade Gomes, mandou trazer do Jardim Botânico do Rio de Janeiro cerca de mil mudas que foram plantadas em diversas ruas, dando origem a esse universo verde que cobre toda a nossa cidade, constituído inicialmente das aleias de fícus e ingazeiras das avenidas Afonso Pena e Mato Grosso, que permanecem até hoje. Não podemos esquecer as mangueiras, algumas centenárias.

A vegetação é importante, pois ameniza o efeito estufa no meio urbano, além de absorver poeira e poluentes que diminuem a poluição – e ainda age sobre a saúde física e mental do ser humano. Além de todas as funções climáticas, a arborização também ajuda a organizar o ambiente urbano, embeleza e perfuma as ruas, praças e jardins, melhorando também a paisagem.

O verde é a realização que Deus concedeu para todos os que entendem o seu significado.

Nestes tempos de coronavírus, em que o ser humano se vê, de certa forma, confrontado com a morte – é o que mais assusta o homem –, em vez de procurar entender esse fato inevitável, busca meios de procurar contorná-la, como se isso fosse possível. Não adianta fugir. É melhor encarar e aceitar. É nosso regresso à pátria espiritual.

No isolamento a que estamos submetidos, nos vemos em busca de algo para fazer, para “matar” o tempo, e quando começamos a procurar e a lembrar de fatos passados, eu me deparei com o Geraldo Vandré, que, na época da ditadura militar, inspiradíssimo, criou essa canção memorável que se transformou num verdadeiro hino pela libertação: “Pra não dizer que não falei das flores”.

 Vandré ficou em segundo lugar no Festival Internacional da Canção de 1968, nos anos de chumbo da repressão militar. Teve sua execução proibida durante anos, após tornar-se um hino de resistência do movimento civil e estudantil que fazia oposição à ditadura militar brasileira.

No refrão, Vandré nos ensina um comportamento que se encaixa de forma muito própria a estes tempos. Aliás, a todos os tempos:

“Vem, vamos embora que esperar não é saber

Quem sabe faz a hora não espera acontecer”

Para finalizar, mais um pouco de música, agora de Jorge Ben Jor:

“Moro num país tropical,

 Abençoado por Deus

E bonito por natureza”

Alegria, alegria, minha gente.

Heitor Rodrigues Freire é corretor de imóveis, advogado, membro do Instituto Histórico e Geográfico – IHG/MS.

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