"Aqui não é Tinder”: maquiadora expõe assédio e ameaça divulgar perfis de homens
Comunicado público denuncia rotina de investidas nas redes e cobra consciência e responsabilização
RESUMO
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Maquiadora profissional com mais de 72 mil seguidores denuncia assédio recorrente contra modelos que aparecem em seu perfil nas redes sociais. Pamella Karina Eifler Ferreira, conhecida como Pam Make, relata que mulheres são abordadas de forma inadequada após participarem de conteúdos de trabalho em sua página. Em comunicado público, a profissional ameaça expor perfis dos assediadores e alerta sobre possíveis denúncias. Segundo especialista consultada, as condutas relatadas podem configurar crimes de importunação sexual e perseguição, passíveis de punição legal quando comprovadas por meio de registros das conversas.
A maquiadora Pamella Karina Eifler Ferreira, 39 anos, conhecida como Pam Make, profissional da área há mais de 12 anos e seguida por 72 mil pessoas nas redes sociais, publicou nesta terça-feira (9), vídeo denunciando o assédio recorrente que suas modelos vêm sofrendo de homens que as abordam após aparecerem em seus conteúdos de trabalho.
No vídeo para contextualizar o desabafo, Pamella afirma que a situação não é novidade. Segundo ela, “essa não é nem a primeira, nem a segunda, nem a terceira e nem a quarta vez que acontece”.
A maquiadora relata que também já recebeu mensagens inadequadas. “Eu já resolvo as coisas sendo grossa mesmo e bloqueando os caras. É cada mensagem que vocês não fazem ideia, bizarra, ridícula”, disse.
A profissional explicou que, por ter patrocinado conteúdos e cursos recentemente, as modelos aparecem com mais frequência em seu perfil, o que aumentou o número de abordagens invasivas. “Só hoje aconteceram duas vezes, os caras mandando mensagem e é chato isso”, relatou.
Ela critica a naturalização dessas investidas e destaca o desgaste cotidiano enfrentado por mulheres. “Já temos que tomar cuidado com tanta coisa, é a roupa que usamos para não ser assediada, não pode correr sozinha no parque e agora também não pode postar foto de trabalho que os caras vêm”.
Em tom de indignação, Pamella afirma que decidiu tornar a situação pública diante da insistência dos autores das mensagens. “Se continuar eu vou expor os caras babacas, nojentos, sebosos”, disse. Ela contou que já bloqueou dois usuários recentemente e que um deles enviou conteúdo “tão pesado” que outra mulher também o expôs por comportamento semelhante. “Vão se tratar porque isso aqui é um Instagram de trabalho, totalmente voltado para mulheres”, afirmou.
A maquiadora também comentou a reação de parte do público após a postagem. “Eu vi que perdi alguns seguidores depois desse post, se foi homem vão com Deus”, declarou. Ela reforçou que seguirá firme. “Se continuar mandando mensagem para elas eu vou expor e colocar aqui no Instagram, respeita a gente”.
O post, publicado há pouco mais de duas horas, já ultrapassa 600 curtidas. Nos comentários, a maioria das manifestações é de apoio, principalmente de mulheres que elogiam a postura firme da maquiadora. Homens também se posicionaram, e um deles destacou: “print e delegacia. Isso é crime”.
No comunicado oficial divulgado no feed, Pamella adotou um tom direto ao se dirigir aos autores das abordagens. O texto abre com “Comunicado geral, aviso pra macho sem noção” e afirma que os responsáveis “vão parar essa palhaçada agora”.

