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Capital

Dona de agência de viagens alega falência e nega golpes

Empresária diz ter vendido bens, afirma que avisou clientes e oferece alternativas enquanto caso é investigado

Gabi Cenciarelli | 12/12/2025 17:17


RESUMO

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A proprietária da agência Conhecer Bonito Viagens, Wânia Raquel Theodorowicz, se manifestou sobre as denúncias de fraudes em pacotes turísticos em Mato Grosso do Sul. Em vídeo, ela negou golpes e afirmou que a empresa faliu após problemas com uma operadora de turismo em 2025. Segundo a empresária, que está sendo investigada pela DECON, foram vendidos bens pessoais e familiares para tentar honrar compromissos. A defesa alega existir um plano de ressarcimento para os clientes lesados, enquanto a polícia deve ouvir a responsável na próxima semana. Há 25 reclamações contra a empresa nos últimos seis meses.

Investigada por fraudes relacionadas à venda de pacotes turísticos em Mato Grosso do Sul, a proprietária da agência Conhecer Bonito Viagens, Wânia Raquel Theodorowicz, se pronunciou após as denúncias que vieram a público nesta quinta e sexta-feira. O posicionamento foi enviado à reportagem por meio de um vídeo encaminhado pelo advogado da empresária. Já são quase 30 denúncias.

No pronunciamento, Wânia afirma que a empresa está fechada desde outubro e nega que tenha aplicado golpes em clientes. A empresária diz que os problemas começaram após dificuldades enfrentadas com uma operadora de turismo que atendia a agência.

“A Conhecer Bonito Viagens nasceu do coração de Deus, mas infelizmente, em 2025, tivemos um grande problema com a empresa que nos atendia. Muitos clientes dessa empresa pediram chargeback do cartão (o cancelamento da compra feito diretamente pelo banco ou pela operadora) e reembolso, e com isso nós fomos quebrando, porque todos os valores que entravam acabavam entrando em contestação”.

Segundo Wânia, a empresa tentou manter os pacotes contratados usando recursos próprios e bens pessoais. “Nós tentávamos, de todas as formas, com nossos lucros e com nossas economias pessoais, cumprir todos os pacotes. Conseguimos por um tempo, mas chegou um momento em que não consegui mais. Tive que vender meu carro, minha casa, vendi até coisas que não eram minhas, que eram da minha família, para tentar cumprir os compromissos”.

Ela afirma que, ao perceber que não conseguiria manter as viagens, comunicou os clientes. “Eu informei os clientes sobre o que estava acontecendo e que precisaríamos cancelar os pacotes. Teve clientes muito tristes e revoltados, e eu não tiro a razão de nenhum deles”.

A empresária relata que passou a orientar os clientes sobre alternativas legais.“Nós nos propusemos a fazer a carta de desacordo comercial para o chargeback do cartão. O cliente contestaria a compra e nós ficaríamos com a dívida. Isso é algo legal para empresas que quebram".

Dona de agência de viagens alega falência e nega golpes
Tentativas de contato não atendidas (Foto: Reprodução)

Além disso, afirma que ofereceu confissão de dívida.“Fizemos confissão de dívida com datas reais de reembolso, datas que eu pudesse cumprir, porque estou trabalhando. Colocamos multas corretas, taxas corretas e até valores atualizados dos pacotes para que o cliente não tivesse prejuízo”.

Wânia também rebate acusações feitas na reportagem inicial. “As clientes que fizeram a reportagem receberam a carta de desacordo comercial. Atendi a filha de uma delas e também a advogada, que entrou em contato comigo falando várias inverdades, que foram contestadas por mim. Passei o contato do meu advogado e elas nunca entraram em contato”.

Ela diz que não houve desaparecimento nem omissão.“Todas as informações foram passadas aos clientes. Nós falimos, nós quebramos, mas não somos golpistas. Golpista é quem foge com o dinheiro, quem não dá assistência, quem vive no luxo com o dinheiro dos outros”.

Em tom emocionado, Wânia afirma que vendeu praticamente tudo o que possuía. “Eu vendi tudo o que nós tínhamos, inclusive geladeira, fogão, máquina de lavar, para cumprir os compromissos. Eu quebrei, mas tenho dignidade”.

Ela também critica as acusações de esquema criminoso. “Me chocou ver matéria falando em gangue de fraude, esquema de fraude. Isso é muito sério. Quem acusa precisa provar, porque nós também temos como provar os problemas que enfrentamos”.

A empresária afirma que permanece acessível. “Eu não sumi, não fugi e não farei isso. Continuo nas redes sociais, continuo frequentando os mesmos lugares e trabalhando para arcar com todos os prejuízos dos meus clientes".

Dona de agência de viagens alega falência e nega golpes
Vítima preocupada com viagem em conversa com dona de agência. (Foto: Direto das Ruas)

Defesa nega ocultação - Em entrevista ao Campo Grande News, o advogado da empresária, Caio César Pereira de Moura Kai, afirmou que a defesa foi procurada para esclarecer os fatos e encaminhou o vídeo com o pronunciamento da cliente.

