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Rolezinhos aqui? Os jovens não poderão participar?

Por Ruy Sant’Anna (*) | 16/01/2014 11:00

Rolezinho é a bola da vez cujos seguidores não sabem que podem estar sendo sondados, pesquisados pela polícia, a partir da primeira manifestação em encontro.

Em primeiro lugar quem convoca um “rolezinho” tem que levar em conta que a polícia pode localizar de qual máquina e internauta saíram as convocações. Claro, em princípio também se espera que nenhuma autoridade policial vá entrar em todos os Faces e demais meios sociais de comunicação, sem autorização judicial. Muito menos se espera que algum juiz possa facilitar concessões proibidoras e segregadoras do direito de livre locomoção. Mesmo que em locais privados como os shoppings. Porque afinal, de alguma forma essas e esses jovens e crianças mesmo, são ou serão compradores em potencial em algum momento ou dia.

Uma das molas impulsionadoras dos rolezinhos são as garotas e os garotos que são buscadas para “aquele beijo na boca”; aquele se dar bem com alguém; conhecer outras pessoas; comunicar-se e testar seu poder de sedução, e por aí vai. Os shoppings têm as últimas novidades. E tudo é agregado aos visitantes até a sensação de estar sendo observado e/ou admirado, libera a euforia e alegria de viver aqueles momentos.

Caso esses sinais claros não forem objetivamente entendidos e ao contrário sejam distorcidos com aparatos policiais que tanto podem assustar a juventude e as crianças, com o medo e pânico dominando reações, também tem o lado da adrenalina que estimula mais ação, como a resposta de retribuir a violência com a violência.

Disso os black blocs, a qualquer momento podem tirar vantagem e usar da máscara do entendimento das necessidades dos que fazem rolezinho para “se identificar” com eles e partirem para a ignorância ampla, roubo, assaltos e sequestros relâmpagos ou não.

Essa é uma das vertentes culpadas pela leitura errada sobre os rolezinhos, tanto dos comerciantes, administradores de shoppings, polícia e judiciário, que só vê o mal ou divide o mundo entre o certo e o errado.
A sociedade brasileira apavorada com a corrupção e tantos homicídios diários está misturando todo esse caldo roxo-vergonhoso no mesmo caldeirão onde quer jogar os rolezinhos.

Se essa mistura se firmar, ficará cada vez mais difícil separar origens tão diferentes quanto deletérias. Digo mais: a presidente Dilma, que já convocou reunião para analisar essa situação que pode se tornar realmente em problema mais grave, tem de analisar coerentemente a questão.

Cabe ao governo federal, como o centralizador das verbas da União, criar o primeiro programa de entendimento e oferta de um plano que acolha e ofereça distração e possibilidade de livre manifestação para crianças e jovens, como eles querem.

Isso tem que ser fixado às claras, sem meias palavras e intenções mal disfarçadas. A população de crianças e jovens não está interessada, minimamente sequer, em política ou facção política. Muito menos em reeleição.

Gente, menina de 15 anos apanha de cassetetes por “culpa” de querer se divertir... E juiz, na Capital paulista, ainda determina multa de R$ 10 mil por dia contra quem for pego em rolezinho. Meu Deus, o que é isso? Direito é bom senso. Justiça é o principio básico para atender a ordem social para preservar direitos, atendendo à lei e não apenas ao livre convencimento do magistrado.

A justiça tem que observar os dois lados de uma questão. Se existe o lado da preservação da propriedade e segurança, tem que atentar também para o direito do ir e vir, explícito na diversão dos rolezinhos. O lado social de quem não deve ser discriminado nem violentado com cassetetes ou sprays de pimenta, tem que ser respeitado sim. Nenhum desses brasileirinhos deve ter apontado sobre sua cabeça uma arma com bala de borracha. Nem humilhados com atitudes desrespeitosas que os exponham à execração pública de passantes, muito menos através da imprensa.

Sabemos que os bandidos torcem para que os rolezinhos sejam estigmatizados e agasalhados pelos “amigos protetores” desse público, que tem muito de ingênuo apesar de sempre querer “se dar bem com as minas e com os fofinhos”.

O que está assustando os shoppings é a extravasão da alegria, das correrias e cantorias em ritmo de funk, mesmo sem voz de comando reivindicatório. Mas, tudo parece levar para o lado político eleitoral por quem deveria cuidar do legítimo direito de diversão das crianças e jovens que estão sendo rotulados como se fossem de mau caráter ou bandidos mesmo. Coisa que realmente não são.

Todos querem se sentir bem e útil, mas, principalmente, não ser discriminados. Como qualquer um de nós. Afinal essas crianças e jovens sabem, perfeitamente, que o futuro é hoje. Sabem que não existe o futuro, se não viverem bem no presente. Sobretudo essas irmãzinhas e irmãozinhos têm de ser estimulados a crescer tanto física. mental, quanto intelectualmente.

O assunto rolezinho não pode ficar fechado secretamente ou deixado para que o jogo de empurra se estabeleça. Conversa de gabinete, notas bombásticas e/ou entrevistas pré-programadas, só piorarão. Não pode ficar apenas na limitação do acesso dos jovens. Individualmente pode. Em grupo, nem pensar? A questão é mais séria e ampla!

Por último, qual o critério para se proibir a entrada ou não nos shoppings? Até agora, pelo que se vê na imprensa, não existe critério. Está indo no olho discriminatório. Bem vestido, pode? Mal vestido, não pode? Cabelo arrumado pode? Em desalinho, não pode? Pela clara, pode? Pele negra, não pode? Bem calçado, pode? De chinelo, ou de tênis muito rodado, não pode? Campo Grande e outras de nossas cidades podem ser levadas aos rolezinhos, com características próprias. Assim, caríssimas crianças e jovens, autoridades policiais, promotores de justiça da área da infância e juventude, juízes da mesma área, agentes públicos municipais e estaduais sediados em Campo Grande e outras cidades onde tenham shoppings no MS, eu os abraço confiante, e os cumprimento na certeza de que os maus exemplos de São Paulo e Rio de Janeiro não se repetirão por aqui. Assim, lhes dou bom dia, o meu bom dia pra vocês.

(*) Ruy Sant’Anna, jornalista e advogado.

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