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Interior

Em cidade “sitiada”, guerra entre facções fez 5ª morte por engano

A disputa por domínio do tráfico de drogas em Sonora ocorre entre o PCC e o Comando Vermelho

Por Bruna Marques | 15/04/2024 10:59
À esquerda Tiago, conhecido como Sandrin; no meio, João Vitor e Jair Ferreira, à direita, vítimas do homicídio (Foto: Reprodução/ Redes sociais)
À esquerda Tiago, conhecido como Sandrin; no meio, João Vitor e Jair Ferreira, à direita, vítimas do homicídio (Foto: Reprodução/ Redes sociais)

Desde o começo do ano, o município de Sonora, distante 362 quilômetros de Campo Grande, virou palco de guerra entre facções criminosas. A disputa por domínio do tráfico de drogas na cidade, entre o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o CV (Comando Vermelho), já deixou cinco vítimas, mortas por engano, de janeiro a abril. No meio da briga, os moradores "sitiados" pela violência.

Tiago Valdecir Sandrin, de 37 anos, proprietário da Lanchonete e Pizzaria do Sandrin, foi executado a tiros de pistola 9 milímetros enquanto atendia no comércio, na noite do dia 20 de janeiro, na Rua dos Jacarés.

Conforme informações divulgadas pela Polícia Civil, Tiago foi morto por engano. O alvo era um de seus funcionários, que teria envolvimento com facção criminosa. Um pouco antes do ataque, a vítima havia assumido o caixa, em razão de o responsável pelo setor estar em outro cômodo.

O empresário chegou a ser socorrida pela ambulância do hospital da cidade, mas não resistiu. Na pizzaria, foram localizados 26 projéteis de pistola 9 mm. O crime foi presenciado por clientes que ficaram em choque.

No dia 28 de fevereiro, Juvenal Santos Silva, 62 anos, foi assassinado no lugar do genro, em uma casa da Rua Ceará, no Jardim dos Estados. Ele estava sentado em uma cadeira de fio na varanda do imóvel, foi atingido por ao menos dois tiros, um deles na cabeça, não resistiu e morreu no local.

Segundo apurado pela reportagem no local dos fatos, dois homens pararam em uma rua paralela, em veículo ainda não identificado. Na sequência, entraram na casa, por volta das 19h30. O alvo estava na cozinha com uma mulher fazendo janta, notou a presença do suspeito e conseguiu escapar.

Duplo homicídio - Dezesseis dias após a segunda morte por engano, no dia 15 de março, João Vitor Oliveira de Souza, 21 anos, e o professor de futebol Jair Ferreira Jara, 49, foram assassinados em um Ginásio Poliesportivo da cidade. A guerra de facções criminosas deixou duas famílias órfãs. O alvo dos tiros sobreviveu.

João Vitor e Jair assassinados em ginásio de Sonora (Foto: Sidney Assis, de Sonora)
João Vitor e Jair assassinados em ginásio de Sonora (Foto: Sidney Assis, de Sonora)

A dupla suspeita de efetuar os disparos chegou de moto no local e agiu na frente de crianças. João estava do lado de fora quando foi atingido pelos disparos e correu para dentro do ginásio na tentativa de se refugiar. O professor que estava no local tentou ajudar a vítima e os dois acabaram executados pelo garupa do veículo.

Em nota à imprensa, foi informado que um terceiro homem, que não teve a identificação divulgada, também foi baleado, mas conseguiu fugir e ser socorrido com vida. Ele era o verdadeiro alvo da dupla, que entrou no local atirando em quem encontrou pela frente, até na direção de crianças. No crime, foram utilizados dois revólveres calibre 38, que tiveram todas as munições descarregadas.

Com apoio de imagens de câmeras de segurança, a polícia chegou a pelo menos seis pessoas, sendo cinco presas por envolvimento no crime. Os dois executores, João Pablo Kataguiri, 18 anos, e Wanderson Ferreira Alves, 26, foram encontrados em Coxim. Os comparsas pagaram Pix de R$ 400 para que um taxista os levasse até a cidade, pois não conseguiram pegar ônibus na rodoviária.

João Pablo e Wanderson têm passagens por tráfico de drogas, furto e receptação.