“O contato é para prestar esclarecimentos em favor da minha cliente e encaminhar um vídeo com a explicação dela sobre os fatos noticiados. Estou à disposição e deixo meu contato para quem se sentir lesado nos procurar”.

Segundo o advogado, o ponto central do caso é a falência da empresa. “A empresa existia, mas acabou quebrando. Esse é o ponto central. Foram vendidos bens da própria família para tentar honrar compromissos, mas chegou um momento em que não foi mais possível”.

Ele afirma que a atividade turística depende de terceiros. “A empresa de turismo depende de hotéis, passeios e fornecedores pagos antecipadamente. O que ela relata é que quebrou, mas não deixou de responder ninguém”.

Caio diz que tentou acordos e orientou clientes a suspender cobranças. “Quando entrei no caso, outros advogados já atuavam. Tentamos acordos, confissão de dívida e orientamos quem pagou no cartão a fazer chargeback e cancelar parcelas futuras".

Segundo ele, a defesa ainda depende do contato direto dos clientes. “Em muitos casos isso funcionou, mas dependemos que os clientes nos procurem. Estou catalogando valores e situações. Nenhum cliente deixou de receber resposta”.

O advogado afirma que há um plano de ressarcimento. “Existe um plano para começar a ressarcir essas pessoas, que será apresentado também na delegacia”.

Ele nega que a empresária esteja se escondendo. “Temos provas de casos resolvidos. Inclusive houve ameaças, o que não é a via adequada”.

No site Reclame Aqui há 25 reclamações em nome da empresa de Wânia nos últimos seis meses.

Investigação - De acordo com o delegado Wilton Vilas Boas, da Decon (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra as Relações de Consumo), a responsável legal pela agência de turismo deverá ser ouvida na próxima semana.

A investigação decorre do registro de um boletim de ocorrência no qual nove vítimas relataram a aquisição de pacotes de viagem, com pagamento efetuado, mas sem a devida prestação do serviço.

Segundo a autoridade policial, os relatos indicam que a agência teria frustrado as expectativas dos consumidores ao não cumprir o que foi prometido, induzindo os clientes a erro.

A conduta, conforme apurado, pode configurar crime contra as relações de consumo, uma vez que os clientes acreditaram que realizariam as viagens programadas.

Dona de agência de viagens alega falência e nega golpes
Postagem de Wânia Raquel Theodorowicz em suas redes sociais, onde ela faz um pronunciamento oficial explicando o fechamento da agência (Foto: Reprodução)

Mais uma vítima – Além do pronunciamento da empresária, a reportagem foi procurada por mais uma vítima. Trata-se de uma pedagoga de 53 anos, que preferiu não se identificar. O relato foi feito pela filha dela, de 25 anos, bacharel em Direito.

Segundo a jovem, a mãe comprou no início do ano um pacote de viagem de Campo Grande para a Bahia, com embarque previsto para 23 de julho de 2025, parcelado em 12 vezes, e que ainda está sendo pago.

Dois meses antes da viagem, a pedagoga foi avisada pelo SUS (Sistema Único de Saúde) sobre a proximidade de uma cirurgia aguardada há mais de um ano e pediu o cancelamento da viagem. Também solicitou o contrato de prestação de serviços, que, segundo a família, nunca foi entregue.

“A empresa tentou convencer minha mãe a não cancelar, oferecendo crédito. Ela aceitou, mas continuou pedindo o contrato, que nunca foi enviado”.

Como a pedagoga não pôde viajar, amigas utilizaram o pacote. Após o retorno, surgiram problemas. “Elas ficaram mais de 12 horas em conexão em São Paulo e não havia traslado para todas, mesmo estando incluso no pacote”.

Diante disso, a cliente pediu o cancelamento definitivo e o reembolso de cerca de R$ 1.900. Segundo a filha, a empresa apresentou prazos que nunca foram cumpridos. “Havia sempre a justificativa de que estavam esperando o operacional, mas nada acontecia”.

A jovem afirma ainda que a mãe teria sido coagida. “A dona da empresa disse que mostraria a conduta da minha mãe aos pastores da igreja, que era a mesma que frequentavam. Esse foi um dos motivos da confiança para fechar o pacote”.

Em setembro, a família ingressou com ação no Juizado Especial Cível, apenas na esfera cível, por acreditar que se tratava de um caso isolado. Durante o processo, surgiram novas inconsistências.

“O endereço do CNPJ não confere. O oficial de Justiça encontrou outra pessoa no imóvel, que disse que a empresa saiu de lá há mais de cinco anos”.

Na audiência, realizada em novembro, a operadora incluída no processo apresentou defesa. “A própria operadora disse que desconhece a dona e a empresa, que nunca houve pacote no nome da minha mãe e que nunca teve vínculo com ela”.

Segundo a filha, até hoje não houve contato da empresária nem do advogado citado por ela. “A minha mãe só soube da situação por um grupo da igreja, onde a dona da empresa dizia que tinha levado um golpe e estava fazendo rifas. O prêmio seria uma viagem”.

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