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Capital

Bebê engatinhou no sangue da mãe, mas réu fala em Deus e prostituição

Defesa nega que criança tenha presenciado mãe ser morta, mas promotoria exibiu slides e alega o contrário

Izabela Sanchez e Clayton Neves | 25/11/2019 12:40
Cabeça baixa, "luz do mundo" estampada no peito, imagem da esposa morta atrás: ambiente escuro e denso durante julgamento de Douglas Almeida Soares da Silva (Foto: Marcos Maluf)
Cabeça baixa, "luz do mundo" estampada no peito, imagem da esposa morta atrás: ambiente escuro e denso durante julgamento de Douglas Almeida Soares da Silva (Foto: Marcos Maluf)

Douglas Almeida Soares da Silva, 25, olhava para baixo no plenário da 2ª Vara do Tribunal do Júri na manhã desta segunda-feira (25). Com camiseta branca, estampada com os dizeres “luz do mundo”, foi a julgamento por assassinar a esposa com espancamento e, depois de morta – alega a acusação – atingi-la com facadas, cenário sangrento, os cômodos da casa, onde estava a filha de pouco mais de 1 ano.

Nesta segunda, mais de um ano depois do crime que aconteceu no dia 18 de maio de 2018, no Jardim Itamaracá, em Campo Grande, citou “Deus” – alegando que a esposa confrontava a crença – e a suposta confissão da vítima, Joice dos Santos Sampaio Magalhães, que, diz ele, se prostituía.

Joice foi morta aos 28 anos dentro de casa, em um dos cômodos no lugar onde viva com Douglas e a filha. A bebê, diz a acusação, percorreu caminho, dentro da casa, onde estava o sangue da própria mãe.

Para corroborar a acusação, o promotor George Zarour Cezar chocou o júri com as imagens da vítima, cujas lesões provocadas pelo espancamento chegaram a atingir a massa cerebral. A perícia, alegou o promotor, precisou abrir o crânio de Joice para identificar a gravidade do traumatismo encefálico.

Isso que ele fez com a mulher que dizia amar”, alegou o promotor (Foto: Marcos Maluf)
Isso que ele fez com a mulher que dizia amar”, alegou o promotor (Foto: Marcos Maluf)

Ilustraram os slides do promotor, também, o recorte de cada cômodo da casa por onde alega ter “andado” a filha do réu, que ainda engatinhava à época. A defesa – defensoria pública do Estado – nega que a criança tenha presenciado o crime ou percorrido a casa pisando em sangue e já tentou, com a negativa, abrandar os 22 anos de condenação que o crime já rendeu à Douglas.

Além de acusá-la de prostituição, Douglas disse que Joice “tentou cometer suicídio três vezes”, e que no dia em que foi morta “estava descontrolada e alterada, falando que ele merecia ser traído”.

“Ele tenta menosprezar a vítima, a difamando em sua personalidade . Os laudos periciais no local foram muito importantes e trazem muita lucidez de como foi a cena”, disse o promotor.

O promotor citou o barulho ouvido pelos vizinhos que, afirmou, fazem com que seja impossível que a criança, dentro da casa, não tenha ouvido ou mesmo presenciado o assassinato.

Ao fundo, Douglas ouve promotor acusá-lo (Foto: Marcos Maluf)
Ao fundo, Douglas ouve promotor acusá-lo (Foto: Marcos Maluf)

“Salva a bebê” – É o que Douglas teria falado à vizinha que encontrou a criança tentando sair pela porta da cozinha.

“Salvar de quem, dele mesmo? rebateu o promotor. “Não é possível que ela não tenha presenciado. Dizer que a criança não presenciou é ilógico e absurdo”. George citou “traumas psicológicos” que a criança está sofrendo pela morte violenta da mãe. “Já não basta perder a mãe, fica o peso de saber que foi o pai quem fez isso”, pontuou.

Ao confessar o crime, Douglas ainda afirma que a esfaqueou no rosto “para tirar a beleza” porque era ciumento. O promotor exibiu, então, as imagens do rosto de Joice. “Isso que ele fez com a mulher que dizia amar”, alegou.

Um dos pontos citados por Douglas foi um sinal de perfuração em seu pescoço, indício, declarou, de que a esposa o atingiu. O promotor acusa, no entanto, que ele atacou o corpo já sem vida de Joice com facadas e que o sinal no pescoço é marca de uma tentativa de suicídio.

Defesa – Ronald Calixto, defensor público que atua no caso, disse que a confissão de Douglas “sepulta qualquer tipo de desculpa”. O réu é julgado por feminicídio – homicídio qualificado por questões de gênero e violência contra a mulher – por motivo torpe.

“O acusado reconhece a responsabilidade, confessou, alegou crises no relacionamento e a coisa foi descambando para essa situação. Está sendo realizado segundo julgamento porque não há circunstâncias de que a menina tenha presenciado. Não há prova porque ela [filha] estava dormindo e quando a vizinha encontrou disse que ela estava limpa e com roupas intactas. Agora quem tem que decidir são os jurados”, disse.

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