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Capital

Capital nasceu moderna, mas futuro do transporte parou na década de 70

Em janeiro, Campo Grande completou 40 anos como Capital de Mato Grosso do Sul

Aline dos Santos | 24/05/2019 06:33
Rodoviária de Campo Grande no fim da década de 1970. (Fotos: Roberto Higa / Arquivo Público de MS)
Rodoviária de Campo Grande no fim da década de 1970. (Fotos: Roberto Higa / Arquivo Público de MS)

Em 2019, Campo Grande completou aniversário de 40 anos como Capital do Estado. Se retroagirmos no tempo, numa viagem de quatro décadas ao passado, a cidade aparece como um projeto moderno, já com planejamento urbano e de transporte sob a assinatura de Jaime Lerner, idealizador de planos urbanísticos pelo Brasil e pelo mundo.

No presente, o conceito de transporte coletivo da cidade segue preso às rodas dos ônibus, que assiste à fuga da clientela para transportes alternativos, como os de aplicativos. Desta forma, cabe a análise de que futuro, que chega a transitar por expectativa veículos elétricos, ficou cristalizado no fim da década de 1970.

Mato Grosso do Sul foi criado em 1977, mas com a efetiva constituição, a partir da instalação dos poderes, em 1979. Portanto, marco temporal para que Campo Grande, cidade com atuais 119 anos, fosse alçada à Capital do Estado.

“Recebemos (da União) recursos para habitação, infraestrutura e, por isso, já começamos a crescer com a vocação da mobilidade urbana. Campo Grande foi muito bem estruturada, uma Capital como poucas. Tivemos os próprios projetos de lei de ocupação do solo”, afirma a historiadora Maria Madalena Dib Mereb Greco, do Instituto Histórico e Geográfico de MS.

Como a viagem a Cuiabá, então Capital do Mato Grosso uno, exigia muito tempo, Campo Grande acabou com a marca do espírito de autonomia na tomada de decisões e recebeu injeção de recursos com o surgimento de Mato Grosso do Sul.

No fim de 1978, a cidade foi incluída no projeto Cura (Comunidade Urbana de Recuperação), com intervenções para ligações de água e rede de esgoto. Outro diferencial foi o plano Lerner, com o planejamento para mobilidade em uma cidade perto de 300 mil habitantes. O projeto foi base para o SIT (Sistema Integrado de Transporte), que começou a ser implantado em 1991.

"Campo Grande foi muito bem estruturada, uma Capital como poucas", afirma a historiadora Maria Madalena Dib. (Foto: Marina Pacheco)
"Campo Grande foi muito bem estruturada, uma Capital como poucas", afirma a historiadora Maria Madalena Dib. (Foto: Marina Pacheco)

No fim da década de 70, o sistema planejado por Lerner, que foi prefeito de Curitiba, era moderno. Segundo o arquiteto e urbanista Fayez José Rizk, o profissional foi contratado pelo então prefeito Marcelo Miranda e deu uma visão de futuro para Campo Grande.

“O Lerner veio e fez um plano. Como o calçadão da Barão fazendo a ligação com a rodoviária. As pessoas sairiam dos ônibus e caminhariam num Centro limpo, organizado e com árvores para proteger do sol. Aí derrubaram o calçadão, tiraram a rodoviária e as pessoas não têm como andar. Um ônibus passando a cada 30 segundo na Rui Barbosa é uma loucura, sinal que o sistema acabou”, afirma Fayez.

Ele explica que o conceito de mobilidade urbana não é restrito a transporte e começa pelo pedestre. “Na verdade, o ônibus é a parte mais visível da mobilidade urbana, mas está totalmente defasado. O nosso plano de transporte de ônibus é baseado no projeto de 77, quando a cidade tinha pouco mais de 200 mil habitantes”, diz o arquiteto.

Em 1991, Fayez foi consultor do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), projeto que de tempos em tempos volta às propostas da prefeitura para transporte urbano, mas acaba sepultado por falta de verba ou passageiros. A ideia era quatro linhas, fazendo a ligação com as saídas da cidade. Para ele, o modelo do VLT é o mais indicado por ser elétrico e ter maior capacidade para passageiros.

Embarque em terminal do sistema do transporte coletivo urbano. (Foto: Marina Peralta)
Embarque em terminal do sistema do transporte coletivo urbano. (Foto: Marina Peralta)

“A cidade tem um grande problema: o tamanho da malha urbana. A malha urbana é maior do que a de Porto Alegre, Salvador e Fortaleza, por exemplo. É um problema gravíssimo, grande demais e vazia demais. Em cidades menores, o transporte é mais barato”, afirma o especialista, que detalha que a Capital tem 4,2 mil quilômetros de ruas.

Para saber onde as pessoas moram, quais caminhos percorrem e em quais horários, é preciso fazer pesquisa de origem e destino. “Não adianta fazer uma ciclovia na Afonso Pena se ninguém usa. Precisa saber qual a demanda. Ah, em Amsterdã todo mundo anda de bicicleta. Mas Amsterdã não tem a metade de Campo Grande e nem esse sol”.

Corredores e abrigos – A prefeitura de Campo Grande, por meio da Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito), informa que investe na implantação dos corredores para o transporte coletivo urbano, na reforma dos terminais de transbordo e na implantação de 500 novos abrigos de ônibus.

Também existem estudos da Agetran, Planurb (Agência Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano) e Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano) para verificar a viabilidade na integração de outros modais.

O Consórcio Guaicurus, que atua no transporte coletivo urbano, aponta a redução de passageiros ao longo dos anos e pede R$ 76,5 milhões à prefeitura para indenizar perdas financeiras desde 2012. Já a prefeitura exige novos ônibus na frota.

Prefeitura investe em corredores do transporte coletivo.
Prefeitura investe em corredores do transporte coletivo.
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