Com o "rapa" da prefeitura nas ruas, ambulantes apelam para "telefone sem fio"
Semadur faz fiscalização na 14 de Julho, a pedido da CDL para acabar com venda dos ambulantes
Rondando a 14 de Julho, agentes da Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano) buscam inibir que vendedores ambulantes fiquem pelas calçadas, a pedido da CDL (Câmara de Dirigente Lojistas). Segundo os próprios ambulantes, uma ação que já é feita no fins ano e esperada por eles.
Nesta quarta-feira (2) foi os segundo dia de fiscalização para tentar barrar a venda desleal, pela não pagamento de impostos dos vendedores de rua, como colou o presidente da CDL, Adelaido Vila, na última terça-feira (1º).
Para fugir dos “home”, como dizem os próprios ambulantes, uma espécie de "telefone sem fio" é usada entre eles. Agentes se aproximam e um já sai falando para o outro, que leva para mais um.
Nair, de 62 anos, só quis dizer o primeiro nome por segurança. Ela é ambulante há 30 anos e viu que na vida de vendedora de rua conseguiria ganhar bem mais do que o emprego de antes. Hoje, de “antena à máscara”, ela redobra a atenção para quem está chegando perto.
“Já perdi muita mercadoria”, conta Nair relembrando o tempo de serviço e destacando que é o seu ganha pão, já que o emprego é difícil para a idade dela.
O encontro de Nair com a reportagem foi na esquina da Rua 14 de Julho com Marechal Cândido Rondon, mas não é só ali que ela fica. A rua, a céu aberto, é loja para ela e os colegas que saem quando os agentes chegam e voltam quando eles vão embora.
Felipe de 42 anos era pedreiro, bem no verbo do passado mesmo, porque com a pandemia teve de se virar e viu na rua uma forma de garantir o sustento da esposa e dos dois filhos. Hoje, ele vende máscaras e também se esconde.
“Agora tão pedindo pra tirar a mercadoria, desde às 7h a gente fica escondido”, conta Felipe sobre a quarta-feira (2) difícil para as vendas .
Com dinheiro que consegue com a venda das máscaras, Felipe compra cesta básica, paga aluguel. “A gente vai levando. Pobre é assim, não pode desistir”, conclui.

Com o mesmo contingente familiar, Amilton, de 39 anos, também tira sustento dos tapetes que vende. Só que os filhos e a esposa dão duro na mesma função. Todos eles são ambulantes e já conhecem bem a vida de “vamos, eles [homens] estão chegando”.
“Todo ano isso. Em todo canto eles. Se não vender, a gente não tem como viver”, complementa Ailton.
A Semadur está fazendo ronda de orientação aos vendedores ambulantes. Como os próprios vendedores confirmaram, ninguém teve a mercadoria confiscada até esta quarta.
Ailton finaliza contando o ‘modus operandi’ de se esquivar da fiscalização. “A gente sai avisando os colegas e um vai avisando para o outro para irem mais para baixo e depois voltamos”, afirma.