Ela reforça que sua página é dedicada ao trabalho e orientada para um público feminino, repudiando qualquer interpretação equivocada dos seguidores. “Se você acha que apareceu uma mulher bonita nos meus stories e isso é convite pra paquera, procure tratamento, porque isso aqui não é Tinder”.
Em seguida, ela explica que todas as modelos a informam sobre os perfis e conteúdos recebidos. O aviso é claro: quem enviar abordagens inadequadas será denunciado, bloqueado e pode ter o comportamento exposto. “Respeita ou some”, escreveu. “Aqui não tem espaço pra homem desrespeitoso, carente ou metido a engraçadinho”.
Alerta da especialista - De acordo com a advogada Thalita Peixoto, que atua em defesa de mulheres em demandas cíveis e criminais, a situação relatada pela maquiadora liga um alerta importante. Ela explica que, “ainda que a maquiadora não tenha divulgado exatamente o teor das mensagens que as mulheres receberam, se houver conteúdo de natureza sexual capaz de ofender a liberdade ou a vontade da vítima, já existe margem para tipificação criminal”.
Thalita observa de forma didática que “o crime de importunação sexual ocorre quando alguém pratica ato libidinoso sem consentimento. Isso inclui envio de vídeos, fotos de órgãos genitais ou mensagens explícitas, como ‘imagina você na minha cama’. Qualquer manifestação sexual incisiva, sem autorização da vítima, pode caracterizar o crime”.
Segundo ela, quando essa conduta passa a se repetir, o risco aumenta: “Caso a mulher comece a se sentir coagida pelas mensagens, também é possível enquadramento no crime de perseguição previsto em lei. Esse tipo penal se aplica quando o comportamento do autor ameaça a integridade física ou psicológica da vítima ou restringe sua liberdade de locomoção”.

Com base no que foi relatado por Pamella, a advogada explica que “as modelos estariam recebendo importunação sexual relacionada à aparência e a supostos interesses românticos ou sexuais”. Ela complementa que “o crime de perseguição pode surgir quando há insistência contínua, mesmo após a vítima recusar contato. Se essa insistência provocar medo, abalo psicológico ou mudanças na rotina, pode haver caracterização de stalking”.
Thalita resume os critérios: “A importunação sexual envolve um ato libidinoso sem autorização, como falas de teor sexual pesado ou envio de imagens íntimas. Qualquer coisa que toque a sexualidade da vítima sem concordância invade sua liberdade sexual.”
Já sobre perseguição, ela ressalta que “o critério é a repetição. A partir da segunda mensagem insistente, já é possível analisar esse enquadramento. Uma única mensagem pode até configurar ameaça ou importunação, mas não perseguição. Para haver crime, é preciso que o comportamento perturbe a tranquilidade ou a privacidade da vítima”.

A advogada também alerta para os riscos da exposição pública dos perfis: “isso pode gerar acusações de calúnia ou difamação. Porém, existe a exceção da verdade, que impede esses crimes quando o fato é comprovável. Se houver provas de que a pessoa enviou mensagens de cunho sexual ou atuou de forma inadequada, é possível expor o comportamento, desde que não se use termos jurídicos como ‘estuprador’ ou ‘assediador’”.
Ela orienta que as mulheres se resguardem: “guardar prints e gravações de tela é essencial. Se houver acusação formal, esses registros ajudam na defesa”.
Sobre denunciar, Thalita afirma que “o ideal é sempre registrar boletim de ocorrência, mesmo sem reincidência. A repetição pode transformar ameaça em perseguição. A importunação sexual pode ser registrada desde a primeira mensagem”.
Ela lembra que muitas vítimas são desencorajadas: “há delegacias em que agentes minimizam os relatos”. Por isso, recomenda uma alternativa: “o boletim de preservação de direitos, que não tipifica o crime, mas formaliza a situação e protege a vítima caso, depois, haja enquadramento penal”.
A advogada reforça que “o crime de importunação sexual também vale para casos virtuais”. Ainda assim, ela aponta que “não é raro ver decisões que absolvem acusados por falta de provas ou por desconsiderarem a palavra da vítima”. Como exemplo, cita “o caso de uma cliente cujo procedimento nem avançou porque entenderam que o ambiente virtual não configuraria o delito”.
Ela lembra que a lei é recente: “a importunação sexual foi criada em 2018”. Por isso, muitos homens ainda subestimam o alcance legal dessas condutas. Para Thalita, “é fundamental que haja conscientização. Atitudes aparentemente inofensivas podem gerar responsabilização criminal e precisam ser entendidas como parte de um problema cultural que exige mudança”.
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