Gripe fora de época tem a ver com mudança climática, diz pneumologista
Baixa vacinal e alteração no ecossistema dos vírus no pós-pandemia também explicam quadros em plena primavera

A gripe costumava ser uma doença típica do outono e inverno, mas isso está mudando. Neste mês da primavera, os postos de saúde e pronto-socorros da Capital andam repletos de pessoas com febre, dor no corpo, prostração, coriza e tosse.
RESUMO
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As mudanças climáticas estão alterando os padrões de circulação de vírus, causando surtos de gripe fora da temporada tradicional. Segundo a pneumologista Andrea Cunha, temperaturas instáveis, baixa vacinação e o impacto da pandemia contribuem para o aumento de casos respiratórios nesta primavera. Vírus como adenovírus e influenza estão em alta, afetando principalmente idosos e crianças. A especialista alerta para a importância da vacinação e do fortalecimento da imunidade, além de ressaltar a confusão entre sintomas de alergia e infecções virais. Hidratação, alimentação balanceada e controle de comorbidades são medidas essenciais para prevenir complicações. O cenário pode se repetir nos próximos anos, exigindo maior atenção à saúde respiratória.
E não é só em Campo Grande. Outras cidades do Centro-Oeste e também do Sudeste estão registrando surtos de doenças respiratórias. Os casos mais graves de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave), inclusive, estão se concentrando em Mato Grosso do Sul, Pará, Rio de Janeiro, Rondônia e Roraima, segundo o último boletim da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) na quinta-feira (21).
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A pneumologista de Campo Grande, Andrea Cunha, explica que essa gripe fora de época não está gerando tantas internações em comparação aos meses mais frios do primeiro semestre do ano. Porém, os sintomas intensos estão, sim, levando mais pessoas a buscar atendimento médico.
Três motivos - As mudanças climáticas são uma das explicações para essa onda de vírus na primavera, que poderá se repetir nos anos seguintes. O verão não garante imunidade pelo mesmo motivo.
As estações já não estão mais tão definidas e as características de transmissão dos vírus mudam também. A gente teve uma frente fria em novembro, além de dias com tempo seco, e as pessoas ficando mais aglomeradas em ambientes fechados. Essa combinação gera uma circulação maior", resume a médica.
A segunda explicação é a baixa vacinal. De acordo com números do painel de vacinação do Ministério da Saúde, Mato Grosso do Sul atingiu só 51,23% do índice de imunização esperado entre crianças, gestantes e idosos — os grupos de risco. Nacionalmente, o resultado alcançado não está tão distante: 55,44%.
"A vacina da gripe evita internações e diminui bastante a chance das pessoas pegarem gripe. Se menos pessoas tomaram, voltam a circular os vírus que estavam cobertos pela imunização", diz a médica.
O terceiro fator é o pós-pandemia e a alteração do ecossistema da maioria dos vírus. "Os vírus são organismos vivos e fazem parte de um ecossistema em que competem entre si. Então, se surge uma pandemia ou há um período frio numa estação quente, muda o padrão de circulação de diversos vírus", detalha a médica.
No ar - Adenovírus, VSR (Vírus Sincicial Respiratório), parainfluenza e o influenza são os vírus que mais estão no ar, diz a especialista. Entre eles, segundo o boletim da Fiocruz, o adenovírus é o que mais colabora para o crescimento de casos em Mato Grosso do Sul.
Conforme o boletim de SRAG mais recente da Secretaria Estadual de Saúde, o Estado somava, até 8 de novembro, 789 mortes de pessoas que tiveram o quadro. A maioria das vítimas tinha mais do que 80 anos. Já em relação às internações, bebês e crianças de até 9 anos foram mais afetados do que adultos e idosos.
É gripe ou alergia? - Ainda segundo Cunha, os sintomas nesta época do ano estão confundindo muitos pacientes. Ardência nos olhos, tosse e coriza podem tanto ser uma alergia quanto os primeiros sinais de uma doença respiratória.
"Se forem sintomas mais leves, confunde porque o tempo está seco, porque mudou a temperatura, houve uma oscilação climática. Aí é que tem que ter cuidado para não achar que é uma alergia e estar transmitindo para outras pessoas", fala a médica.

A pneumologista também faz um alerta para os alérgicos. "Todos que têm algum componente alérgico, como rinite, sinusite, bronquite e asma, têm uma facilidade maior de ter infecções virais, principalmente se não estiverem fazendo um tratamento adequado de prevenção", conclui.
Imunidade - E o organismo que precisa batalhar contra vários vírus, em vários meses do ano, fica como? A pneumologista dá dicas para fortalecê-lo:
- Tomar bastante líquido para hidratar as vias aéreas e deixar as secreções mais fluidas, principalmente quando o tempo está seco;
- Tomar vacina contra a gripe, pneumonia e outras que previnem infecções respiratórias;
- Fazer exercícios físicos e se alimentar bem;
- Controlar comorbidades como diabetes;
- Fazer check-up todo ano.
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