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Uma dose de realidade: o impacto do álcool na saúde mental

Por Cristiane Amaral (*) | 27/02/2024 13:30

Em pequena quantidade, o álcool funciona como um sedativo no sistema nervoso central que ajuda as pessoas a relaxarem. Uma latinha a mais já promove efeitos estimulantes de coragem e extroversão garantindo mais diversão a eventos sociais e familiares. Mas, independente da motivação, esse é um hábito que pode trazer inúmeros prejuízos, entre eles, à sua saúde mental.

Não podemos individualizar uma situação hoje considerada de saúde pública e que afeta mais de 6 milhões de brasileiros - ou 4% da população adulta – que consomem bebidas alcoólicas em excesso e correm risco de dependência, conforme levantamento feito no início do ano passado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Recentemente tivemos o carnaval, uma festa normalmente patrocinada por grandes marcas e onde o uso de bebidas alcóolicas é hiperestimulado. No entanto, não podemos fechar os olhos para o que essa questão representa: o álcool não se limita a festas de rua, ele está presente em quase todos os eventos sociais e familiares, de festas infantis ao "churrasquinho" de fim de semana.

Devido à sua popularização do consumo, precisamos conversar a respeito. Se você está enfrentando dificuldades no trabalho, financeiras ou no relacionamento, é importante procurar ajuda psicoterapêutica e/ou psiquiátrica. "Tomar uma latinha" para relaxar depois de um dia difícil não vai resolver e ainda pode contribuir com o agravamento dos sintomas ou com o surgimento de novas doenças.

Ao fazer uma revisão da literatura científica, observamos que pacientes com os transtornos mentais mais prevalentes,  entre eles depressão, ansiedade e fobia, têm duas vezes mais chances de relatar um transtorno por uso de álcool do que pessoas sem esses transtornos. É que o álcool geralmente é percebido como "falso" aliado para lidar com o mau humor e a irritabilidade comuns em alguns desses transtornos mentais.

Portanto, não existem "benefícios de beber". Isso é um equívoco. É importante fortalecer a nossa saúde mental a partir de hábitos saudáveis, como a prática de exercícios físicos regulares, alimentação equilibrada, sono adequado, bons relacionamentos, psicoterapia, meditação, entre outras ações cotidianas, que naturalmente vão regular seu humor e promover a saúde integral (física e mental).

Você pode estar se perguntando, afinal, o que é saúde mental? Sei que ainda há muito tabu em relação ao tema, que é visto como "frescura" ou "loucura". Mas a OMS destaca que saúde mental é um estado de bem-estar mental que permite às pessoas lidarem com o estresse cotidiano, realizarem as suas capacidades, aprenderem e trabalharem bem, e contribuírem para a sua comunidade.

Sem saúde mental, não temos como alcançar o direito básico inerente a cada um de nós de desenvolvimento pessoal, comunitário e socioeconômico. Outro dado que vem confirmar nossa preocupação, enquanto profissionais da saúde, é que o uso abusivo de álcool e suas consequências estão presentes nas classes sociais mais elevadas e nas mais baixas, ou seja, está "naturalizado" socialmente.

Enquanto acharmos que esse padrão de consumo de álcool não é um problema, não há o que possa ser feito. Compartilho essa reflexão justamente porque alguns pacientes relataram melhora significativa no quadro de saúde mental, principalmente de ansiedade, quando deixaram de consumir álcool e investiram em um estilo de vida saudável.

Uma frase célebre do poeta romano Juvenal afirma que "mens sana in corpore sano"  - "uma mente sã em um corpo são" – é o que as pessoas deveriam desejar para a vida.  Portanto, lembre-se que diante de um quadro de sofrimento ou problema difícil, buscar ajuda profissional seja mais interessante do que afogar as mágoas em um copo de bebida. Pense sobre isso!

(*) Cristiane Amaral é psicóloga com formação em transtorno de ansiedade e depressiva no Instituto Albert Einstein.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros

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