Os outros quatro envolvidos são os que deram apoio com logística, armas e na fuga. Eles foram presos em Sonora, sendo: Anderson Gomes do Nascimento, Henrique da Silva Medeiros e Kevin Willian Ferreira Martins.

Na madrugada desta segunda-feira (15), uma jovem de 18 anos, identificada como Sabrina Machado, morreu após ser atingida por tiro no tórax, enquanto trabalhava. Ela era funcionária da boate Top Dance. Os suspeitos, integrantes da facção criminosa Comando Vermelho, tinham como alvo um rival do PCC. Cinco pessoas foram conduzidas para a delegacia por envolvimento com o crime.

Sabrina Machado, 18 anos, assassinada na madrugada desta segunda-feira (Foto: Direto das Ruas)
Sabrina Machado, 18 anos, assassinada na madrugada desta segunda-feira (Foto: Direto das Ruas)

PCC X Comando Vermelho - No início do ano, em entrevista ao Campo Grande News, o delegado Murilo Jorge Vaz Silva esclareceu que Sonora está passando por dias difíceis. “As facções brigam por poder, principalmente, por poder econômico”, destacou a autoridade policial.

No dia 8 de janeiro, Ruan Henrique Lima, de 22 anos, apontado como membro do PCC, foi assassinado a tiros após discutir com dois homens, numa motocicleta, na frente de casa, na Rua das Jabuticabas. Depois disso, conforme o delegado, a dupla de homicidas, que aparentemente se instalou na cidade, busca ceifar a vida de todos os integrantes do PCC para que o CV possa se instalar e, assim, dominar o comércio de drogas.

As facções são inimigas e têm origem distintas: o PCC veio dos presídios de São Paulo e o CV das penitenciárias do Rio de Janeiro. Se espalharam pelo país e por Mato Grosso do Sul, com a troca de presos entre as unidades prisionais e também com a atuação das quadrilhas nas regiões fronteiriças, em buscas de drogas, armamento e ainda por meio da lavagem de dinheiro.

Conforme o delegado, há muitos anos o Comando Vermelho tenta se instalar no município. “Eles tinham dificuldade de entrar, mas com a prisão de seis membros do PCC e a morte em confronto do líder da facção, restaram poucos na cidade. “Esse pouco que restou, o Comando Vermelho busca eliminar para ser tornar definitivo”.

À esquerda, David Soares Andrade, conhecido como “Coala”, e à direita, José Augusto Pereira da Silva, o "Da Leste” (Foto: Divulgação)
À esquerda, David Soares Andrade, conhecido como “Coala”, e à direita, José Augusto Pereira da Silva, o "Da Leste” (Foto: Divulgação)

Força-tarefa - No fim do mês passado, para “tirar de circulação” pessoas identificadas como integrantes de facções criminosas, força-tarefa da Polícia Civil foi enviada a Sonora para impor presença, além de cumprir ordens de prisão e de busca e apreensão.

A ação teve início no dia 28 de março, desde o dia em que as diligências começaram, dois bandidos morreram ao reagirem à abordagem policial. José Augusto Pereira da Silva, de 28 anos, conhecido como "Da Leste", morreu após trocar tiros com a polícia, em uma casa na Rua do Engenho, na Vila Nova, em Sonora. O imóvel onde ocorreram os fatos se tratava de uma boca de fumo.

De acordo com as informações da Polícia Militar, que deu apoio na ação, a investigação era conduzida pelo Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Bancos, Assaltos e Sequestros), que chegou ao endereço do suspeito através de um trabalho de inteligência.

Quando chegou no imóvel, a polícia foi recebida a tiros pelo suspeito e revidou. Da Leste foi atingido e morreu no local.

No dia 5 de abril, David Soares Andrade, 23 anos, conhecido como “Coala”, após trocar tiros com a polícia, durante a Operação Divisa Segura. Segundo o delegado de Sonora, Alan Patrick Rodrigues da Cruz, na casa de David, ele reagiu à abordagem de equipe da Denar (Delegacia Especializada de Repressão ao Narcotráfico), houve troca de tiros e o jovem acabou atingido.

Os policias levaram o rapaz para o hospital, mas ele não resistiu. David acumulava passagens criminais, entre elas a de homicídio, tráfico de drogas e roubo.

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