“Estão pedindo dois milhões”: áudios revelam propina para liberar maconha
A droga, segundo a PF, foi apreendida inicialmente pela PRF, mas acabou liberada por policiais civis do RJ

Áudios interceptados pela PF (Polícia Federal) revelam os bastidores de uma negociação milionária para liberar carga de 10 toneladas de maconha que saiu de Mato Grosso do Sul com destino ao Rio de Janeiro. A droga, segundo a PF, foi apreendida inicialmente pela PRF (Polícia Rodoviária Federal), mas acabou liberada por policiais civis fluminenses após pagamento de propina exigida por meio de mensagens de celular.
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Policiais civis do Rio de Janeiro são investigados por liberarem carregamento de 10 toneladas de maconha mediante pagamento de propina de R$ 2 milhões. A droga, inicialmente apreendida pela PRF na Serra das Araras, havia sido adquirida por traficantes de Santa Catarina e negociada com o Comando Vermelho. A fraude foi descoberta após a PRF abordar novamente o mesmo caminhão, já vazio. Sete pessoas foram presas, incluindo cinco policiais civis, um policial militar e dois advogados. O STJ posteriormente determinou a soltura dos envolvidos por falta de provas, decisão contestada pelo Ministério Público.
Conforme reportagem exibida pelo Fantástico, neste domingo, em um dos áudios obtidos durante a investigação, Lucinara Koerich, esposa de um dos envolvidos, relata a conversa com policiais. “Estão pedindo dois milhões para soltar a mercadoria. Eles querem dar um milhão e meio, eles tão pedindo dois". O caso aconteceu em 2023.
A carga, segundo a PF, havia sido adquirida por traficantes de Santa Catarina e foi negociada diretamente com integrantes da cúpula do CV (Comando Vermelho), no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio. O transporte foi feito em um caminhão com nota fiscal falsa de alimentos congelados, que partiu de MS.
Na altura da Serra das Araras, o veículo foi parado pela PRF e levado à Cidade da Polícia, no Rio. Lá, segundo os investigadores, em vez de formalizar a apreensão, policiais civis passaram a negociar com os criminosos. Um novo áudio mostra Carlos Alberto Koerich, um dos articuladores da compra da carga, relatando.“Tô no maior desenrole com o cana aqui, amor. Pegaram o caminhão ali na Serra das Araras ali".
Apesar da apreensão inicial, o caminhão foi liberado com apoio de policiais civis, conforme apontam documentos da PF. Em um registro escrito à mão, o agente Deyvid da Silveira afirmou que "nada foi encontrado" no veículo, contradizendo a apreensão inicial de 10 toneladas de droga.
A fraude foi descoberta quando, já com o caminhão vazio, a PRF voltou a abordar o veículo e identificou o mesmo motorista. Surpresos com a liberação, os agentes federais acionaram a Polícia Federal. As investigações indicam que os advogados Leonardo Sylvestre Galvão e Jackson da Fonseca, ligados ao Comando Vermelho, atuaram como intermediários da propina. Jackson chegou a reclamar, por mensagem, de não ter recebido sua parte:
“Tiraram os 10% e não deixaram nada pra gente. Eu que fiz essa correria. Limpei tudo, deixei no esquema.”
Sete pessoas foram presas durante a operação, incluindo cinco policiais civis, um policial militar e os dois advogados. Na semana passada, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) mandou soltar quase todos os envolvidos, alegando falta de provas de tráfico, já que a carga não foi formalmente apreendida.
Ainda assim, o Ministério Público contesta a decisão, alegando que fragmentos de entorpecente foram suficientes para atestar a presença da droga. "Foi realizado exame pericial que confirmou tratar-se de substância entorpecente", afirmou o promotor Fabiano Oliveira. A Corregedoria da PM informou que os agentes envolvidos estão afastados e respondem a processo disciplinar, que pode resultar em demissão.
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