ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram Campo Grande News no TikTok Campo Grande News no Youtube
JUNHO, SEXTA  20    CAMPO GRANDE 17º

Economia

Vencedora da Rota da Celulose usou contrato que caducou para provar "expertise"

Consórcio K&G foi habilitado usando como qualificação técnica a BR-393/RJ, mesmo com histórico de problemas

Por Jhefferson Gamarra | 09/06/2025 14:15
Vencedora da Rota da Celulose usou contrato que caducou para provar "expertise"
Trabalhadores da K-Infra durante manuntenção na Rodovia do Aço no Rio de Janeiro (Foto: Reprodução)

O consórcio K&G Rota da Celulose, formado pelas empresas K Infra Concessões e Participações Ltda e Galápagos Participações Ltda, apresentou como principal comprovante de qualificação técnica para disputar a concessão da Rota da Celulose o contrato de concessão da BR-393/RJ (Rodovia do Aço), cuja concessão foi formalmente anulada pelo governo federal em 3 de junho de 2025, um mês após a habilitação do grupo no certame.

RESUMO

Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!

O consórcio K&G Rota da Celulose, vencedor da licitação para a concessão da Rota da Celulose no Mato Grosso do Sul, utilizou um contrato de concessão da BR-393/RJ, posteriormente anulado pelo governo federal, como comprovante de experiência técnica. O documento, que previa gestão até 2033, foi invalidado em junho de 2025 devido a problemas operacionais e multas acumuladas desde 2014. A ANTT havia recomendado a caducidade desde 2022, mas o consórcio argumenta que herdou passivos anteriores. O segundo colocado no leilão, liderado pela XP Investimentos, questionou a validade da habilitação, alegando que a anulação do contrato invalida os requisitos técnicos. O governo de Mato Grosso do Sul analisará o recurso, e a decisão da comissão licitatória, prevista para esta semana, pode alterar o resultado. A K-Infra anunciou que recorrerá ao STF para tentar reverter a caducidade, defendendo que a decisão foi tomada sem devido processo legal.

O relatório oficial de análise dos documentos de habilitação, emitido e aprovado pela CEL (Comissão Especial de Licitação), confirma que a empresa utilizou esse contrato como evidência de sua capacidade técnica para operar rodovias.

O documento, datado de 28 de maio de 2025, analisa o Envelope 3, com os documentos de habilitação do consórcio, no âmbito da Concorrência nº 001/2024, promovida pelo governo do Mato Grosso do Sul para conceder à iniciativa privada um sistema rodoviário composto por trechos das rodovias estaduais MS-040, MS-338 e MS-395, além das federais BR-262 e BR-267. Os investimentos previstos no projeto somam R$ 6,9 bilhões, com 870 quilômetros de extensão e 146 quilômetros de duplicação.

No relatório da CEL, assinado pela presidente Gabriela Rodrigues, pelo membro Rédel Furtado Néres e pelo procurador do Estado Carlo Fabrizio Campanile Braga, consta que o consórcio atendeu a todas as exigências do edital. Como atestado técnico de experiência, o grupo apresentou o Contrato de Concessão Edital nº 007/2007, relativo à BR-393/RJ, assinado em 2008 e com vigência prevista até 2033. A documentação aponta que a K-Infra foi responsável pela gestão, manutenção, ampliação e operação de 200,4 km de rodovias no estado do Rio de Janeiro, com valor contratual estimado em mais de R$ 2 bilhões (valores de 2007), incluindo os contornos de Três Rios e Volta Redonda.

Vencedora da Rota da Celulose usou contrato que caducou para provar "expertise"
Executivos do consórcio vencedor batendo o martelo durante leilão da Rota da Celulose na B3 (Crédito: Reprodução/YouTube)

Apesar da apresentação regular do documento e da habilitação ter sido concedida pela comissão estadual, a escolha do contrato como referência técnica ocorreu em um momento em que o processo de caducidade da concessão da BR-393 já estava em curso. A ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) havia recomendado a caducidade desde 2022, e o Ministério dos Transportes formalizou o pedido em outubro de 2024, rejeitando qualquer tentativa de reequilíbrio contratual.

A concessão da BR-393 enfrentava problemas de manutenção, atrasos em obras e acúmulo de multas por descumprimento de cláusulas contratuais desde, pelo menos, 2014. Entre 2020 e 2024, a ANTT registrou 75 infrações operacionais, incluindo falhas nos serviços de atendimento médico, socorro mecânico e inspeções de tráfego.

A situação culminou no Decreto nº 12.479, assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que declarou oficialmente a caducidade da concessão da K-Infra em 2 de junho de 2025 e publicado no Diário Oficial da União no dia seguinte.

A utilização desse contrato, posteriormente anulado, como base de qualificação técnica levantou questionamentos sobre o processo de habilitação da empresa no leilão da Rota da Celulose, que mobiliza recursos públicos e privados de grande porte. Após a publicação do decreto de caducidade, o consórcio liderado pela XP Investimentos, segundo colocado no leilão, protocolou recurso administrativo pedindo a inabilitação da K&G, alegando que a empresa não possui mais os requisitos técnicos e financeiros exigidos pelo edital, justamente por causa da anulação da concessão da BR-393.

A K-Infra, por sua vez, alega que os problemas na BR-393 foram herdados da antiga concessionária e que 96% das penalidades referem-se a passivos anteriores à sua gestão, iniciada formalmente em 2018. A empresa também anunciou que ingressará com mandado de segurança no STF (Supremo Tribunal Federal) para tentar reverter a caducidade, argumentando que a decisão foi tomada sem garantir o devido processo legal.

O governo de Mato Grosso do Sul confirmou o recebimento do recurso e informou que concedeu prazo de três dias para a K-Infra apresentar suas contrarrazões, conforme o regulamento do edital, prazo este que terminou na sexta-feira (6). O processo agora depende da análise jurídica e técnica da Comissão Especial de Licitação e pode alterar o resultado da concorrência, colocando sob risco a validade da habilitação do consórcio vencedor. A decisão da comissão deve ocorre nesta semana.

Nos siga no Google Notícias