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Vinda do Pará em UTI aérea, Marizete pediu para ver o céu depois de ser extubada

Em estado grave, paciente veio do Pará para MS e quis contar sua história de sobrevivência à covid

Paula Maciulevicius Brasil | 09/04/2021 12:42
Marizete em selfie enviada para a família no dia 20 de março, antes de precisar ser intubada, ainda no hospital de Altamira, no Pará. (Foto: Arquivo Pessoal)
Marizete em selfie enviada para a família no dia 20 de março, antes de precisar ser intubada, ainda no hospital de Altamira, no Pará. (Foto: Arquivo Pessoal)

Considerada um "milagre" pelos médicos, Marizete Inês Carraro, de 47 anos, tem muito a agradecer aos profissionais de saúde, familiares e amigos que lutaram pela transferência da advogada do Pará até Mato Grosso do Sul. Moradora de Campo Grande, ela pegou a covid na cidade de Anapu, onde estava a trabalho, de lá foi levada para Altamira até chegar a Campo Grande.

Marizete já teve seu caso descrito pelo Campo Grande News nas palavras do médico Gabriel Sayegh que contou do transporte por UTI aérea de uma paciente que estava intubada e em estado gravíssimo por conta da covid-19.

Foi a advogada quem procurou o jornal para relatar sua trajetória que hoje enxerga como missão. Apesar de não se recordar de 12 dias do tratamento, mesmo antes de ser sedada, ela não esquece de como foi ver o céu ao deixar a CTI da covid no Hospital da Unimed, já em Campo Grande.

Indo por partes, Marizete trabalha com regulamentação fundiária e passa temporadas fora da Capital. Apesar de ter residência fixa aqui, estava desde o ano passado no Pará. Os sintomas começaram antes do dia 10 de março, mas para Marizete, pareciam ser apenas de uma sinusite e ela entrou com medicação.

Amigos que Marizete considera família em Anapu, no Pará, cidade onde morou meses a trabalho. (Foto: Arquivo Pessoal)
Amigos que Marizete considera família em Anapu, no Pará, cidade onde morou meses a trabalho. (Foto: Arquivo Pessoal)

O primeiro atendimento hospitalar foi no dia 19 de março, em Altamira, no Pará. "Lá eles não queriam me internar, porque aparentemente eu estava bem, mas fiz uma tomografia e quando voltei para o hospital com o laudo, internei. Deste momento eu até lembro, mas tive um apagão de 12 dias", relata.

Do hospital particular onde estava, Marizete foi transferida para um municipal porque não havia vaga de CTI. No segundo local, conseguiram colocar a advogada em uma vaga intermediária. Foi quando a família daqui de Mato Grosso do Sul ficou sabendo da saga e começou a tentar trazê-la para Campo Grande.

A primeira opção era um hospital no Estado de São Paulo, mas num intervalo de poucas horas, já com a paciente na UTI aérea, a decisão do plano foi de trazê-la para o Hospital da Unimed, em Campo Grande.

Texto que a advogada encontrou no celular dizia que aos familiares que "é só uma semana ruim que vai passar". (Foto: Arquivo Pessoal)
Texto que a advogada encontrou no celular dizia que aos familiares que "é só uma semana ruim que vai passar". (Foto: Arquivo Pessoal)

A chegada de Marizete aconteceu na madrugada do dia 24 de fevereiro e ela foi direto para o CTI da covid de onde só teve alta no dia 4 de março. "Quando fizeram o desmame da sedação, não me falaram que era mesmo covid, eu fui uma pessoa que viajou 3 mil quilômetros sem roupa, porque estava sozinha no Pará, e não sabia de nada de 12 dias da minha vida que se passaram em branco", diz.

Quando foi extubada e voltando da sedação aos poucos, Marizete diz que a primeira coisa que perguntou foi como estava a mãe dela. Por ter entendido que a internação era por um acidente, estava preocupada.

"Eu ficava procurando por marcas de acidente, mas estava bem sedada ainda, só fui tomar consciência das coisas quando fui pra enfermaria, no dia 4 de março". Foi já no quarto que entendeu que havia tido o diagnóstico positivo para a covid.

Mesmo antes de ser intubada, a advogada conta que não se recorda nem do tratamento recebido no hospital em Altamira, coisa que só descobriu quando ligou para agradecer. "Acho que foi uma coisa de Deus, sabe? Para me preservar, deixa ela lá quieta. O pessoal da enfermagem me disse que eu estava sempre muito tranquila e otimista", fala.

Céu que Marizete fotografou da janela do quarto do hospital. (Foto: Arquivo Pessoal)
Céu que Marizete fotografou da janela do quarto do hospital. (Foto: Arquivo Pessoal)

Já no quarto de enfermaria, a paciente surpreendeu até os profissionais ao fazer um pedido tão singelo. "A hora que eu cheguei no quarto, pedi para ver o céu. E me falaram que recebem todos os tipos de pedidos, mas que ver o céu foi o primeiro", ri.

Por gostar de natureza, uma das paisagens que Marizete se lembrava ainda no CTI era de ver um pé de manga atráves da pequena janela da sala. "Eu gosto da natureza, me sinto bem próxima dela, e eu passei muitas horas olhando para aquele pé de manga. Eu sinto uma conexão com a natureza, me dá paz, tranquilidade", descreve.

Sendo cuidada em casa pelos pets Hagner e Marley, registro de uma semana pós-alta. (Foto: Arquivo Pessoal)
Sendo cuidada em casa pelos pets Hagner e Marley, registro de uma semana pós-alta. (Foto: Arquivo Pessoal)

Depois da alta do hospital, no dia 12 de março, a advogada diz que o milagre é afirmado pelos profissionais de saúde. "Todo mundo que me recebeu olhava o prontuário e não acreditava que era a mesma pessoa. Eu acho que foi um milagre sim, e que eu tenho uma missão a ser cumprida, algumas até já imagino o que seja", acredita.

Antes da covid, Marizete se via num ritmo de trabalho acelerado, no pós-covid, reflete que a doença a fez "pisar no freio" na marra. "Eu acho que tudo na vida tem lições, mesmo as ruins elas trazem algo positivo, eu sei que foi uma tragédia pelo que a minha família e amigos sofreram, e eu queria agradecer muito cada pessoa que mesmo sem me conhecer, fez corrente de coração".

Ainda em recuperação, a advogada está com dificuldade nos membros inferiores e superiores e fazendo fisioterapia, mas que já conseguiu comemorar pequenas vitórias. "A minha mente voltou, graças a Deus, e a cada sessão de fisio eu saio mais forte e fazendo as coisas de casa, arrumando, são pequenas atividades que me mostram que estou voltando a vida normal", agradece.

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