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Cidades

Rota Bioceânica avança sem estrutura trabalhista, alertam pesquisadores

Deficiências em Porto Murtinho são um dos pontos citados por professora durante palestra no TRT

Por Jéssica Fernandes e Kamila Alcântara | 27/06/2025 16:13
Rota Bioceânica avança sem estrutura trabalhista, alertam pesquisadores
Juiz Régis Antonio e a professora Ynês da Silva conduziram palestra nesta tarde. (Foto: TRT/Divulgação)

Enquanto a construção da ponte sobre o Rio Paraguai, principal ligação da Rota Bioceânica, avança com 79% das obras concluídas, longe dos canteiros de obras e máquinas, juristas e pesquisadores discutem os impactos do megaprojeto que ligará Carmelo Peralta a Porto Murtinho, em Mato Grosso do Sul.

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A construção da ponte sobre o Rio Paraguai, parte da Rota Bioceânica, está 79% concluída. Juristas e pesquisadores discutem os impactos do megaprojeto que ligará Carmelo Peralta (MS) a Porto Murtinho (MS). Um encontro em Campo Grande debateu a crise climática e suas repercussões trabalhistas. Especialistas alertam para a falta de estrutura em Porto Murtinho para atender a demanda de trabalhadores. A ausência de Justiça do Trabalho, Ministério Público do Trabalho e sindicatos preocupa. A prevenção de conflitos trabalhistas é crucial, e o fortalecimento das entidades representativas é fundamental. A Rota Bioceânica exige atenção à realidade dos trabalhadores e ao meio ambiente, visando um desenvolvimento sustentável.

Em Campo Grande, um encontro promovido na tarde desta sexta-feira (27) pelo Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região reuniu professores, juristas e advogados para discutir o tema “A crise climática e suas repercussões nas relações de trabalho”.

Hoje, a professora Ynês da Silva Félix, da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), e o juiz Régis Antonio Bersanin Nieddu, do TRT15, conduziram a palestra que abordou os efeitos da Rota nas relações de trabalho no Estado. À reportagem do Campo Grande News, a doutora e mestre destaca que uma das principais problemáticas está no fato de que o município fronteiriço não oferece atualmente estruturas regionais de trabalho por parte do poder público, além de bases sindicais.

Rota Bioceânica avança sem estrutura trabalhista, alertam pesquisadores
Construção da Ponte Bioceânica ligará Carmelo Peralta a Porto Murtinho. (Foto: Itaipu Binacional)

“Eu estou em um lugar bem propício para falar disso, que é perceber a falta de estrutura e de equipamentos que possam ou que venham a atender essa nova demanda. Porque é uma demanda que vai ampliar o que já existe em termos de relações de trabalho, de necessidades, e que vai propor ou trazer outras figuras: trabalhadores, empresários, empresas”, afirma.

Entre as estruturas mencionadas por ela estão a Justiça do Trabalho, o Ministério Público do Trabalho, sindicatos, sede de sindicatos e associações. “Ou seja, entidades que ainda não estão presentes ali [Porto Murtinho]. Algumas estão na capital, aqui em Campo Grande”, completa.

Apesar da pesquisa acadêmica que trata sobre o tema ainda estar em andamento, Ynês destaca que é necessário buscar formas de prevenir conflitos e solucioná-los. Um dos caminhos voltados para dar suporte aos trabalhadores que virão após a conclusão do projeto é explicado por ela.

“Como propor alternativas para essa prevenção que está ligada, no meu modo de ver, a esse fortalecimento, não só dos equipamentos, desse suporte que o Estado pode fornecer, mas também do suporte de promoção mesmo das entidades, de sua organização, e isso assim, já fui falar e vejo com bons olhos essa estrutura que o sindicato está fazendo já para poder debater a implementação do corredor”, declara.

Rota Bioceânica avança sem estrutura trabalhista, alertam pesquisadores
Juiz Régis Antonio durante fala na palestra sobre impactos nas relações de trabalho. (Foto: Divulgação TRT)

O juiz da 15ª Região, de São Paulo, Régis Antonio, falou sobre o desenvolvimento sustentável das relações de trabalho e do meio ambiente, citando a Declaração de Estocolmo de 1972, a responsabilidade fronteiriça e a realidade prática dos trabalhadores.

“A minha ideia, nessa palestra, é abordar a questão ambiental, integrando o ambiente de trabalho como parte de um meio ambiente único e indivisível. É um sistema em que qualquer alteração significativa em um organismo pode afetar o outro”, pontua.

Na visão dele, a Rota Bioceânica exige atenção para compreender a realidade prática dos trabalhadores que virão para o Estado com a demanda de trabalho gerada pelo projeto. “É como se estivéssemos criando um protocolo para julgamento e apreciação de casos, olhando para essas situações com a devida atenção, já que elas podem ser danosas não só ao meio ambiente como um todo, mas também ao meio ambiente laboral e, por consequência lógica e óbvia, a todos os trabalhadores”, esclarece.

Rota Bioceânica avança sem estrutura trabalhista, alertam pesquisadores
Em junho, 79% da Ponte Bioceânica já foi construída. (Foto: Itaipu Binacional)
Rota Bioceânica avança sem estrutura trabalhista, alertam pesquisadores
Estrutura sobre o Rio Paraguai terá 1.294 metros de extensão. (Foto: Itaipu Binacional)

Essa preocupação do Poder Judiciário, segundo ele, está na pauta do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e também é observada em organizações como a ONU. “Um exemplo é a Agenda 2030 da ONU, que traz uma série de preocupações, muitas delas, se não a imensa maioria, relacionadas à questão ambiental, tanto de forma geral quanto de forma específica ao trabalhador, ao meio ambiente do trabalho”, frisa.

O desembargador Francisco das Chagas de Lima Filho também conversou com a reportagem nesta tarde. Ele destaca que Mato Grosso do Sul precisa estar preparado para o que já está acontecendo e o que virá a acontecer.

“Temos que olhar com a lupa no momento e não a do retrovisor, que usa o passado de exemplo. Hoje os nossos trabalhadores registram domicílio em um lugar e trabalham em outros, como os brasiguaios, que vê a família no fim de semana lá no Paraguai e durante a semana tá trabalhando aqui no Mato Grosso do Sul. É preciso estar preparado para atender essa nova realidade e relações trabalhistas”, conclui.

Rota Bioceânica - A ponte sobre o Rio Paraguai será ligação do corredor que promete encurtar em quase 10 mil quilômetros o trajeto de mercadorias brasileiras rumo à Ásia, que hoje precisam partir pelo Oceano Atlântico, atravessar o Canal do Panamá para acessar o Pacífico, o que será possível pela Rota através do Chile.

A Rota é vista também como importante fator de ligação dos países envolvidos e o turismo. Com 1.294 metros de extensão, a Ponte é dividida em três trechos. Dois constituirão os viadutos de acesso em ambas as margens do rio e uma corresponderá à parte estaiada, medindo 632 metros, com vão central de 350 metros. A obra será viabilizada pela União e terá o investimento de R$ 472,4 milhões.

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