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Capital

“Acusado de um crime que não fiz”, afirma réu por entregar vizinho ao PCC

Na execução, no entanto, quem foi atingida e morta pelos tiros foi a mulher do alvo, Sônia Estela

Geisy Garnes e Bruna Marques | 24/11/2021 11:07
"Capetinha" negou o crime durante depoimento no plenário do júri. (Foto: Marcos Maluf)
"Capetinha" negou o crime durante depoimento no plenário do júri. (Foto: Marcos Maluf)

“Se eu quisesse matar eu tinha matado. Tô sendo acusado de um crime que não fiz”. Foi assim que Sidnei Jesus Rerostuk, o “Capetinha”, se defendeu das acusações de participação no assassinato de Sônia Estela Flores dos Santos, baleada no lugar do marido Mateus Pompeu Dias, em abril do ano passado, no Jardim Noroeste.

Sidnei e outros dois suspeitos de envolvimento no caso – Alisson dos Santos Ferreira, vulgo “Fusca”, e Crevan Silva dos Santos, o “Neguinho” – são julgados hoje pela 2ª Vara do Tribunal do Júri. Além deles, outros três homens foram apontados pela investigação como responsáveis por organizar o atentado que acabou com a morte de Sônia.

Os seis homens foram mandados a júri popular pelo juiz Aluízio Pereira dos Santos, mas as defesas de Flávio Vinicius Ferreira da Silva, o “Destro PCC” e Kaio Humberto Gomes dos Santos, conhecido como “Diabólico”, recorreram e, por isso, o processo foi desmembrado. Enquanto os dois acusados aguardam a decisão da Justiça, os outros três são julgados. O último réu, Glyquison Mendes dos Santos, o “Kiko”, está foragido desde o crime.

Nesta manhã, diante dos jurados, Sidnei negou o homicídio. Segundo o Ministério Público Estadual, ele e Alisson monitoraram Mateus e repassaram todas as informações para as lideranças do PCC (Primeiro Comando da Capital), que dias antes, haviam “condenado” a vítima à morte.

No dia do crime, consta na denúncia, foi “Capetinha” que contou onde Mateus e a mulher estavam aos executores. O homem, conhecido na região como Opala, foi “condenado” pela facção por ter matado um integrante do grupo criminoso sem autorização e por supostamente ter cometido estupro.

Sentado no banco dos réus, “Capetinha” afirmou que todo mundo do bairro sabia que Mateus estava “jurado de morte”, mas que não se envolveu no atentado que matou Sônia por engano. “Se eu quisesse matar ele, eu mesmo ia lá e tirava a vida dele”.

O réu não negou só o crime em depoimento. Negou ser integrante do PCC, o apelido pelo qual é chamado e também conhecer qualquer um dos outros acusados do homicídio. O único que sabia quem era, afirmou nesta manhã, era a própria vítima, que morava perto da casa de sua mãe e era “Disciplina da Cadeia”, cargo de hierarquia dentro da facção.

“No dia, estava na minha mãe, estava fazendo tratamento de tuberculose. Estava isolado. Quando deitei, escutei dois disparos e, em seguida, a mãe dele batendo com uma faca de açougueiro no portão de casa, me acusando de matar ele. Ela disse que eu sabia quem matou. Falei que não sabia e ela disse que ia me matar. Peguei minha moto, saí. Perto do pontilhão, a polícia me enquadrou”.

Depois de ser abordado, “Capetinha” afirma ter sido agredido pelos policiais e acusado de um crime que não cometeu. “Meteram um tráfico em mim, porque me pegaram com 12 paradinhas que era de uso meu”. Durante o júri, foram exibidos áudios em que supostamente Sidnei conversa sobre a morte de Mateus com Flávio Vinicius, apontado como o mandante da execução. Mas diante do juiz, ele negou ser dele a voz registrada na gravação.

Além da morte de Sônia, "Capetinha" está entre os cinco réus pela execução de Sandro Lucas de Oliveira, o “Alemãozinho”, que aos 24 anos foi torturado durante “tribunal do crime” da facção paulista. O crime ocorreu em dezembro de 2019. Em áudios interceptados pela polícia, Sidnei confessa ter sido o responsável por ter decapitado a cabeça do rapaz.

Sônia foi morta no lugar do marido no dia 2 de abril do ano passado. (Foto: Henrique Kawaminami)
Sônia foi morta no lugar do marido no dia 2 de abril do ano passado. (Foto: Henrique Kawaminami)

Divisão de tarefas – No dia 2 abril do ano passado, no Jardim Noroeste, Sônia Estela Flores dos Santos, de 22 anos, morreu por engano, atingida pelos tiros destinados ao marido Mateus. Ela estava no carro da família, um Chevrolet Celta, ao lado do marido e com a filha de 4 meses no colo, quando foi ferida pelos disparos feitos por homens em uma motocicleta.

Para a polícia, Flávio Vinicius, o “Destro PCC”, de dentro do sistema prisional de Mato Grosso do Sul deu a ordem para matar Mateus.

Sidnei e Alisson monitoraram o alvo e repassaram todas as informações para as lideranças da facção criminosa por dias. No dia do crime, foi “Capetinha” que contou onde o casal estava minuto antes da execução.

Glyquison apontou o local exato onde os executores deveriam encontrar as vítimas, pagou o combustível da moto usada por eles no crime e, por fim, deu guarida aos assassinos: Crevan e Kaio.

De moto, os dois perseguiram o carro da vítima, emparelharam e o passageiro atirou. Foram dois disparos. Um deles pegou no rosto de Sônia, que estava no banco de passageiro. A filha mais velha da vítima, de 4 anos, também estava no banco de trás.

Desesperado, o marido da jovem arrancou com o carro e dirigiu até o Estabelecimento Penal Jair Ferreira de Carvalho, a Máxima de Campo Grande. Foi na unidade prisional que pediu socorro. Enquanto um agente penitenciário acionava o Corpo de Bombeiros e o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), uma equipe decidiu escoltar a família até um hospital. Os socorristas encontraram o Celta no meio do caminho, na Avenida Ministro João Arinos, mas Sônia não resistiu.

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