Clã Razuk foi preso para evitar “guerra” pelo jogo do bicho em Goiás
Até empresa de engenharia de Campo Grande estava sendo cooptada para atuar em licitações no Estado vizinho

A quarta fase da Operação Successione deixou explícito que, além da atuação criminosa identificada em etapas anteriores pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), a prisão do clã Razuk se deu como medida para impedir que o grupo se expandisse para Goiás, onde certamente haveria confronto pelo controle do jogo do bicho.
RESUMO
Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!
A Operação Successione, em sua quarta fase, prendeu integrantes do clã Razuk para impedir sua expansão no controle do jogo do bicho em Goiás. A ação visava evitar um possível confronto armado com grupos rivais, especialmente o liderado pelo bicheiro Cachoeira, de Goiânia. A organização criminosa, comandada por Roberto Razuk e seu filho Roberto Razuk Filho, contava com apoio político e um investidor disposto a aportar R$ 30 milhões para a expansão. O grupo também tentava interferir na licitação da Lotesul, demonstrando interesse em ocupar espaços legais e ilegais no mercado de apostas.
Na decisão judicial que autorizou as prisões de ontem, a juíza May Melke Amaral Penteado Siravegna sustenta que, para alcançar esse objetivo, seria necessário "derrubar" a liderança da jogatina naquele Estado, o que certamente levaria a uma guerra pelo controle do jogo do bicho, que atingiria ambos os Estados.
- Leia Também
- PM preso por explorar jogatina repassava dados sigilosos à quadrilha dos Razuk
- Ao colocar tornozeleira, Roberto Razuk pede para sair bonito nas imagens
A organização criminosa comandada, segundo o Gaeco, por Roberto Razuk e Roberto Razuk Filho, o Neno, estruturou uma ofensiva para expandir o domínio territorial e financeiro, valendo-se de contatos políticos, investidores e empresas de fachada.
O plano de expansão para Goiás contava com articulação direta de Willian Ribeiro de Oliveira, preso ontem e apresentado pela investigação como peça-chave por ter acesso a informações sigilosas da segurança pública e trânsito livre dentro do Executivo goiano.
Ele foi responsável por mapear pessoas, veículos e dados estratégicos a pedido da organização. Também teria papel ativo para “resolver” apreensões policiais e intervir junto à Sefaz (Secretaria de Fazenda de Mato Grosso do Sul) quando necessário.
"Além disso, em razão da sua influência e mediante pagamento de propina, o referido representado também tinha a função de resolver as questões referentes às apreensões policiais desfavoráveis ao grupo criminoso, inclusive com a intervenção junto à Secretaria de Fazenda de Mato Grosso do Sul, bem como de realizar pagamentos através de sua empresa, a WR Indístria e Comércio de Eletrônicos EIRELI."
Willian não atuou sozinho. A decisão mostra que os líderes da família Razuk demandaram levantamentos completos sobre a rentabilidade do jogo do bicho em Goiânia e pedido de indicação de empresa para participar de licitações supostamente fraudulentas. A escolha recaiu sobre companhia conhecida por contratos de obras públicas em Mato Grosso do Sul e tida como “de confiança de Roberto Razuk”.
A empresa seria usada para abrir portas e facilitar negócios em Goiás enquanto a organização buscava derrubar o grupo que domina a jogatina no Estado vizinho, liderado pelo bicheiro Cachoeira, de Goiânia.
As investigações revelam ainda que um investidor não identificado sinalizou aporte de R$ 30 milhões para financiar a expansão criminosa, como já mostrou o Campo Grande News. O valor, segundo a decisão judicial, demonstra o grau de ambição e risco envolvido, já que o objetivo era enfrentar o grupo rival e assumir o mercado goiano, mesmo sob risco real de confronto armado capaz de afetar os dois Estados.
Lotesul - Outro ponto que pesou na manutenção das prisões foi a atuação da família Razuk para interferir na licitação milionária da nova Lotesul, a loteria estadual. Quebras de sigilo mostram que Roberto Razuk pagou as custas de processo judicial para contestar o edital em março deste ano, tentativa vista pelo Ministério Público como esforço simultâneo para ocupar espaços legais e ilegais no mercado de apostas.
Mesmo com parte do grupo já detida em fases anteriores da Successione, a organização se reorganizou e continuou operando. A juíza May Melke destacou que a influência política, a rede de proteção e a estrutura financeira demonstram contemporaneidade da atuação criminosa e justificam a medida extrema de prisão para impedir novos avanços do esquema.
"Não obstante, ainda a denotar a gravidade concreta dos fatos objeto da representação e sua contemporaneidade, tem-se o envolvimento das organizações criminosas com a classe política, reforçando seu poderio e a dificuldade de serem combatidas pelos órgãos de fiscalização e segurança pública, o que ficou demonstrado, posto que mesmo após a deflagração da Operação Successione, a família Razuk continua a explorar com domínio absoluto o jogo do bicho na cidade de Dourados/MS e região, como se atividade lícita fosse, valendo-se de bancas espalhadas por diversos pontos estratégicos da cidade, onde podem ser anotadas as apostas, o que somente se consegue mediante conivência de funcionários públicos responsáveis pela fiscalização e repressão da atividade ilícita."
Operação – A quarta fase da Operação Successione teve como objetivo o cumprimento de 20 mandados de prisão preventiva e de 27 mandados de busca e apreensão nos municípios de Campo Grande, Corumbá, Dourados, Maracaju e Ponta Porã, além de alvos nos estados do Paraná, Goiás e Rio Grande do Sul.
As fases anteriores revelaram a atuação de uma organização criminosa armada, violenta, que se dedicava à exploração de jogos ilegais, corrupção e demais delitos correlatos, responsável por roubos com emprego de arma de fogo, no contexto de disputa pelo monopólio do jogo do bicho em Campo Grande, em razão do vácuo deixado após a Operação Omertá.
Com a continuidade das investigações, foi possível identificar mais 20 integrantes dessa organização criminosa, inclusive outros líderes, que atuavam para estabelecer seu domínio no jogo ilegal em Mato Grosso do Sul, onde já atuam em diversos municípios.
Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.

