Maior “importador” de facções, MS é disputado por 10 grupos criminosos
Rota do narcotráfico na fronteira com Paraguai e Bolívia fortalece organizações interestaduais no Estado
Mato Grosso do Sul se tornou o principal destino de facções vindas de outros estados, funcionando como o maior “importador” dessas organizações no país. A localização estratégica, cortada por rotas do narcotráfico que ligam o Brasil ao Paraguai e à Bolívia, atraiu dez das doze facções interestaduais identificadas pelas autoridades. Essas organizações instalaram bases na região para facilitar o tráfico internacional de drogas.
RESUMO
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Mato Grosso do Sul lidera a entrada de facções criminosas no Brasil, com dez grupos interestaduais atuando no estado, atraídos pela localização estratégica para o tráfico internacional de drogas. O levantamento feito por O Globo revela 64 facções em todo o país, variando de redes nacionais a grupos locais, com nomes inspirados em apelidos, músicas e marcas de automóveis. PCC e Comando Vermelho dominam o cenário nacional, presentes em 25 e 26 estados, respectivamente. A Bahia lidera o ranking com 17 facções, seguida por Pernambuco com 12. Rio Grande do Sul, único estado sem PCC e CV, tem grupos locais como Bala na Cara e Os Manos. Roraima registra a presença do venezuelano Tren de Aragua. A expansão do PCC a partir de 2010 impulsionou a "faccionalização" no país, com grupos surgindo para resistir ao avanço paulista, como o GDE no Ceará.
Segundo levantamento inédito realizado pelo jornal O Globo, baseado em informações de secretarias de Segurança Pública, administrações penitenciárias e Ministérios Públicos de todos os estados, existem atualmente 64 facções criminosas espalhadas pelo Brasil, variando entre grandes redes e grupos de alcance local. Os nomes chamam atenção: alguns lembram apelidos de integrantes, outros vêm de músicas conhecidas ou de marcas de automóveis.
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Entre as facções de maior alcance estão o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o CV (Comando Vermelho), que dominam o cenário nacional. O PCC está presente em 25 estados, enquanto o CV atua em 26. Único estado onde esses dois grupos ainda não se estabeleceram, o Rio Grande do Sul é dominado por facções formadas localmente, como BNC (Bala na Cara) e Os Manos.
No ranking de estados com mais grupos atuando, a Bahia lidera com 17, seguida por Pernambuco com 12 e pelo Mato Grosso do Sul com 10. Nos dois estados nordestinos, há uma disputa pulverizada entre facções locais; já no território sul-mato-grossense, a predominância é de organizações importadas.
Embora o PCC tenha presença até fora do Brasil, a participação de grupos estrangeiros no país é rara. Uma das poucas exceções está em Roraima, onde membros do Tren de Aragua, originário da Venezuela, foram identificados. O Rio de Janeiro, por sua vez, é o maior “exportador” de facções para outros estados, com o CV e ainda o TCP (Terceiro Comando Puro) e o ADA (Amigos dos Amigos).
Especialistas apontam que é difícil medir se o número de facções está crescendo ou diminuindo, pois não há um critério oficial que diferencie esses grupos de gangues menores. A Senappen (Secretaria Nacional de Políticas Penais) mapeou 88 organizações atuando dentro de presídios em 2024, mas não divulgou os nomes. Parte dessas atua apenas intramuros, como o PVI (Povo de Israel), no Rio de Janeiro.
Segundo o professor Benjamin Lessing, da Universidade de Chicago, há uma tendência de “faccionalização” no país, impulsionada principalmente pela expansão do PCC a partir de 2010. Naquele período, integrantes de outros estados iam a São Paulo para aprender a refinar pasta base em cocaína, receber armas, drogas e instrução sobre formas de arrecadação como as rifas. O objetivo não era dominar territórios, mas estabelecer presença em pontos estratégicos para o tráfico.
No Norte e no Nordeste, muitas facções surgiram para resistir ao avanço paulista, como o GDE (Guardiões do Estado), no Ceará, e a extinta Família do Norte, no Amazonas.
A reportagem tentou contato com o secretário estadual de Segurança, Antônio Carlos Videira, para que ele comentasse sobre a situação do Mato Grosso do Sul como maior “importador” de facções. No entanto, até a publicação desta reportagem, as mensagens e ligações não foram atendidas. O espaço segue aberto para futuras manifestações.
Guerra entre facções - Em 2025, Mato Grosso do Sul enfrentou uma escalada significativa na violência associada ao narcotráfico, com destaque para confrontos entre facções criminosas e mortes violentas. O Campo Grande News noticiou diversos casos que evidenciam a intensificação desse cenário.
Em fevereiro de 2025, o jornal destacou que, no ano anterior, Mato Grosso do Sul registrou 86 mortes em confrontos com a polícia, superando as 15 mortes atribuídas a facções criminosas no mesmo período. A maioria dos homicídios relacionados às facções ocorreu em Sonora, cidade a 392 quilômetros de Campo Grande, palco de disputas entre o PCC e o Comando Vermelho. Em 2024, sete pessoas foram assassinadas em Sonora, algumas delas por engano, em meio à guerra entre as facções.
Além disso, nos primeiros cinco meses de 2025, Campo Grande registrou 71 homicídios dolosos, representando um aumento de 42% em comparação ao mesmo período de 2024, quando foram registradas 50 mortes. Esse crescimento acompanha a tendência estadual, com 185 vítimas entre janeiro e maio de 2025, mesmo número de 2023 e superior às 152 de 2024.
Esses dados refletem um cenário preocupante de violência em Mato Grosso do Sul, impulsionado pela disputa entre facções criminosas pelo controle de rotas do narcotráfico e pela crescente letalidade policial.

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